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Josh's POV

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Você tem uma escolha, ou arrisca tudo que tem, ou não se envolve. Você tem que estar sempre desposto a encobertar, algo ou alguém. E se quiser desistir, bem, espero você não ser muito apegado a sua vida.

A verdade é que por mais que você consiga sair disso, ela vai sempre te perseguir, mesmo  que você suma do mapa.

Quando tudo isso aconteceu, eu ainda era uma criança, eu não sabia o que estava acontecendo, ninguém me dizia nada. E toda aquela vida que me ensinaram a desprezar, não parecia tão distante assim. E quando eu menos esperava, lá estava eu traficando todo tipo de droga.

Não adianta chorar, já era. Eu estou condenado pro resto do tempo que ainda tenho na Terra.  E ainda que eu o encurte, toda a minha família está em jogo. Se eu partir, eles ficam, e a última coisa que eu quero é eles nessa.

Já fazia anos que ninguém me chamava pra nada, e eu achava que finalmente estava livre disso, foi quando me ligaram. Descobriram que eu viajaria para o Reino Unido. Precisavam de um "favor". Na tentativa de não ter que dever mais nada pra ninguém, eu expliquei minhas condições, e eles aceitaram. Tudo que eu precisava era de alguns materiais e estaria tudo certo. Pelo menos achava que estaria.

Quando cheguei em Londres e vi aquela cidade, até me esqueci o quê que havia na minha mala. Em uma noite eu estaria livre daquilo que me prendeu por anos. 

LSD vai, LSD vem, não tinha mais nada, eu estava LIVRE. l.i.b.e.r.d.a.d.e. Liberdade a minha que durou 5 minutos, quando o dono do bar pra quem eu vendi tudo, veio atrás de mim. 

Algum tipo de substância nova, ele explicava, mas não entendia que eu não tinha mais nada com ninguém. Ameaça. Ele achou conveniente me ameaçar com um revólver sem munição. Minha idade não condiz com a minha experiência. Eu ri da ameaça, e tentei ir embora.

"Eles vão gostar de saber que você me rejeitou uma oferta tão generosa"disse,  meu olhar de superioridade vacilou por uma fração de segundo.  Se eles descobrissem, nosso acordo já era, e minha cabeça também. 

Revirei os olhos ainda mantendo minha postura, e um sorriso malicioso brotou no rosto do empresário. Passei o número que eu pretendia colocar fogo hoje. Minha liberdade teria que esperar mais uns dias.

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Esperar mais alguns anos, eu diria.

Mesmo em todo esse tempo que eu me envolvi com tráfico de drogas, acho que nunca passou pela minha cabeça ser preso. 

Nem ser pego desse jeito. Não é a primeira nem segunda vez que eu levo drogas para fora do país, nunca deu errado minha técnica. Não tinha porque ser dessa vez que ia dar.

Em duas semanas que eu estive em Londres, em nenhuma o tempo estava tão feio. Nuvens pretas cobriam toda a Capital. O Big Ben estava embaçado por causa da neblina. Parecia que a qualquer momento o mundo ia cair. E eu ia cair junto dele. Nunca me senti tão vulnerável. 

Parecia que eu estava naqueles programas policiais, em que predem traficantes no aeroporto. A salinha onde eu estava era exatamente igual a desses programas. 

A quantidade de drogas na minha mala era muito pouca. Não sei se isso influencia, mas se influenciar com dinheiro eu devo sair disso. E bem, lá em casa o que não falta é dinheiro.    Depois de meia hora olhando para uma parede branca com armários,  vejo uma cabeleira loira passando pela porta. Estava sozinha, provavelmente a Sofya já tinha embarcado. Ela para na minha frente e me penetra com aqueles olhos azuis, só aquele olhar me doía mais do que qualquer cadeia. Ela parecia me julgar, ir até a minha alma e maltrata-la. Engulo seco quando Joalin chega mais perto. Seus olhos pareciam que iam arrancar os meus a qualquer momento.

"Nem cometer um crime você sabe fazer direito" diz e toda aquela dureza dela evapora. Eu riria se não tivesse tão desesperado. "Como você acha que vai sair daqui?" sua preocupação era notável, tanto no  tom de voz quanto como ela estava se comportando. Andando de um lado para o outro na salinha pequena.

"O nosso dinheiro  tem que servir pra alguma coisa" crio coragem pra fazer algo além de respirar. Joalin balança a cabeça. "Não Josh, nosso pai nunca aceitaria isso, ele é o homem mais justo que eu conheço, e se você cometeu um erro, vai ter que pagar por ele."

Baixo a cabeça, ela tinha razão. Meu pai é justo, e eu cometi um erro. Vários.

Assinto e ela senta na cadeira da minha frente. Levanto meu olhar que vai parar na expressão calma de Joalin. "Você já cheirou?" perrgunta e olha pra mala do meu lado. Solto um riso fraco. "Não" ela fica com olhar preso na mala por um tempo, volta a me olhar e pergunta: "Será que é bom?" 

Jogo a cabeça pra trás e solto uma gargalhada. "Não sei, mas se as pessoas viciam deve ter um motivo " ela dá de ombros e faz como se fosse abrir a mala. Bato na sua mão. "Já basta um dos Beauchamp preso" digo.

A porta se abre bruscamente. Foi quando percebi que nós ficamos todo esse tempo sozinhos, sem um policial, esse povo confia muito nos criminosos. Sai dela três policiais, e um que parecia ter mais poder que os outros, por conta da roupa.

Trouxeram um aparelho, como se o diabo daquele cachorro do olfato de outro mundo não bastasse. Fizeram poucas perguntas, em todas eu fui sincero, e o fato do aparelho ter mostrado que eu não estava drogado, ajudou a acreditarem em mim.

Mas era isso, eu não tinha saída, era daqui para a prisão. Bom era quando eu ainda tinha esperança de ser preso no Canadá. Tão ingênuo.

Desde que eu saí daquela sala não vi mais Joalin. Ela era a pessoa com que eu estava menos preocupado. Afinal ela poderia ir me visitar, mas e meus pais? e a Sofya? Se bem que eu não estava afim de ver a cara de desgosto dos três.

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Confesso que não foi muito inteligente da minha parte gastar minha única ligação com o pessoal pra quem eu traficava no Canadá. Eu já vi eles tirando gente da prisão, porque não me tirariam? É claro, tinha me esquecido do acordo, eu não fazia mais parte daquilo, e eles não podiam fazer nada por mim.

Não me informaram muita coisa. Só quanto tempo vou ficar preso. E pra onde eu vou. Na verdade falaram bastante coisa, mas foi só nessas duas que eu prestei atenção. E nem nessas duas coisas eu prestei muita atenção, porque quando cheguei na cadeia. Vi homem e mulher misturado no mesmo espaço. Devia ter um ponto de interrogação na minha testa, os policiais riram da minha cara.

Eu imaginava que fosse igual a um jogo que eu jogava no auge dos meus 12 anos. Mas não tinha presidiários sentados num banco do lado de fora esperando um martelo brotar do chão. Nem ninguém tentando roubar cartões dos policiais. Na realidade as pessoas pareciam bem conformadas mesmo estando onde estavam. 

E eu não estava tão abalado. Eu não parecia mais preso do que eu já estava. Parecia até melhor agora. Pelo menos nem todo mundo ali dava medo. É claro, para uma prisão de segurança mínima. 

Seria aqui minha vida daqui pra frente. Seria no instituto penal misto de Manchester.

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