(Se quiser, ouça essa música enquanto lê.)
Despedias são sempre iguais, nos arrancam lágrimas, nos fazem querer parar no tempo para que a pessoa que estamos abraçando nunca vá embora. Não acredito que Leona vai embora, minha melhor amiga de infância vai para quilômetros daqui. "Promete que não vai me esquecer?" Pergunta ela pela milésima vez. "Prometo." Digo ainda com lágrimas nos olhos. Leona me abraça. "Amanhã precisamos acordar cedo." Digo a ela. "Tudo bem." Diz ela desanimada. Ela pula a grade da minha sacada e estica o pé até chegar na dela, como todas as noites mas essa é diferente,é a última. Sinto uma lágrima escorrer em meu rosto, Leona acena para mim e entra.
Viro para um lado e para o outro mas não consigo pegar no sono, fecho os olhos e começo a imaginar um futuro ao qual nunca terei com alguém que nunca vi em minha vida. Horas se passam até que finalmente durmo.
"Ariela, toma." Alguém grita jogando para mim uma espada. Eu a pego com facilidade e parto no meio uma sombra que tenta avançar em mim, nunca consigo ver o que é. Algo atinge minha espada e eu a deixo cair, como toda noite é hora de brilhar. Uma energia corre em meu corpo e eu a impulsiono para todas as direções.
Finalmente acordo com o alarme, foi apenas mais um dos meus sonhos malucos de todas as noites. Abro a enorme porta de vidro que da acesso a sacada do meu quarto, olho para a janela de Leona e vejo que as últimas caixas já não estão mais em seu quarto. Após o banho desço para o café, me apresso para poder me despedir da minha melhor e única amiga.
Assim que passo pela porta de casa Leona corre em minha direção. Ela me abraça forte e desaba em lágrimas, não consigo mais me manter firme e acabo chorando também. "Independente de qualquer coisa, nunca perca a fé . Eu sempre acreditei em você." Eu sabia do que ela estava falando, dos meus sonhos e isso me faz sorrir. "Se você tiver algum problema ligue para esse número. " Disse ela olhando em meus olhos enquanto colocava um papel em minha mão. "Como assim problema?" "Você entenderá quando chegar a hora.Mais uma coisa,desconfie de todos, até mesmo de mim se eu voltar" "Você está bem Leona? Aconteceu alguma coisa?" "Tenho que ir." Disse ela me abraçando novamente.
Ver Leona ir embora me fez sentir uma dor indescritível. Corri para meu quarto sem conseguir conter as lágrimas. Chorei até não aguentar mais. "Filha, trouxe seu almoço." Disse mamãe batendo na porta e entrando, logo atrás dela estava papai. Eu os abracei e chorei mais ainda. Só consegui levar a boca duas garfadas, depois de um tempo eles saíram do quarto e eu voltei a chorar. Leona me ligou mais de cinco vezes e também se derramava em lágrimas mas depois de um tempo parou de ligar e ficamos só nas mensagens.
Chat on
Ariela: Quanto tempo falta até chegar na sua nova casa?
Leona: Não sei mas acho que não muito.
Ariela: Já estou com tanta saudade.
Leona: Eu também estou mas você precisa se alimentar direito.
Ariela: Como sabe que não estou me alimentando direito? Minha mãe te disse algo?
Leona: Você sabe que eu te conheço muito bem. Olha, tenho uma péssima notícia.
Ariela: Pior do que você se mudar?
Leona: Acho que sim.
Ariela: Conta, meu coração já está destroçado mesmo.
Leona: Muito dramática.
Ariela: Conta logo!
Leona: E curiosa. Enfim, vou começar a trabalhar aqui então não terei muito tempo para ficar conversando pelo celular. Sei que prometi que não perderíamos o contato mas não vamos perder.
Ariela: Tudo bem. Eu entendo.
Leona: Eu sei que não está tudo bem, me desculpe.
Leona: Ariela?
Leona: Ariela?
Chat off
Apenas fechei os olhos e deixei meus pensamentos vagarem, respirei fundo e aceitei que não terei mais amigos. Tenho tanta dificuldade em criar laços com alguém, acho que não sou suficiente para ser considerada amiga de alguém, nunca sou importante o suficiente, sempre sou deixada de lado. As pessoas só me usam quando precisam, só fingem me considerar quando precisam da minha ajuda. Leona era a única que era verdadeira comigo, que me considerava de verdade e que me tratava como uma irmã.
Consigo ouvir o barulho dos novos vizinhos ao chegarem e se instalarem mas não dou a mínima, apenas viro-me e durmo novamente. Acordo com meu celular vibrando, são onze horas, vejo sete chamadas perdidas e uma enxurrada de mensagens de Leona. Pulo todas como sempre.
Chat on
Leona: Quando me responder me fala como são os vizinhos novos.
Leona: Eu estou com saudades.
Leona: Você está bem?
Ariela: Eu estou bem, só precisava de um tempo sozinha.
Leona: Vou te ligar.
Chat off
"E aí? Já viu os novos vizinhos?" Leona parecia empolgada. "Não e nem estou afim de sair do quarto hoje." "Então quer dizer que hoje você não vai ver as estrelas? Tio August vai ficar decepcionado ao saber que o bebê dele não gosta mais de observar as estrelas." "Idiota." Digo indo para a minha varanda.Olho para o céu antes de observar as estrelas através do telescópio. Ao olhar pela lente do telescópio consigo observar Orion. "Como sempre, as estrelas estão lindas." Digo a Leona, passamos um tempo conversando até que sinto que estou sendo observada. Viro-me para a janela da antiga casa de Leona e vejo um vulto entrar correndo, provavelmente um dos novos vizinhos. "Acho que tem alguém me observando." Sussurro no telefone. "Devem ser os novos vizinhos, você está aí fora falando a uma hora dessas." "Pelo menos bom gosto musical algum deles tem." Digo ao ouvir uma música baixa vindo de lá. Continuo conversando por horas com Leona, sinto alguém me observar as vezes mas ignoro. Por fim volto para o meu quarto e durmo.
Acordo cedo então decido ir a cafeteria do condomínio, logo virando a próxima esquina, para comprar as coisas para o café da manhã. Amava ir lá com Leona pois além de cafeteria ela também é uma livraria. "Eu já encomendei tudo, só precisa ir buscar, se quiser comprar mais alguma coisa não tem problema." Disse mamãe. Dei um beijo nela e no papai. "Amo vocês."
Após alguns passos percebo que alguém me segue, olho de canto de olho e vejo um rapaz, não consigo vê-lo muito bem mas sei que não o conheço. Tento manter a calma mas quando viro a esquina ele vira também. "Por que está me seguindo? Era você quem estava me observando ontem á noite? Nunca o vi aqui." Digo agressivamente ao me virar para ele.
