A carroça passou pela estrada de pedra balançando minimamente, as gêmeas estavam sentadas olhando para a paisagem enquanto Sayori sentava ao lado de Jacques, que conduzia a carroça, o caminho em frente era apenas rua de pedra cercada de árvores, o sol não conseguia penetrar por completo pelas copas, dando uma atmosfera mais fria para a floresta.Sayori olhou para o caminho em frente e ao longe o sol brilhava forte, indicando o final da trilha arborizada.-Já estamos chegando, lá vocês vão conseguir trocar de roupas, imagino que a armadura não seja muito confortável.Jacques parecia muito feliz, e quanto mais perto do final da trilha mais animado ele ficava.-A armadura não é desconfortável, mas é muito quente... eu preciso de um banho também. -Que tipo de roupa você gosta de vestir?Sayori olhou para Jacques, em seus olhos ela não via nada, como sempre, mas seu tom de voz sugeriu que tinha alguma coisa planejada.-Algo que me permita mover facilmente, e um colete.Jacques pareceu resoluto.a carroça chegou no final da trilha, e a luz do sol cegou Sayori por um momento, quando seus olhos se acostumaram finalmente, viu que diante dela havia um portão de ferro enorme interrompendo a entrada para o interior de um terreno imenso, e mais adiante reinava uma mansão digna da realeza, o terreno tinha quase um quilômetro em todas as dimensões, e a mansão parecia desnecessariamente grande, Jacques fez um movimento com os braços, e os portões se abriram sozinhos, o cavalo seguiu para dentro do terreno.As gêmeas subitamente apareceram entre Sayori e Jacques, boquiabertas com a vista da mansão.As duas soltaram um som de espanto.-Essa é a sua casa?- Ambas perguntaram em uníssono.-É, vocês estão olhando para o resultado de muitos anos de trabalho, é uma das poucas coisas de que realmente me orgulho.-Esse lugar é... grande demais.Entre os surtos de espanto e admiração, Sayori conseguiu emitir algumas palavras, as gêmeas voltaram para a traseira da carroça, para olhar o terreno.-Eu comprei a mansão na época em que eu era mercenário, nós éramos cinco e acredite em mim, não era grande o bastante.-Um mercenário dono de uma mansão tão grande?-Nós éramos muito bons, uma vez fomos contratados por um rei.- Disse Jacques, e pela primeira vez, Sayori percebeu um tom de pesar em sua voz.-Quanto tempo atrás?- Ela perguntou.Jacques demorou para responder.-Muito tempo.A carroça demorou cerca de três minutos até chegar na porta da frente, havia uma calçada de pedras desenhando um círculo logo em frente a porta, e nos lugares onde a calçada não passava, um jardim de flores era cultivado, Jacques parou o cavalo e desceu seguido rapidamente pelas gêmeas, que foram diretamente para as flores, Sayori desceu por último, e seguiu Jacques até a porta de entrada.Quando a porta foi aberta a vista de Sayori foi imediatamente roubada pelo lustre no teto, que brilhava conforme a luz do sol passava pelos inúmeros cristais que compunham sua estrutura, o salão de entrada era um quadrado enorme, com portas em cada um dos quatro lados, uma delas ficava embaixo de um par de escadas atapetadas que levavam até o segundo andar, haviam várias janelas no teto, e as portas embaixo da escada eram feitas de vidro e levavam até um jardim interior, cercado pela própria mansão.-Seja bem vinda!A voz de Jacques ecoou pela mansão como em uma caverna.-É... mais vazio do que eu imaginava...-De fato...- Jacques ficou em silêncio por um momento -Shi e Jin, onde estão?-Estão aqui.Sayori imediatamente trocou a orientação do seu corpo e girou, pronta para o combate, olhando para a pessoa que entrou na conversa.Uma empregada, de cabelos loiros, vestido preto enfeitado, sapatilhas, e de longe a mulher mais linda que Sayori já havia visto, estava acompanhando as gêmeas pela porta da frente, as gêmeas completamente ignoraram a presença de Sayori e continuaram em seu comportamento estupefato, enquanto a empregada perdeu toda a cor do rosto.-P-perdão, eu...- Sayori ficou vermelha, e deu dois passos para trás.-Estas são os mais novos membros da família, a partir de hoje são minhas filhas- Disse Jacques para a empregada -Não se importe com o comportamento defensivo, elas passaram por muita coisa antes de chegar aqui.-S-sim, eu entendo.- Gaguejou a empregada.-Por favor, leve as duas para tomar um banho, e depois leve-as até o quarto de Sherri.-Sim senhor.- A empregada fez uma reverência, depois foi até as gêmeas, que estavam correndo ao redor da sala, Shi corria na frente enquanto Jin dava o seu melhor, a empregada parou Shi e disse alguma coisa, estavam longe demais para Sayori ouvir o que foi, depois as três subiram as escadas, deixando para trás a sala de entrada, Sayori e Jacques.-Essa Sherri, foi mercenária como você?-Foi, mas não por escolha dela.- Jacques olhou para Sayori -Tem uma coisa que eu esqueci de te perguntar.-O que?-As duas, Shi e Jin, qual a sua relação com elas? Eu sei que agora vocês tecnicamente são irmãs, mas antes.Sayori ficou quieta por um momento, não sabia se realmente devia responder, ainda não estava confortável com a situação, mas cedeu depois de mais alguns momentos, imaginou que se dissesse alguma coisa, poderia descobrir algo sobre Jacques.-Elas não eram nada meu até o dia em que as conheci, cinco anos atrás, elas nasceram escravas.Jacques pareceu realmente surpreso.-Entendi...-Sério?- Sayori olhou para Jacques com uma sobrancelha levantada.Quando olhou nos olhos dele, viu pela primeira vez uma emoção, era como a de um companheiro, que podia perceber certa familiaridade com o que sentia.-Conheceu a mãe delas?-Não, parece que morreu durante o parto, o pai ninguém sabe quem é- Sayori desviou o olhar - Por que o interesse súbito?-Seria muito indelicado perguntar para elas logo depois de conhecê-las.-Nisso você tem razão.Jacques deu uma risada sem graça.-Enfim, não importa mais... agora que a gente já está aqui.-Disse Sayori, em um tom de voz um pouco mais baixo.Houveram alguns momentos de silêncio, até Jacques dizer.-Escuta, eu não posso prometer pra vocês que a partir daqui o passado vai... sumir... por que não vai, você vai se lembrar do que perdeu todos os dias, você não vai esquecer, eu sei porque eu nunca esqueço.Sayori olhou para Jacques com olhos surpresos, e Jacques continuou.-Mas eu posso prometer, e disso você tenha certeza, que a partir daqui nada vai acontecer, vocês vão poder viver a vida de vocês sem preocupação nenhuma, eu vou fazer com que isso seja verdade.Sayori ficou sem resposta diante da demonstração de Jacques, e honestamente não sabia o que pensar, pois cada palavra que disse sobre o passado Sayori já sabia, este fato já assombrava seus sonhos desde muito tempo atrás, porém, algo que criou certa curiosidade, foi que Jacques falou sobre isso como se também tivesse passado por algo igual.-Você não precisava ter me lembrado disso...- Sayori olhou Jacques nos olhos -... Porque não importa mais, eu não fui forte o suficiente para impedir que a minha família fosse capturada, eu não consegui impedir que nos separassem, e a partir daquele momento eu sabia que nunca mais ia vê-los, mas a alternativa era a morte, e eu não queria... Foi aí que eu encontrei as duas, e quando elas mais precisaram eu consegui salvá-las...- Sayori inspirou e expirou lentamente, depois continuou -... Quando você me diz que promete nos dar uma boa vida, apenas prometa para mim que vai dar para Shi e para Jin o melhor que você consegue, porque elas são tudo o que me resta.Jacques não demorou nem um momento para responder.-Eu prometo.- Disse ele, com um sorriso amigável.-Eu espero que você esteja falando sério...Sayori olhou para as escadas que levavam até o segundo andar.-Venha comigo, vou mostrar a mansão para você.Disse Jacques, enquanto seguindo até essa mesma escada. Sayori andou até ele, e os dois seguiram acima.O segundo andar era composto em sua maioria de quartos, pelo menos a parte logo a frente da escada, havia um grande salão vazio do mesmo tamanho que a a sala de entrada assim que a escada acabava, e dois corredores juntos da parede seguiam para as duas direções, curiosamente, mesmo ainda sendo bastante luxuoso, o lugar não era tão decorado quanto Sayori imaginava ser a mansão de um nobre, as paredes eram brancas e o teto era colorido, e este era o fim, haviam duas janelas, uma olhava para o jardim interior que a mansão rodeava, e a outra olhava para o terreno, Sayori podia ver a floresta dali, parecia-se com um oceano verde, a vista era interrompida, porém, por uma planície ao longe, seguida da muralha de uma cidade enorme.-Aquela é Extimus, vários aventureiros partem dali até o Continente do Sul, tecnicamente é uma cidade sem fronteiras, onde pessoas de todas as nações podem entrar e sair quando quiserem, mas tem uma nação de monstros para o norte, e eles não são aceitos aqui.- Disse Jacques enquanto olhava para o mesmo lado que Sayori.-Você trouxe a gente da capital de Dorcan até a borda do continente central em um dia?!- Disse Sayori em resposta, com uma voz confusa.-Quando se viaja tanto quanto eu, esse tipo de coisa é fácil, principalmente com magia envolvida.- Jacques sorriu como um vilão - Sozinho eu consigo viajar daqui até a capital de Narfikh em uma semana.-Isso não é normal, mesmo que você consiga não dormir por uma semana os cavalos ainda precisam descansar! Ou você está me dizendo que mata dois cavalos sempre que viaja?-Obviamente não, cavalos são caros.- Jacques apontou para a carroça que usou para chegar até ali -Mas os meus são mágicos.Jacques estalou os dedos, e o cavalo preso na carroça começou a soltar fumaça negra, sua forma começou a se tornar sombra lentamente, até que finalmente evaporou, deixando para trás apenas as rédeas.-Eu sou especialista em conjurar coisas com magia, isso deixa minha profissão quase trivial.Sayori estava boquiaberta, e não conseguia emitir nenhum som.-Mas enfim, venha por aqui que ainda têm muita coisa que eu quero te mostrar.Jacques começou a caminhar em direção do corredor que seguia para a esquerda da escada, Sayori demorou alguns momentos até começar a segui-lo, apertando um pouco o passo para chegar mais perto.Os quartos naquele corredor eram espaçados em cinco metros para cada lado, e as portas ficavam no meio de cada.-A maioria dos quartos aqui em cima são das empregadas, mas os quartos que eram dos meus antigos companheiros estão vazios, você vai poder escolher um.- Jacques deu de ombros -Ou não, são tantos quartos que você vai poder escolher um por dia se quiser.-Por que eu faria isso?-É uma das liberdades que se tem quando sua casa é tão grande.-Mas por que as empregadas precisam de quartos? Se você é tão bom em conjurar coisas, não podia conjurar as empregadas também?-Quando se trata de conjurar coisas vivas, dar livre arbítrio para elas é impossível, eu precisaria controlar cada uma delas pessoalmente, Não vale a pena.Sayori assentiu com a cabeça, para mostrar que entendeu.Os dois continuaram seguindo pelo corredor por cerca de um minuto, até chegarem onde o mesmo dobrava para a esquerda, mas do contrário ao anterior, este era vazio, e continha apenas uma porta no centro do longo caminho.-Esta é a sala de que mais me orgulho nessa casa.Jacques começou a andar mais rápido, e Sayori o acompanhou, quando os dois chegaram na porta, Jacques disse.-Prepare-se, respire fundo...- Jacques então rapidamente abriu a porta e gentilmente empurrou Sayori para dentro.Sayori não prestou atenção na sala em que entrou até estar propriamente dentro, e assim que percebeu mãos uma vez ficou impressionada.-... E seja bem vinda à biblioteca! Tenho aqui os melhores livros que encontrei junto dos meus companheiros nas minhas viagens, desde literatura até manuais de combate e livros de magia, aqui tem tudo o que você poderia imaginar.A biblioteca era, de fato, imensa, olhando para os dois lados Sayori pôde perceber que aquele corredor não tinha nenhuma sala porque esta era a única sala dali, prateleiras e mais prateleiras cheias de livros se estendiam até o teto, que era maior do que a própria mansão, enchendo completamente o lugar, entre as próprias prateleiras e suportes para subir até o último livro haviam algumas empregadas, que monitoravam o lugar.-A propósito, está vendo aquela escada ali? Que vai para baixo?- Jaques apontou para frente.-Sim, o que tem?-Ela leva para o primeiro andar da biblioteca.Sayori riu.-É uma coleção e tanto...-Você só viu o tamanho, eu garanto que qualquer coisa que queira aprender, vai conseguir aqui, e pode até pedir para uma das empregadas te ajudar, as daqui eu contratei só para manter esse lugar catalogado e limpo.Sayori deu alguns passos para frente, olhando a primeira prateleira de livros, haviam alguns romances ali, juntos de mistério, aventura, e muitos outros gêneros mais acima.Sayori pôde sentir alguns olhos fixando-se nela, e rapidamente virou-se para o lugar de onde mais suspeitava.No suporte da prateleira logo atrás dela, cerca de dois metros do chão, Sayori fixou os olhos em uma empregada, que derrubou três livros que tinha nas mãos e bateu as costas na prateleira.-Jacques, o que tem de errado com suas empregadas?Jacques olhou para a garota paralisada no suporte.-A sua armadura está manchada de sangue.-Jacques sussurrou para Sayori.Sayori rapidamente olhou para si mesma, e percebeu que no peitoral de couro que roubou haviam, além das marcas de uma espada que não conseguiu penetrar a armadura, gotículas vermelhas de algo que espirrou nela, e logo abaixo do seu pescoço estava pintado de vermelho.Sayori ficou assustada.-O-o que eu faço?-Eu devia ter te avisado antes, me desculpa, eu vou te mostrar o banho e você vai poder trocar a armadura.Jacques agarrou o braço de Sayori e trouxe-a para fora da biblioteca, uma vez fora ele a soltou, depois, os dois seguiram pelo corredor até mais uma vez chegarem onde o mesmo dobrava para a esquerda, e ali haviam três portas, o espaço entre as três era relativamente largo, e haviam apenas três em quase o mesmo tamanho de corredor de antes.-Estes são os banheiros, você pode entrar em qualquer um, não tem nenhum outro homem neste lugar além de mim.-Certo...- Sayori lembrou-se naquele momento. -Shi e Jin, elas devem estar em um desses, não é?Jacques abriu a boca para responder, mas a porta do meio abriu, e de lá as duas gêmeas saíram, Shi usava um pequeno calção e uma camisa de seda branca, e Jin um vestido, meias finas e sapatilhas negras, logo em seguida, a empregada saiu da sala, acompanhando as duas, que estavam razoávelmente mais calmas.quando as duas viram Sayori e Jacques, imediatamente correram até eles.-Este lugar é enorme! Vão demorar semanas até descobrir tudo o que tem aqui!- Disseram as duas assim que chegaram.-Eu sinceramente acho que é grande demais.- Disse Sayori em resposta.-Você vai entrar?- Perguntou Shi.-Vou, minhas roupas estão manchadas e eu tenho certeza que algumas das empregadas me acham uma assassina.-Você também tem um rosto muito assustador, qualquer pessoa sã iria ser apreensiva em interagir com você.- Disse Jin, com naturalidade.Sayori ficou calada, não sabia se devia pensar nisso como um insulto ou um elogio, ou seja lá qual foi o intuito do comentário.Jacques percebeu o silêncio, e rapidamente entrou na lacuna.-Enfim, Sayori, você pode entrar em qualquer um quando estiver preparada, uma empregada vai trazer roupas novas para você.- Jacques olhou para as gêmeas. -E vocês, o que querem fazer?-O que você acha que devíamos?- perguntaram as duas.-Eu não sei o que deviam, mas sei que eu quero mostrar a mansão para vocês.-Então vamos!- Gritou Shi, cada vez mais animada.Jacques consentiu com a cabeça, depois virou-se para a empregada que estava acompanhando as gêmeas.-Lívia, fique com Sayori e ajude-a no que ela precisar, eu vou ficar com as duas, e vou pedir para que outra traga roupas para ela.A empregada fez uma reverência e disse.-Certamente.Dito isso, Jacques acompanhou as gêmeas pelos corredores da mansão, e deixou Sayori para trás junto de Lívia, a empregada.Quando os três já estavam longe, Sayori perguntou.-O que você acha dele? Você que já está aqui a mais tempo do que eu.Sayori olhou fundo nos olhos de Lívia, esperando pela resposta.Lívia, surpresa pela pergunta, e sem dúvida desconfortácel diante do olhar de Sayori, precisou pensar um pouco.-Mestre Jacques é uma boa pessoa, todas as empregadas que ele contratou são de situações difíceis, eu fugi de casa, e teria que morar na rua se ele não tivesse me encontrado.Sayori não encontrou nenhum sinal de mentira, ou Lívia possuía forma perfeita, ou estava dizendo a verdade.-A senhorita não vai entrar no banho?-Ah... perdão, eu me distraí um pouco.Sayori precisou se esforçar para dizer a si mesma que tudo ficaria bem, e prosseguiu com o seu problema imediato, ao abrir a porta do banheiro, se deparou com uma pequena câmara fechada, como uma caixa, havia um pano logo depois da porta, e através desse pano ficava o lugar que Sayori só imaginava ser onde quem usava o banho tirava as roupas antes de entrar, a sala era razoávelmente larga, e podia acomodar muitas pessoas, haviam muitas prateleiras com cestas de madeira onde Sayori imaginava ser o lugar em que guardavam as roupas para trocar depois, escolheu a mais longe da porta de entrada.Teve certa dificuldade para tirar o peitoral, e quando o fez, percebeu ser porque internamente o sangramento estava muito pior e fez a armadura grudar na sua pele, ao perceber o corpo de Sayori, Lívia ficou extremamente preocupada.-O que aconteceu com você?Sayori olhou para seu próprio corpo novamente.-Eu nunca parei para olhar mas... ficou realmente horrível...As cicatrizes que antes só podiam ser vistas em seus braços e pernas cobriam todo o seu corpo, e nas costas eram muito piores, os únicos lugares livres eram seu pés, mãos e cabeça, e combinadas com o sangue, contavam uma história de tragédia para quem não a conhecia.-Quem fez isso?-Eu não sei, era um soldado entre vários.-Como?- Lívia parecia confusa.-Eu fui escrava, capturada durante a guerra entre Shilvan e Dorcan... bom, eu nunca tive "dono", mas um dia quase me ganharam em um leilão, que acabou porque eu tentei fugir.Lívia ficou surpresa, e por um momento envergonhada.-Me perdoe... não era minha intenção te lembrar disso...-Não se preocupe, já passou, e você não ia precisar me lembrar.Sayori terminou de se despir e guardou as roupas rasgadas na cesta, depois, seguiu até a porta que separava as salas, ao abrir foi imediatamente bombardeada por vapor quente e pelo cheiro de sabão, dentro havia uma banheira muito larga, o chão era feito de azulejos brancos, e nas paredes haviam aparelhos que Sayori nunca havia visto na vida, eram cabos de ferro conectados nas paredes, com uma espécie de bico nas pontas, em frente a todas as máquinas estranhas haviam bancos e baldes, e haviam também buracos lineares no chão, da porta até a banheira, tampados com uma grade de metal em sua totalidade.-Essa casa é ridícula...