Capítulo 2

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Delilah Lamont

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Delilah Lamont

 A sensação de estar em casa era indescritível. Fui recebida pela minha irmã, cunhado e pelo meu sobrinho Ian, que era a coisinha mais linda do mundo, e que gritou um "Dinhã", e correu para me abraçar. A sala estava decorada com balões, e uma faixa imensa que dizia "Bem-Vinda a casa Delilah", consegui ver também uma mesa cheia dos meus pratos e salgadinhos favoritos, coisa da Dona Alice com certeza.

- Dinhã, fui eu que pendurei o cartaz. O Pai levantou-me como se fosse um super-heroi. Gostaste, Dinhã? – Perguntou com uma expectativa que me aqueceu o coração.
Abaixei até estar ao nível dos seus olhos.

- A Dinhã amou, meu principe. – Disse, enchendo – o de beijos.
A seguir, virei – me para a minha irmã, que já tinha os olhos cheios de lágrimas. Quando a abracei, senti-me finalmente em casa. Durante muito tempo, a minha irmã foi tudo para mim, a minha única amiga, a primeira pessoa que acreditou que eu podia brilhar, a única pessoa que me via de verdade. A dor de saber que a tinha desiludido era imensa.
- Estou aqui sempre. Não me voltes a por de lado, Terrorzinho – disse ela visivelmente emocionada.

Terrorzinho era o meu apelido de infância. Dado com muito "carinho" e denota-se a ironia por um tio muito do chato, digamos que desde pequena eu tinha um feitio todo especial. Quando era criança, eu gostava de brincadeiras que os outros consideravam muito pouco apropriadas, bonecas era um grande nem pensar, a não ser que fosse para jogar ao D. Frankenstain com elas, fazia umas operações maneiríssimas com elas. Eu gostava de escalar as arvores, de brincar na terra, de jogar a bola e dançar na chuva. Tudo atividades, que me rendiam um belo par de machucados, quase semanalmente. Quando cresci, o apelido ficou, porque eu não tinha papas na língua, era daquelas que falava tudo o que pensava, e agia mais por impulso do que gostaria de admitir, o que me rendiam umas belas confusões. Como, disse na altura a minha irmã era minha única amiga, antes da fama, antes de começar a perder a pessoa que eu era. É engraçado, como quando estamos mal acabamos por afastar as pessoas que mais amamos, eu não conseguia estar perto da minha irmã porque doía demais, doía olhar para ela e ver tudo o que eu queria ser.
Afastei esses pensamentos, agora não era altura de pensar no passado. Hoje era o dia para esquecer todos os problemas, e apenas aproveitar a minha família.

- Bem, agora vamos parar com Lamechices, que esta comida esta com um ar delicioso

A noite passou-se agradavelmente, ninguém tocou no assunto da minha reabilitação, a conversa seguir o rumo das novidades. Como o fato de a minha mãe se ter pegado com a vizinha, D. Amélia, a maior coscuvilheira do nosso bairro. Ela fugiu de explicar o motivo, e eu sabia muito bem porque, conhecendo a língua viperina da D.Amelia, apostava que ela tinha-me insultado, provavelmente chamado drogada ou alcoólica. Só havia duas coisas que conseguiam tirar a minha mãe do sério, alguma descarada tentar flertar com o meu pai, ou alguém se meter comigo e com a minha irmã. Já, o meu pai tinha começado o curso de cozinha, que vinha adiado aos anos, este sempre tinha sido o seu maior sonho, mas o papai era um pouco como eu, muito inseguro, mas ele disse-me que se inspirou na minha coragem para seguir também o seu sonho. Engoli em seco com essa afirmação, se ele soubesse que na verdade, eu estava totalmente aterrorizada. Por outro lado, o meu sobrinho, tinha novidades do coração, falou com muito entusiamo do fato de ter começado a namorar com uma coleguinha da escola, o nome dela era Martinha, e segundo ele, ela tinha os olhos mais lindos do mundinho inteiro e dividia com ele o pedaço de brigadeiro. Sorri docemente com o seu relato, lembrei de ter a idade dele, e de desejar com todo o coração que as pessoas pudessem gostar de mim como eu verdadeiramente era, mas aparentemente alguns sonhos não estão ao alcance de todos. 

