"O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permite" eu estava lá quando essa frase foi escrita e até hoje não sei se posso concordar com ela, e se aqueles que permitem o mal apenas estão evitando algo pior? Pensamentos como esses trouxeram a guerra para os seres que deveriam manter a ordem, estamos perdidos.
Artur Domingues Carvalho, um homem bastante humilde e simples que morava na periferia da sua cidade ganhando a vida vendendo seus quadros, sua origem era bastante pobre e sua história repleta de tragédias. Ele tinha cerca de 33 anos quando tudo aconteceu, desde aquele dia, sua maneira de ver o mundo nunca mais foi a mesma.
...
Acordo em mais um dia com o barulho repetitivo do meu celular, me despertando e sem muita enrolação me levanto para ir até o banheiro da minha casa, infelizmente eu tinha mais um dia de trabalho pela frente.
- É melhor se apressar, a arte não se vende sozinha - Falo para mim mesmo ao me olhar no espelho, dando uma leve risada logo em seguida.
Com toda a pressa do mundo me arrumo e saio do apartamento após tomar um ótimo café da manhã, pego os meus quadros que ficavam no corredor que dava na saída, apesar de não agradar os vizinhos, o dono daquele imóvel havia permitido fazer isso quando o acordo de aluguel foi selado. Com meus quadros em mãos, me dirijo ao centro da cidade onde armava a minha simples exposição de arte urbana, o caminho era bastante vazio pelo horário, o céu estava claro demais para ser considerado noite e escuro demais para ser considerado dia, era o momento perfeito para sair de casa.
- Artur! Quando vai parar de vender esses retratos do diabo e arrumar um emprego de verdade?
Sigo na direção da voz e vejo um jovem de mais ou menos 17 anos, tinha as roupas bem maltrapilha e alguns dentes faltando ao abrir seu sorriso maldoso. Apesar da ofensa, apenas sorrio de volta reconhecendo Richard, um vendedor ambulante que eu mantinha uma boa amizade.
- Farei isso no dia em que seu café da manhã não seja resto do restaurante da esquina.
Richard dá uma risada bem alta seguido de um sinal ofensivo com seu dedo médio direito e assim seguimos juntos para o centro botando o papo em dia e comentando sobre as pessoas que também trabalhavam na tua como nós dois. Mesmo sendo uma piada, eu não podia negar a aparência estranha dos meus quadros, eu tentava sempre retratar os sentimentos que me rodeavam que sempre eram negativos, minhas pinturas retratam rostos pálidos que demonstravam uma constante agonia, como se vissem algo que os deixariam horrorizados para sempre. Eles me enxergavam por dentro.
Como todos os dias armo um lençol no chão e ali deixava expostas as minhas pinturas, ninguém comprava e isso nunca me chateou já que eram quadros realmente horríveis de se comprar, mas naquele dia um homem parou para observar os meus quadros. Eu não tive nem reação de falar preços ou sequer tentar explicar os quadros, a imagem de ter a minha arte como algo que poderia ser apreciado por alguém me deixava extasiado, ao ponto de me fazer esquecer das dívidas que me assolavam.
- São horríveis. - ele disse olhando para mim.
- É que eu...
- Vou levar todos.
Ele me corta antes que eu conseguisse sequer me explicar, na mesma hora olho em volta em busca de câmeras ou algo do tipo, tinha de ser uma pegadinha, mas a pior parte foi quando ele continuou falando.
- Perdeu sua mãe e sua irmã naquele dia, Artur. Você entende muito bem o nosso lado, junte-se a mim e a minha causa.
A sensação era como a de levar um soco no estômago, eu tentava esquecer todos os dias sobre aquele acidente maldito onde a vida de pessoas importantes para mim haviam sido ceifadas, um fator que poderia ser considerado por muitos quase que impossível de se acontecer. Meu corpo se enche de fúria e me levanto imediatamente fechando minha mão em um punho, tudo estava confuso e meus olhos borrados pelas lágrimas de raiva. Sinto minha mão se chocar com algo rígido e em seguida meu pulso virar causando uma dor inimaginável, eu definitivamente não sabia socar o rosto de alguém.
- Quem é você? - grito ainda com os olhos fechados pela dor no meu pulso e ao abrir para encarar aquele homem, não havia mais ninguém. Apenas os sussurros de quem passava perto, comentando sobre um louco que gritou e socou o nada.
Eu jurava que havia alguém ali, olho para o lado e vejo alguns outros vendedores ambulantes me olhando confuso e peço para que um deles tomasse conta das minhas coisas enquanto eu ia resolver algo importante. Nisso saio correndo pelas ruas em busca do homem, sua imagem de executivo engravatado de cabelo cheio de gel não saia da minha cabeça, corro para todos os lados possíveis naqueles becos e vielas para achar o tal, e sem nenhum sucesso apenas sento em um banco publico para recuperar o meu fôlego.
- Eu não estou ficando louco, tenho certeza que ele estava lá.
Dou alguns leves tapinhas no meu rosto usando minhas duas mãos, como se tentasse acordar, mas, mesmo assim, a imagem continuava bem clara na minha mente. Resolvo para de procurar aquele homem, com toda certeza não o acharia de maneira alguma, então ao me levantar para voltar as vendas, me deparo com um livro extremamente velho e grosso jogado bem diante dos meus pés. Me agacho para pegar o livro e olhando mais de perto pude repara que era um diário.
- Talvez eu possa devolver ao dono se souber o nome.
Sem hesitar pego o livro do chão e ao levantar percebo que tudo ao meu redor estava parado. Os carros que trafegam pelo local agora não tinham pressa, as pessoas que andavam pela rua pareciam brincar de estátua, até mesmo os pombos haviam parado de comer suas migalhas. Toda essa estranha calmaria é interrompida por um clarão vindo diretamente do céu, seres com roupões brancos e asas douradas se aproximavam, pareciam muito com a imagem que geralmente era usada para retratar anjos. Haviam vários deles muitos diferentes um dos outros, pareciam ter pelo menos 10 pessoas de cada país existente no mundo.
Eu estava com medo e sem saber o que fazer, talvez alguém estivesse me drogado enquanto eu estava distraído, eu não entendia nada e mais anjos da minha alucinação chegavam me rodeando, até que toda a avenida principal estava lotada por eles. Um deles veio andando em meio a multidão, se aproximando ainda mais de mim, ficando a cerca de 4 passos de distância. Era um homem alto com mais ou menos 2 metros de altura, possuía cabelos longos e negros, seu rosto era bastante delicado e em seus olhos havia um pano que era usado como venda.
- Ei, o que significa isso? É alguma pegadinha? Não estou achando graça alguma.
Sem falar nada o homem apenas abriu os braços e gritou.
- Todos saúdem o Guardião do Fogo!
Após o homem dizer isso, todos se ajoelharam diante de mim. Nisso o som de um trem invade o ambiente, eu enfim desperto de verdade, tudo aquilo era apenas um sonho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Guardiões - A corrupção
Ficción GeneralSeres responsáveis em manter o equilíbrio dentro do universo entram em conflito, inciando uma imensa disputa para defender suas ideologias. O diário então escolheu aquele que é responsável por dar fim a todos os conflitos e de uma vez por todas decl...