Queime sua frustração!

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Dante acordou com uma dor de cabeça fora do comum, apesar de ter adormecido como pedra, não teve uma noite tão boa assim.

A principio, sonhou com as rochas que mudavam de forma naquela ilha inóspita e selvagem, sonhou com lapides que ali estavam, tempestades de raios e o pior, sonhou com Alice banhada em sangue gritando seu nome. Mesmo assim ele não acordou, logo depois veio outro sonho, tão lúcido quanto qualquer coisa.

Nesse sonho, estava sendo perseguido por algo num bosque, também havia um homem com uma criança no colo, aparentemente ela conseguiu fujir atravessando um riacho, mas era difícil entender o que acontecera com o homem. Tudo foi ficando nebuloso e escuro, para logo depois contemplar dois olhos extremamente esverdeados.

Quanto mais ele tentava entender o que viria depois, mais sua cabeça latejava. Então ele parou de tentar, sucumbindo à ideia de que aquilo fora apenas mais um de seus sonhos loucos e aleatórios.

Levantou do sofá encardido e se dirigiu lentamente à cozinha/sala/quarto, a verdade é que ele morava em um cubículo mobiliado com moveis velhos, caindo aos pedaços e mofados. Dava para contar nos dedos quanta coisa ali tinha.

Dante preparou seu café enquanto encarava o único raio de sol que invadia aquele cômodo, que transpassava por uma pequena janela.

– Hoje o dia está muito lindo. – sussurrou Dante enquanto olhava a vista pela janela, nada muito estarrecedor se não as centenas de prédios velhos das mesmas cores e um pouco do céu limpo.

Tomou uma xícara de café e logo depois pegou o celular, pensava em dar uma caminhada no parque, talvez subir no prédio mais alto e ali ficar por um bom tempo vagando em seus próprios devaneios.

Enquanto pensava em como sua vida era uma merda, medíocre como a de um verme, Dante pegou o celular, onde viu dezenas de ligações perdidas de Alice, ele ainda não estava pronto para falar com ela, precisava espairecer a mente antes de qualquer coisa. Então ele visualizou uma das mensagens da amiga e a leu baixinho:

– Ligarei para você quando estiver no trabalho, não ouse recusar minha ligação... trabalho... O que? Trabalho? – Dante repentinamente acordou, lembrando que ainda era sexta e precisaria estar, nesse exato momento, chegando no escritório de contabilidade. – Mas que merda...

Chegando no escritório, mal arrumado e com cara de mendigo bêbado, Dante se dirigiu diretamente à sua mesa sem olhar para ninguém ali, mesmo sabendo que metade do escritório o encarava, inclusive seu patrão. Na mesa, ele já se depara com uma pilha de folhas.

Não havia passado nem mesmo dez minutos e Dante contemplou, para a sua desgraça, uma nova pilha de folhas cair sobre sua mesa, nunca foi fácil pra ele se acostumar a trabalhar num escritório. Verificar folha por folha de documentos contábeis e contratos. Ele odiava o gerente, assim como qualquer um naquela sala, mas aquele sentimento era recíproco.

– O''Neill, está atrasado, de novo, e como sempre você não entregou o relatório da semana passada, aliás, nem mesmo o da semana retrasada. – Seu chefe falou descarregando mais uma pilha sobre a mesa de Dante.

– Com todo respeito, Sr. Morgan, mas o senhor pediu pra que eu revisasse o meu trabalho e o de mais três funcionários...

– Tô pouco me lixando pra isso, quando você entrou aqui, afirmou categoricamente que conseguiria fazer o trabalho.

– Nas últimas semanas eu revisei duas vezes mais contratos do que qualquer um aqui nessa sala, senhor! – Dante afirmou fitando nos olhos pequenos do seu chefe.

– Direi apenas uma vez, e espero que você me entenda, quero todos esses documentos na minha mesa hoje no final do expediente.

– Mas isso é impossível! – disse Dante indignado.

Saga Nômade Vl.1: CriaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora