— Abestado! — Lu grita do banco de trás e dá um tapa na cabeça do Gu com a ponta dos dedos.
— Ah vá toma no seu...
— Eii! Bora para com os elogios e me explica o que tá acontecendo?
— O GPS mostrou um atalho por uma estradinha de terra e eu segui. Daí começou esse temporal e a traseira do carro enganchou em alguma coisa, acho que afundou numa poça de lama — Gu tenta arrancar com carro, mas o carro não anda, é como se algo segurasse com força os pneus traseiros.
— Burro! Onde se viu pega estrada de terra na chuva — Lu resmunga, mas dessa vez a ignoramos.
— E você tem ideia da onde a gente tá? — pergunto tentando dar mais uma olhada pela janela e pelo para-brisa.
— Não exatamente, mas não estamos muito longe da rodovia principal. Amanhã de manhã quando estiver claro e sem chuva, a gente emburra o carro e da meia volta.
— O quê? — Lu aparece entre o vão dos bancos da frente. — Eu não quero dormi aqui, nesse meio do nada, tenho amor a minha vida!
— Tá com medinho, tá? — Gu caçoa. — Se quiser pode desce agora pra empurrar o carro, mas tu vai sozinha.
— Vai se lascar! — ela desiste, voltando para o banco de trás.
— Vamos nos acalmar e seguir o plano do Gu, não tem condições da gente emburra o carro agora, até porque ele pode afunda em outro buraco. Vai dá tudo certo — tento tranquilizar a mim mesmo. — É só pensar que estamos acampando, é até mais seguro que uma barraca. Não vai acontecer nada, não tem porque ter medo.
Nesse mesmo momento, uns clarões brancos seguido de um trovão tenebroso me assuntam, dou um pulo pra esquerda e caio todo desajeitado em cima do Gu.
— Acho que eu não sou a única com medo aqui, não é mesmo? — Lu ri, encolhida no branco de trás.
— Desculpa Gu — digo rindo enquanto me levando de cima dele.
— Acho eu vou dormi nos fundos hoje — passo por entre o vão dos bancos da frente e sento ao lado da Lu, agarrando meu braço ao dela. — Aqui tem lugar pra mais um Gu.
— Obrigado, mas a Lu já dá por duas pessoas.
— Você tá me chamando de gorda? Quer levar um peteleco de novo muleque?
— Ser gorda não seria um problema. O que eu quis dizer é que você é espaçosa. Você já se viu enquanto dorme? Não estou a fim de apanhar, obrigado — ele ri.
— Ai não, é verdade — sussurro rindo.
— Não ri não, porque se não vou manda você dormi lá na frente.
— Duvido! — Zombo do fato dela também está com medo.
Lá fora está um breu total, exceto por um relâmpago ou outro que ilumina o matagal deserto ao redor do carro por alguns segundos, acompanhados de trovões altos. Ficamos conversando, com o radio tocando ao fundo, nos distraindo das historias de terror que nossas mentes insistem em criar diante do cenário atual. Conversar entre nós três é fácil, gostoso como flutuar na piscina em um dia de verão; não demora e o sono vem chegando de fininho, acabando com qualquer resquício de medo.
————————————————————
— — — — — — — — — — — — —
————————————————————
Acordo meio confuso, numa posição torta, com os pés da Lu a centímetro do meu rosto. Empurro seus pés para o lado, a chamo e também aproveito pra dá uma cutucada no Gu.
— Vamos acorda gente que temos muita estrada pela frente — digo bocejando.
O sol brilha intensamente sobre o céu sem nuvens, deixando nenhum vestígio da tempestade de ontem. Sou o primeiro a sair do carro, seguido pelo Gu. Somente agora consigo ver com nitidez que o carro parou numa estrada de terra vermelha, estreita e esburacada, no meio de um matagal alto, digno de filmes de terror.
— Tava certo — escuto a voz do Gu na traseira do carro. Vou até ele e vejo as rodas traseiras do veiculo presas em um buraco coberto por lama.
— Anda Lu, vem aqui ajuda a empurrar o carro — peço, dando duas batidas na janela.
Ela sai se arrastando com dificuldade em deixar abertos os olhos cheios de remela.
— Pra ajuda, seria bom que você acordasse — Gu dá uma chacoalhada no ombro dela.
— Oxe me deixe! — ela afasta a mão dele e esfrega os olhos bocejando. — Bora.
Nos posicionamos atrás do carro, com as mãos espalmadas na lataria, eu na esquerda, Lu na direita e Gu no meio. Ele conta:
— Um, dois, três — e empurramos o carro pra frente com força. As rodas saem do buraco com mais facilidade do que imaginava.
— Pronto agora podemos volta pra rodovia — Gu avisa verificando os pneus.
— Não, espera — Lu pedi, contorcendo as pernas — Preciso fazer xixi, estou apertada.
— Mato é o que não falta — Gu zomba.
— Oxe! Não vou fazer xixi no mato. E se tiver uma cobra ou qualquer outra coisa viva aí? Vou nada.
— Outra solução e fazer nas calças, mas já aviso que você não vai impregna meu carro com o cheiro da sua calça mijada.
— Relaxa Lu, isso é coisa da sua cabeça, não tem nada ai — tento tranquiliza lá.
— Você diz isso porque não tem que agacha pra fazer xixi — ela reclama, caminhando em direção a uma moita mais a frente do carro.
Entro no veiculo com o Gu, que liga o motor e vira o carro para o caminho que viemos, desviando do buraco por cima da grama. Ficamos parados esperando a Lu termina sua contribuição à natureza.
— Espia só — ele me diz olhando a Lu se aproximar pelo retrovisor. Também observo para saber o que ele quer eu veja.
Quando a Lu coloca a mão na maçaneta do carro prestes abrir, Gu acelera parando alguns metros à frente. Não consigo evitar a gargalhada, principalmente quando ela corre atrás do carro xingando a gente. Quando ela se aproximada da porta de novo, ele faz a mesma coisa. Eu estou com pena dela e quero pedir para ele parar, mas a minha crise de risos me impede. Gu também sem se aguentar mais de tanto rir, deixa ela finalmente entra no carro.
— Rá, rá, rá, muito engraçado! — ela diz batendo a porta do carro. — Dois abestados.
— Ah fala serio, se fosse você no volante teria feito a mesma coisa, né? — Gu perguntar recuperando o fôlego.
Lu até que tenta, mas não consegue e também ri.
—————————————————————
— — — — — — — — — — —
—————————————————————
Voltando para a rodovia principal, paramos para abastecer num posto de gasolina e aproveitamos para comprar mais algumas besteiras. Aproveito que o celular está com sinal e enquanto Gu dirige, ligo pra mãinha para dizer que estamos vivos e bem. Depois ligo para o Lucas; é bom poder ouvir a sua voz grave, seu sotaque gostoso. Conversamos por meia hora e nesse tempo é difícil, mas consigo manter segredo sobre a viagem, mesmo assim sinto que ele talvez tenha uma leve desconfiança. Mais tarde, um número desconhecido me liga. Atendo receoso.
— Alô?
A voz do outro lado da linha, responde com um tom de preocupação e um fio de irritação. Enquanto a mulher fala, olho para a Lu no banco de trás.
VOCÊ ESTÁ LENDO
De Recife à Tubarão
Любовные романыFernando mora em Recife PE, ele está namorando o Lucas que mora em Tubarão SC. Os dois se conheceram pela internet e por causa da distância nunca se viram pessoalmente. Até que nas férias, dias antes do aniversário do namorado, Fernando decide surpr...