Descobri o paraíso. Não é nenhuma das promessas que já escutei. É mais simples de alcançar. Não é necessário abrir mão de quem é, deixar de amar quem o coração escolhe, ou seguir doutrinas ancestrais.
O paraíso são três crianças correndo no quintal, brincando com um cachorro com nome de super-herói. É uma mãe passando por cima das suas crenças para abraçar o filho da maneira que ele é. São as estrelas observadas do teto de um carro quebrado no meio de uma estrada deserta. É canta a música da cantora favorita em um karaokê com os amigos. É enxergar que o amor encontra-se ao lado e poder desfrutar dele na praia, em baixo da chuva; à meia luz de um abajur no quarto.
A dádiva de viver é a definição de paraíso.
É preciso morrer para descobrir isso?
Pra desvendar que Ele está segurando sua mão independente do que os outros acreditam?
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A luz me obriga a fechar olhos algumas vezes antes de abri-los por completo. Reconheço mãinha sentada ao lado da cama, ela olha para frente, pensativa.
— Mãinha? — minha voz sai baixa e franca, mas é o suficiente pra ela me ouvir.
— Oh meu filho você acordou — um sorriso enorme cresce no seu rosto. — Graças a Deus e a Virgem Maria.
— Oi Nando — Lu sussurra, sorrindo do outro lado da cama. O Gu está ao lado dela, dois passos atrás, sorrindo com olhos cheios de água. É gratificante os ver mais uma vez.
— Como você tá se sentindo? — Gu pergunta, secando as lágrimas com a mão antes delas terem a chance de escorrer. O rosto dele parece melhor, o olho esquerdo está um pouco avermelhado, mas não se compara a última vez que o vi.
— Um pouco cansado, mas não sinto nenhuma dor por enquanto. Que hospital é esse? — pergunto dando uma olhada no quarto e nos equipamentos a minha volta.
— É um hospital da cidade — mãinha responde. — Quando o Gu me contou o que tinha acontecido, dei um jeito de pegar um avião e vim pra cá.
— Eu apaguei por quanto tempo?
— Você ficou em coma induzido por dez dias — ela responde, emociona. — Só saiu da UTI ontem de tarde. Os médicos disseram que foi um milagre você ter sobrevivido. Não entendo muito disso, mas eles disseram que você chegou aqui com hemorragia interna, uma lesão grave na cabeça e a perna esquerda quebrada, além de hematomas mais leves — só agora percebo os ferros presos na minha perna. — Falando nisso, vou procurar alguém pra te examinar — ela fala, levantando da cadeira.
— Você se lembra do que aconteceu? — Lu pergunta, assim que mãinha sai do quarto.
— Algumas imagens estão confusas, mas ainda me lembro de algumas coisas como o carro colidindo com o caminhão — hesito por um momento e então pergunto. — E o que aconteceu com o Lucas?
— Ele morreu na hora — Gu responde.— O motorista do caminhão se feriu , mas já tá melhor.
Processo a informação e fico desconfortável percebendo que estou aliviado. Ninguém merece morrer de forma tão triste, mas não há como perdoa-lo pelas coisas que fez, independente dos motivos que ele poderia ter. Então fico aliviado na esperança de supera esse capitulo da minha vida e seguir em paz com mais essa chance que me foi concedida.
— Você tá bem? — Gu se certifica.
Respondo abrindo um sorriso:
— Com vocês dois do meu lado eu vou fica.
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De Recife à Tubarão
RomanceFernando mora em Recife PE, ele está namorando o Lucas que mora em Tubarão SC. Os dois se conheceram pela internet e por causa da distância nunca se viram pessoalmente. Até que nas férias, dias antes do aniversário do namorado, Fernando decide surpr...