-Disse Sayori, boquiaberta mais uma vez.Depois de alguns momentos de silêncio, a voz de Lívia chamou a atenção de Sayori.-Demorou um tempo até eu me acostumar.Disse enquanto entrava, também despida.-Primeiro você começa aqui.Lívia agarrou o braço direito de Sayori e levou-a até o aparelho na parede.-Você senta aqui enquanto eu pego o sabão.Assim Sayori fez, seguindo as instruções de Lívia, demoraram alguns momentos até ela voltar segurando uma cesta com esponjas, sabão e um líquido azul em um frasco de vidro.-Eu conheço o sabão, mas na garrafa, o que tem?-Mestre Jacques trouxe isso de Narfikh, Chama-se Shampoo, ou pelo menos ele chama, é como sabão mas específicamente para os cabelos.-Eu nunca ouvi falar disso.-Foi uma descoberta recente, a nação de monstros tem ótimos alquimistas.Lívia tirou da cesta uma pedra transparente, e em seguida pegou a ponta do cabo na parede, o bico de ferro tinha uma lacuna como o buraco de uma joia, e Lívia inseriu a pedra na lacuna, imediatamente água começou a sair da ponta do bico, com uma pressão razoavelmente forte também, ela encheu o balde que havia do lado, e depois tirou a pedra do bico.-Isso aqui é um aparelho mágico, o cabo na parede está ligado a um tanque no porão da mansão, e a pedra é um cristal de mana, quando coloco o cristal na ponta, ele puxa a água de lá com a magia do cristal, e aqui está!-Incrível...- Sayori não conseguia sair de um estado completamente estupefato desde que entrou pela porta da frente.Lívia esfregou uma esponja com o pedaço de sabão que trouxe e molhou no balde.-Prefere lavar a si mesma ou quer que eu faça?-Eu me viro, muito obrigada.Lívia riu, depois sentou-se em frente ao aparelho logo ao lado de Sayori e fez o mesmo processo, a cesta colocou entre as duas.-Hoje foi definitivamente o dia mais estranho da minha vida...- Disse Sayori enquanto esfregava o sangue em suas costelas com a esponja.A água vermelha começou a fluir até o chão, correndo até o dreno.-Mestre Jacques é uma pessoa muito única.Houveram alguns momentos de silêncio, em que as duas apenas continuaram o que estavam fazendo.-Lívia, não é?- Sayori perguntou.-Exatamente.-Eu espero que você não esteja sendo legal comigo por que Jacques pediu.-Não se preocupe quanto a isso, durante o banho as empregadas estão fora de serviço.-Sério?Lívia assentiu com a cabeça.-Todas nós trabalhamos do nascer do sol até a metade da tarde, com intervalos ao meio dia e durante o banho, que pode ser a qualquer momento, e durante todos os momentos nós podemos usar todas as coisas da mansão-Parece um ótimo emprego... com base nos nobres que eu via na minha cidade natal, eu achava que empregadas de mansões gigantes e castelos não viviam muito bem, digo... trabalho 24 horas e condições não tão melhores do que a maioria dos outros cidadães normais.-Eu também acho, e provavelmente é verdade, mas imagino ser porque a maioria dos nobres compra escravos para trabalhar em suas casas.-Faz sentido.Lívia colocou a esponja que tinha em mãos no chão e agarrou o balde d'água, depois esvaziou o conteúdo de dentro dele em si mesma.-O... que você está fazendo?-Enxaguando, depois que você lavou o corpo, você entra na banheira.Sayori pareceu ter entendido, e rapidamente fez o mesmo.Lívia caminhou até a banheira gigantesca, e lentamente entrou na água com cor esverdeada, estava quente e tinha um cheiro perfumado, Sayori a seguiu e entrou logo em seguida, as duas foram até o fundo da sala, e se encostaram na parede sentadas na água, que cobria até o pescoço de Lívia, e a metade do peito de Sayori.-E agora?Lívia encostou a cabeça na parede.-agora a gente aproveita...Sayori pareceu confusa, mas com o passar dos momentos começou a se sentir mais relaxada com o banho quente, no final, encontrou-se olhando para cima escutando o som de sua respiração, ficou assim por cerca de cinco minutos.