 
As horas passaram-se assim, enquanto amenidades eram jogadas fora, e quando finalmente cheguei ao meu quarto, suspirei cansada. Sentei-me a frente da penteadeira, e encarei o meu reflexo no espelho. Para alguns, era um gesto automático, normal, para mim, durante muito tempo, era um dos piores momentos do meu dia. Nunca gostei do que via no espelho, não gostava quando era adolescente e me via acima do peso, mas quando emagreci também não gostei. Havia sempre alguma coisa que não estava bem, ora o cabelo, ora os seus olhos, ora o seu corpo. Perdi a conta, a quantidade de vezes que alterei o meu cabelo, cumprido, curto, pintado, com madeixas, com extensões. Usei todos os tipos de lentes com cor para os olhos, apenas para ser diferente, mas nada me agradava. Fiz todos, os tipos de dieta, consultei diversas nutricionistas, mas nunca me satisfazia com o resultado. Quando fui para a reabilitação, um dos exercícios que fazia era a técnica do espelho, a Letícia colocou um espelho a minha frente e pediu-me para de descrever de forma mais imparcial possível, como se estivesse a falar de outra pessoa. Dizer em voz alta, todos os pensamentos que sempre me rondavam a cabeça, provocou-me uma sensação horrível, ainda mais porque eu não consegui descrever um único aspeto positivo em mim. Quando a Letícia, me pediu para tentar elencar uma caraterística positiva, eu simplesmente travei, estava tão habituada, a pensar apenas no mau, que não conseguia sequer responder a uma simples pergunta. Agora olhando para o espelho, não sentia a mesma sensação que tinha alguns meses atrás, olhou para o seu reflexo vendo os meus cabelos castanhos emoldurando o meu rosto e caindo sobre os ombros, e os olhos castanhos em tom azeitona, que nas palavras do "Tozé" era uma fonte de mistérios, e dei um pequeno sorriso. "Pequenos Passos, Delilah, pequenos passos".

Deitei-me na cama, extremamente cansada e lembrei-me de ligar o telemóvel, queria enviar uma mensagem ao Tozé e a Guga, a dizer que tudo tinha corrido bem na volta para casa. Mas antes, o meu telemóvel apitou, com uma mensagem "Não penses que me vais lixar a vida, agora que voltaste, sua vaca", "Devias ter mofado naquela clínica para sempre". Nem precisava de olhar para o remetente para saber de quem se tratava, Jéssica, a minha prima. Depois de tudo, o que ela tinha feito, de tudo que ela tinha lhe causado, como é que ela se atrevia? Engoli uma serie insultos que estavam presos na ponta da língua, e a vontade de jogar o telemóvel contra a parede, ir a casa dela e puxa-la pelos cabelos e arranca-los um por um, até não sobrar nada para contar a história ... Não, eu não era mais aquela pessoa, "Não sejas impulsiva, Delilah, Respira. Um passo de cada vez lembra-te".   

Subitamente, todo o sono que senti tinha ido embora, estava frustrada comigo mesma por deixar ainda me afetar por quem não valia a pena, liguei a televisão em um canal aleatório. Estava a dar um talk show, mais precisamente o talk show do Paulo Matoso, um programa de televisão que curiosamente eu já tinha participado muitas vezes, como convidada especial. Mas hoje, o convidado especial era outro Samuel Caldwell, o destruidor de sonhos. Samuel Caldwell, era um grande nome a nível musical, tinha lançado imensos sucessos, era conhecido por lançar talentos, assim como por destruir sonhos com os seus comentários inoportunos, rudes e mordazes. Tinha 40 anos, apesar de não parecer, talvez fosse verdade o que diziam, que o mau feitio era a nova fonte de elixir, vaso ruim não quebra, porque a única coisa que denunciava a sua idade, eram alguns fios brancos, nos seus cabelos pretos e algumas pequenas rugas no canto dos seus olhos. 
Enquanto o Paulo Matoso o entrevistava acerca de um novo projeto, as minhas pálpebras começaram a fechar e o meu último pensamento antes de fechar os olhos, foi o quão curioso era que ele fosse conhecido como o destruidor dos sonhos, quando esta noite foi a voz dele que me faria cair num sono profundo. 

Being a Star - Quando o inesperado aconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora