A atípica folha de outono

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Se havia uma estação da qual eu gostava era o outono. O aroma úmido que violava meus sentidos quando eu abria a janela do quarto era exuberante. A flora que jazia caída no asfalto molhado depois de uma noite de chuva o decorava com harmonia e naturalidade, sendo propício a artistas e fotógrafos. Ou simples admiradores.

Diziam que o outono era associado à nostalgia, por conta de suas nuances características, mas não tinha certeza se concordava com isso. A parte que me agradava era que as pessoas começavam a almejar o conforto de suas casas, e a aparição de bebidas quentes acompanhadas com cobertores quentes. Já estava aparente que eu não era fanático pela luz solar e o vento no rosto.

Era-me mais aprazível permanecer dentro de casa, ao som das minhas próprias músicas e derretendo-me pela fragrância do café que minha mãe preparava tão bem.

Era sábado.

Uma manhã qualquer de sábado que eu aproveitaria para limpar o quarto. Meu pai retornaria na segunda, confesso que estava ansioso por isso.

Depois de observar a rua pela janela do quarto, a primeira coisa que fiz foi procurar uma toalha e roupas-para-ficar-em-casa. No visor do celular marcavam exatas onze horas quando fechei a porta do banheiro, passando-se dez minutos para que saísse.

Dois dias haviam se passado depois que troquei meu número com Youngjae, e foram dois dias que ele não aparecia na escola ou me dava algum sinal de vida. Confesso que fiquei um pouco decepcionado com isso, porque estava com minhas alegrias altas demais. Foi um alerta para que voltasse à minha zona de conforto e esperasse alguma notícia.

Com a mudança de horário de Mark eu não pude mais vê-lo, e já comprovara que ele não trabalhava aos finais de semana. Isso me estimulava a pensar sobre o que estaria fazendo no momento. Talvez dormindo? Talvez tomando café da manhã? Talvez na dúvida de almoçar? Se bem que de qualquer jeito eu o admiraria da mesma forma.

Quando eu menos esperava meu celular começou a vibrar, e logo pensei que fosse aquele mesmo número que me atormentava ligando para nada dizer, ou ainda, na última esperança, Youngjae, mas era um telefone com local desconhecido.

Quando atendi, tomado pela curiosidade, senti meu universo imóvel por alguns segundos.

Era aquela voz.

A voz de Mark.

— Bom dia... Jackson, certo? — Firmemente ele não estava dormindo como uma de minhas hipóteses, sua fala não transparecia.

Queria ser alguém sensato e lhe responder de uma forma normal, entretanto a verdade se resumiria na ausência de minha voz e na falta do meu chão. Era inacreditável! A pessoa que tanto aguardava um contato há mais de três meses estava simplesmente me dando bom dia! Achei que fosse desmaiar, embora minha vontade fosse correr pela casa inteira.

— Será que cometi algum engano? — Ouvi-o dizer do outro lado da linha e percebi que fiquei tempo demais em silêncio.

— N-não, não cometeu. — Minha voz estava um pouco trêmula. — Só estava... Estou surpreso demais.

— Não esperava uma ligação minha? — Por que eu o senti sorrindo nessa hora? — Youngjae estava me contando um pouco sobre você, achei que valeria a pena arriscar.

Céus, o quão rápido um coração pode bater? Será que deveria me preocupar com o jeito como o meu batia?

— Q-que? — Sua risada atingiu meus ouvidos, logo, não soube se ficava maravilhado por ouvir ou se me alarmava um pouco mais com meu estado.

— Você está tão nervoso assim?

Puta que pariu.

— E-estou bem, estou bem. Hm, bom dia. — Pigarreei, sentando-me na cama, passando minha mão livre pelos cabelos. Deveria me concentrar em não gaguejar. — O que ele disse?

Sweet Cody | markson + 2jaeOnde histórias criam vida. Descubra agora