-Quantos anos você tem?A voz de Lívia acertou Sayori como um martelo, e a fez dar um pulo.-Perdão! Eu pensei que estivesse entediada.Sayori sorriu.-Eu tenho dezoito.-Sério?Lívia olhou para a parte de Sayori que estava fora da água e comparou com a sua própria.-Eu tenho vinte e cinco...-Você é alta, não se preocupe, eu é que sou a mutante aqui.Sayori disse em um tom reconfortante e acariciou o topo da cabeça de Lívia como a um gato.passaram alguns momentos de silêncio enquanto Sayori mantinha a mão sobre Lívia, e quando tirou, Lívia ficou levemente vermelha.-Você... é muito boa em fazer os outros se sentirem seguros...Sayori hesitou.Lívia olhou para o rosto de Sayori, e percebeu uma expressão inesperada, Sayori tinha uma expressão aflita, e desviou o olhar para a distância, por um momento perdida na própria mente.-Eu disse algo de errado?-Não... Eu só... Me lembrei de uma história triste.Lívia assentiu com a cabeça para mostrar que havia entendido.Houve silêncio depois disso, Lívia sabia que tinha pisado em uma mina, e não fazia ideia do que dizer agora.Sayori foi quem quebrou o silêncio.-Você disse que fugiu de casa... onde você morava? Se me permite perguntar?Lívia demorou um pouco para responder, não era exatamente o assunto de que mais gostava de falar sobre.-Eu sou a primeira filha de uma família nobre, lá na capital do reino... ou pelo menos era.- Lívia abraçou os joelhos e apoiou o queixo sobre eles - Quando meu pai morreu, eu deveria ser a sucessora da família, sendo a primeira filha, mas... eu não estava pronta... e a pressão meio que me fez... tomar uma decisão.-Sua família faz o que?-Ela é dona de uma extensão de terra perto da capital, e gerencia um vilarejo para o rei.-Todas as empregadas daqui são filhas de nobres?-Não, só eu e mais umas três... as outras vem das mais diversas situações, algumas eram moradoras de rua, outras aspirantes a aventureiras, outras foram sequestradas por monstros, é por ai.Sayori pareceu um pouco confusa.-Todas elas foram pessoas que Jacques salvou?-Das histórias que eu ouvi das empregadas, mestre Jacques simplesmente estava no lugar certo na hora certa, mas acontece demais para ser só coincidência, eu imagino que ele saiba onde esse tipo de coisa acontece e só... faz um esforço para inclui-los nas rotas que toma.Sayori ficou calada por um momento.-Faz sentido... Ele disse que foi mercenário.Lívia concordou.Sayori começou a ficar vermelha naquele momento.-Eu acho melhor nós sairmos.- Recomendou Lívia enquanto levantava.-Eu ia dizer que estava começando a me sentir meio tonta.- Respondeu Sayori enquanto acompanhava Lívia.-Não dá pra ficar aqui por tempo demais ou você pode desmaiar por causa do calor.-Mas não está tão quente assim.-De começo não, mas a água não esfria, quanto mais tempo você ficar aqui mais quente seu corpo fica, até o ponto de exaustão.-Entendi...Quando as duas voltaram para a antessala do banho, Sayori percebeu que a armadura que havia tirado não estava mais ali, e em seu lugar haviam roupas novas, uma calça de algodão preta perfeitamente do seu tamanho, uma camisa de seda branca que cabia como uma segunda pele, um colete de couro que acabava um pouco depois do meio das suas costas, e botas.Depois de vestir as roupas, Sayori levantou a gola do colete e deu um puxão rápido, como se arrumasse uma carta em mãos, depois deu um sorriso pequeno, que Lívia achou um tanto ameaçador.-Foi exatamente o que eu pedi.
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Experiência e Sobrevivência
FantasyNo coração de um grande deserto, há uma cidade comercial onde muitas pessoas encontram o sucesso e o lucro, Almal é uma cidade governada por dinheiro, e a noite, o negócio mais lucrativo é o comércio de escravos. Em um dia de leilão, em uma casa ond...