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Chara

...

— Você é uma esquisita mesmo. Vambora, galera. — aquele filho da puta corre junto com aquela cambada de humanos.

  Não, aquilo nem devia ser considerado um humano. Não por ter feito aquilo comigo e muito mais.

  Levanto-me do chão e saio devagar daquele beco sujo, certificando que eles realmente tinham ido embora. Ainda bem que estavam virando a outra esquina, já que ouvi risadinhas distantes. Como eles podem estar tão contentes com o que fizeram?!

  Começo a caminhar até sentir umas pontadas de dor. Imagino que devo estar com um monte de hematomas pelo meu corpo, isso sem falar da dor que estou sentindo, tanto por dentro quanto por fora... Sabe, às vezes nem sei porque ainda fico reclamando. Eu devia ter me acostumado depois de tudo que já me fizeram.

  Que vida maravilhosa, não?

  Bom, acho que vocês já sabem quem sou. A vilã da história. A garotinha esquisita de olhos vermelhos. Ou até mesmo: "Chara, o demônio que vem quando chamam seu nome." Na minha opinião, é um dos apelidos mais "daoras" que arranjaram pra mim. Heheh...

  Meu nome é Chara Evans. Ou pelo menos costumava ser. Vim de uma família que tem as íris vermelhas, algo considerado amaldiçoado, sendo que na verdade é apenas diferente! Mas claro, sempre aquilo que é 'exótico' tem que ser julgado, sacrificado por palavras ou até mesmo em gestos repugnantes. Acreditem, eu já tentei impedir que coisas ruins envolvessem minha pessoa ou até mesmo os meus pais. Mas nada adiantava, não éramos ouvidos! Já havíamos nos mudado tantas vezes... E nada! NADA MUDAVA!!!

— Oi filha! Como foi na... Escola... — sua voz morria assim que ela se virava  para mim. Ela rapidamente corre em minha direção e me abraça. Eu retribuo o gesto, me esbaldando em mais e mais lágrimas.

  Aquela cena estava ficando cada vez mais comum.

  Eu odiava aqueles olhares de pena da minha mãe, mas era o que lhe restava fazer. Ao menos ela não me julgava, pois era a única – além do meu pai – que realmente entendia o que estávamos passando.

  Toda vez que ela tratava os meus ferimentos, eu olhava seu rosto atentamente: assim como os olhos, seus cabelos lisos e curtos eram idênticos aos meus, mas a velhice a denunciava; as rugas franzidas de frustração em me ver daquele estado eram totalmente visíveis. Ela, cuidando de cada detalhe, corria em direção à gaveta de primeiros socorros para pegar gazes e várias das outras coisas que havíamos em casa. Tudo por precaução. Tudo pra evitar que a gente morresse.

  Ao contrário do meu pai, ela tentava ser amorosa com todos ao seu redor. Nós dois simplesmente não entendíamos o porquê dela agir assim com todo mundo, já que revidávamos qualquer ameaça ou ataque, mas isso até rendeu um lado bom. Devo agradecer aos seres celestiais que havíamos pelo menos um ou dois vizinhos que não nos tratavam mal, pelo contrário: eram extremamente gentis e caridosos, chegava até ser meio irritante. Eles até se ofereciam pra comprar comida às vezes, já que quando saíamos era o próprio julgamento e caos.
 
  Eu amava ficar com meu pai. Seu jeitinho brincalhão sempre me animava; ele era um grande trabalhador, além de um cozinheiro maravilhoso. Ah, ele sempre me apoiava... Claro que, com as circunstâncias, meu pai sempre buscava me proteger de tudo e todos, até que ele finalmente cedeu para aqueles vizinhos, e se tornaram grandes amigos desde então.

  Foi assim que conheci a Lisa, a filha deles. Ela era reservada até pra mim, mas era divertida e a única da minha idade que me tratava bem, então porque não?

— Eu não ligo muito pra eles, se te serve de consolo. — ela diz olhando pro céu. — Claro, são diferentes e tal, mas não vejo sentido em ter medo de alguém por conta dos olhos dela!

Undertale - The Seven Souls [PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora