Felizmente, peguei no sono, parando as lembranças por aí. E, infelizmente, elas continuaram quando acordei e me dei conta de que a mensagem da noite anterior não havia sido um sonho.
Cheguei em PA desolado e me sentindo completamente perdido. Eu queria uma mudança de vida. Só não sabia com que forças e de que modo fazer isso.
Meu pai pediu pizza e refrigerante para minha chegada – ele sabia que isso era melhor que um jantar de boas-vindas – Estava completamente feliz com minha presença, parecia até minha mãe de tanto que falava. Veríamos meus avós no dia seguinte, aquele seria um momento para pai e filho renovarem uma ligação.
– Qual é o problema? – ele perguntou, percebendo meu desânimo – Se não queria vir, bastava me dizer.
— Não é isso. Achei boa a decisão de morar com você. Só que... – parei, temendo revelar mais do que devia.
— Anda, pode contar. Parece que você precisa de uma conversa.
Até hoje, não tenho certeza se ele usou alguma artimanha altamente eficaz ou se eu simplesmente não aguentava mais guardar todo aquele fardo só pra mim. Lhe contei toda a história de minhas tentativas frustradas em conquistar a Ju, e de precisar abrir mão dela após descobrir os sentimentos do Távio.
Ele ouviu tudo atentamente e esperou que eu concluísse para dar sua opinião sobre meu relato de amor infeliz.
— Acredito que você fez o certo, Miguel. Digo, contar seus sentimentos também era uma alternativa, mas o que esteve em jogo era importante e você tem todo o direito de não querer correr o risco de causar mais estragos.
Ele tinha razão. Eu era possuidor desse direito. Minhas decisões foram tomadas com base em meu desejo de evitar o fim de amizades depois do tremendo constrangimento que eu passaria. Quem vai julgar meus motivos que só visavam o bem maior?
Até aí, ninguém o poderia fazer. Mas, confesso que, atualmente, é possível que eu receba algumas críticas pelo que fiz posteriormente.
No começo, troquei umas palavras rasas com Júlia, sempre evitando o assunto de nossa despedida. É provável que ela tenha notado, tanto que foi Gustavo quem deu a notícia do início do namoro ainda em março. Fato que se deu graças a meu serviço de cupido dias antes de me mudar.
Tentei superar e ficar feliz por eles, mas cada postagem nas redes sociais era uma alfinetada em meu coração. Como não sofrer desse jeito? Agora é a parte em que os conhecedores de meus relatos podem querer condenar minhas atitudes...
Desse jeito, estar em outro estado do Brasil parecia não surtir muito efeito, foi pensando nisso que exclui da lista telefônica, e de outros aplicativos, o contato de meus amigos e ignorei algumas mensagens para que percebessem que eu realmente queria distância.
No fim de maio, nós não nos falávamos mais.
Fiz uma visita de 4 dias à minha mãe, em julho. Talvez eu pudesse demorar um pouco mais, porém, eu precisava da desculpa ''Foi uma viajem rápida. Na próxima passo na sua casa'' caso, pessoas que eu não queria ver, viessem com cobranças.
Claro que a dona Laura estranhou eu não ir ver meus amigos e seus pais que considerava como tios, mas achou por bem aproveitar minha companhia e não estragar nosso tempo com conversas indesejadas.
Em 2020 eu comecei meu curso técnico de fotógrafo, pois decidi que era essa a profissão que realmente gostava e, foi lá que conheci Lílian, a primeira pessoa com quem me apeguei de verdade em minha nova cidade. Nós tínhamos a fotografia em comum e estávamos aprimorando este ofício juntos. Fazíamos os trabalhos quase sempre na companhia um do outro e em pouco tempo nos tornamos grandes amigos. Não demorou pro meu pai aponta-la como 'Uma garota bonita, com bom gosto artístico e boa educação', mas a última coisa que eu queria era ter que me preocupar com o amor outra vez. Cedo ou tarde teria que enfrenta-lo, mas não fazia mal apenas viver um período de paz focado em minha carreira profissional.
Desde o dia que vim para o Rio Grande do Sul, peguei meus pais conversando por telefone algumas vezes. Eles não se falavam com frequência, mas agora tinham um bom motivo: eu! Sabendo disso, em dezembro de 2021, convidei minha mãe para passar os feriados de fim de ano comigo. Óbvio que ela relutou e disse que não seria adequado, alegou que meu pai não apoiaria a ideia. Entretanto, eu já havia tocado no assunto com ele que afirmou não haver problema nisso e que entendia que seria bom pra mim estar em família – secretamente, eu gosto de imaginar que ainda existe a possibilidade de uma reconciliação entre eles, que ultimamente, apesar da distância, dão a impressão de se darem muito bem!
Aproveitamos o natal para comemorar a conclusão de meu curso. Fizemos um jantar especial com meus avós paternos, e uns amigos, incluindo Lil.
Estávamos ao redor da mesa, durante a ceia e não foi nada estranho juntar aqueles dois que não se viam há tanto tempo. A conversa corria bem até que minha querida Laura disse ''Seus amigos mandaram lembrança. Você sabe, o Gustavo, a Manu, a Júlia... Disseram que sentem sua falta''. Tudo bem, não é grande coisa, mas meu desconforto ao ouvir isso era palpável. Claro que sentiam minha falta! Eu era o idiota que os estava ignorando a mais de um ano. Achei que me odiavam a essa altura. Meu pai olhou-me surpreso ao ouvir o nome Júlia, se perguntando se era mesmo quem achava ser. Lílian me fitou curiosa percebendo a tensão e desejando saber porque nunca falei com ela sobre estas pessoas.
Vovó Isaura interrompeu a cena do meu fim – dramático, eu sei – nos chamando para a sala, pois estava ansiosa para o amigo-oculto – típico da época.
Mais tarde, depois que as visitas foram embora, eu estava organizando a louça suja na pia para lavar no dia seguinte quando mamãe chegou se encostando no balcão de mármore.
— Acho que falei algo que não devia algumas horas atrás, não foi? Por que você não me explica melhor o que aconteceu.
— Relaxa, não foi nada.
— Hum... Algumas coisas mudaram em Belo Horizonte nos últimos tempos, a...
— Minha vida agora é aqui. – Esclareci, antes de ouvir mais alguma coisa – De lá, só o que me importa saber é você – completei indo para meu quarto me sentindo frustrado por saber o quanto meu passado ainda me afetava.
Alguns meses depois comecei a gostar de minha nova melhor amiga de uma forma diferente – ou talvez eu só estivesse confundindo as coisas – em uma de nossas saídas quase nos beijamos, o que foi incrivelmente constrangedor pois me afastei – nada discretamente – em claro desconforto. Percebi que não era o que queria.
O que eu estava esperando para seguir em frente? Aos 21 eu jurava que estaria em um relacionamento sério com alguém que amasse com a minha vida, mas, naquele momento, não senti que Lil fosse essa pessoa.
Para minha surpresa e alegria, isso não afetou em nada nossa amizade. Atualmente, ela tem um namorado dos sonhos – essa história é engraçada, ela me fez ser amigo do tal Ricardo para avaliar se seu caráter era de alguém que realmente valesse a pena. Não contem a ele, mas, como os mais velhos costumam dizer, é uma pessoa de ouro – e eu consegui um ótimo trabalho como fotógrafo em uma agência de eventos conhecida em todo o estado.
Resumindo, eu consegui recomeçar e conquistar uma boa vida. Só um louco pra escolher correr o perigo de voltar à velhos e conhecidos sentimentos confusos!
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Esse capítulo foi bem maior, né?
Em compensação, o próximo vai ser BEM pequeno.
Em Laços Divergentes, eu procurava manter um padrão de tamanho dos capítulos, mas quando se tratam de contos, eu não me importo muito.
Espero que tenham gostado e que tenham entendido um pouco mais de tudo que aconteceu nesses anos..
. P.S. Esse capítulo foi um flashback. Apenas o primeiro parágrafo realmente se passou em 11 de fevereiro de 2024..
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Deixem as opiniões e estrelinhas😍😍🌟🌟
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[05-06-20]
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Um Mar De Chances
Short StoryPLÁGIO É CRIME!!! . Miguel está morando com seu pai e tendo a nova vida que tanto julgou necessário anos atrás. Aparentemente, está tudo bem até que, em uma noite qualquer, ele recebe uma mensagem de texto que passa a tirar sua paz pelos dias seguin...