O cair e a Queda

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Estou caindo há algum tempo, não me lembro quanto pois, em algum momento, parei de contar e passei a apenas esperar a colisão com o chão.

Mesmo no breu, na eternidade que existe em cair, eu me lembro da sensação de se enxergar cores e sentir o calor do sol, e quando fecho os olhos e peço com força sinto o momento exato em que o vento passa por mim e me diz que tudo vai ficar bem. Não fica. Percebo ao retornar ao presente. Ainda estou aqui e ainda estou caindo.

A verdade é que já conheço esse caminho e sei o que me espera lá embaixo, sobre mim a Euforia fica cada vez mais distante enquanto me aproximo do sentimento de Tristeza, é como essa vida funciona. Eu vou vivendo nessa queda constante de Apatia e Intensidade, essa dança de todos os tons, sentindo os prazeres e desprazeres que Algo celestial colocou na minha sina.

Mas, de qualquer jeito, tenho medo do fim. A dor da queda não é nada comparada ao frio que existe lá embaixo e aos dias que passo encolhido em meus pesadelos, o Tempo corre mais devagar e por mais que eu saiba que o ciclo recomeça uma hora, nesses momentos eu simplesmente não sei.

O fim do poço se torna algo diferente quando essa onda deprimente passa, ele volta a ser o começo e eu vejo as cores de um mundo que estava preto é branco, meus pulmões voltam a vida e a respiração que tanto segurava volta a levar oxigênio para o sangue antes parado. Então eu olho lá pra baixo, o caminho que eu sei que vou percorrer novamente assim que escorregar e cair.

Tudo no poço é intenso e doloroso: a solidão, o cair que demora dias e dias, as companhias que aparecem em formas ilusórias, os meus risos que vão, ecoam e voltam, mas é o estado de felicidade que presencio quando estou em cima dele que é o pior, já que eu sempre sei que é só uma parte pequena da jornada e que eu nunca vou conseguir desfrutar dela por completo.

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