Modo avião

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É amanhã, meu primeiro dia de trabalho depois do acidente, o primeiro dia no qual saio de casa depois de dois anos

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É amanhã, meu primeiro dia de trabalho depois do acidente, o primeiro dia no qual saio de casa depois de dois anos. Em todo esse tempo eu havia ficado trancafiado em meu quarto, se tivesse que ir ao médico, ele que vinha até mim, se precisasse de qualquer coisa, de alguma forma elas teriam que vir até mim. O medo toma conta de meu corpo, como será que está o mundo lá fora após todo esse tempo? Dois anos sem redes sociais, sem celular, sem acesso ao mundo externo, eu queria desaparecer. E o que fiz nesses dois anos, não foi só me lamentar não, também me dediquei a diversos estudos, fiz aulas de piano, reli todos os livros de direito, joguei diversos jogos no Play Station, li milhares de livros, até me aventurei a aprender a cozinhar. E amanhã, como diz meu pai, finalmente, irei sair do casulo, confesso que estou morrendo de medo, não sei como vou criar laços novamente com o pessoal da firma, sem contar que meu melhor amigo trabalha lá, — bom, nem sei se posso chamá-lo assim mais — e Leya, não sei como será nosso encontro, espero nem vê-la.

Resolvo tomar um banho e fazer a barba, aproveito e corto um pouco o cabelo também, estava enorme, como eu não saia de casa mesmo, havia adotado o estilo dos homens da caverna, cabelo e barba por fazer. Mas agora não adianta mais, meu pai já tinha me intimado, sem contar que preciso estar aceitável para minha volta. Quanto termino de fazer a barba e cortar o cabelo, nem me reconheço, estou bonito, tinha esquecido o quanto era bonito, nesse tempo todo eu queria esquecer quem eu tinha sido, tudo que havia vivido e acabei abandonando a mim mesmo.

Resolvo jantar fora do quarto hoje, junto de meu pai, quando desço as escadas de mármore de minha casa percebo que meu pai está ao telefone e tento ler o que diz.

— E quando ela chega? — pergunta e percebo que está feliz, pois sorri ao falar — mandarei alguém para buscá-la no aeroporto, fornecerei a melhor estádia, quero que se sinta em casa.

Desço mais alguns degraus para observar direito seus lábios, não estava conseguindo entender o que falava, mas acho que ele percebeu minha presença e desliga o telefone.

— Filho, como você está bonito — ele fala — está animado para amanhã?

— Com quem falava ao telefone? — gesticulo e percebo sua expressão mudar.

— Com uma velha amiga — seus lábios se movimentam tão rápido que quase não consigo lê-los.

Velha amiga? Será que é aquela tal de Anna Carter?

Prefiro não insistir no assunto, não quero que briguemos logo agora que vou voltar a trabalhar com ele. Mas que estou curioso, eu estou.

Embarco em meu voo e começo a procurar meu assento, fui acomodada na primeira classe, legal, o banco até inclina e tem balinhas

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Embarco em meu voo e começo a procurar meu assento, fui acomodada na primeira classe, legal, o banco até inclina e tem balinhas. Sento e começo a procurar meus fones de ouvidos e minha máscara de dormir da Hermione. Escuto todos os avisos, principalmente o de colocar o cinto e o celular no modo avião que são repetidos duas vezes. Aproveito e tomo um remédio de enjoo, só Deus sabe o quanto passo mal em viagens, coloco os fones de ouvido e escolho uma playlist intitulada Nova York. Resolvo entrar na galeria para observar as fotos que tirei e meu coração fica apertado, vou sentir muitas saudades de todos. Fecho os olhos ao som de John Mayer e acabo pegando no sono. Acordo com um senhor me cutucando, minha cabeça estava deitada em seu ombro e percebo que há algum tipo de líquido gosmento em seu casaco, acho que esse líquido é seu, Anna. Minha nossa, por quanto tempo eu dormi? Olho no relógio e somente três horas haviam se passado. Esboço um pedido de desculpas para ele, que me olha torto.

Alguns minutos depois da situação constrangedora a comissária de bordo passa com um carrinho oferecendo alguns petiscos e bebidas, oba, comida de graça.

— Eu quero uma coca por favor e essas bolachinhas — digo com um sorriso, o senhor ao meu lado fica irritado, se levanta e vai ao banheiro. Pelo menos assim vou poder comer à vontade sem ninguém me avaliando.

Estou começando a ficar ansiosa, parece que as horas não passam, estávamos somente a cinco horas voando. Começo a imaginar como será quando eu chegar, como será que é a firma? Será que vou me acostumar? Milhares de perguntas invadem minha mente e começo a ficar agitada. Deve ter sido a coca. Logo em seguida outra comissária aparece, oferecendo café, claro que eu aceito, só deveria ter lembrado da coca que bebi antes, pois fiquei super despertada. E agora, o que vou fazer para matar o tempo? Pego meu celular e começo a jogar Candy Crush, fico irritada pois não consigo passar da fase 450, quando observo o senhor ao meu lado que também estava jogando, na fase 600, seu olhar para mim é de satisfação, claramente está tentando se vingar de mim.

Decido levantar para ir ao banheiro, acho que a coca e o café resolveram fazer efeito em meu estômago. Fica um pouco difícil de passar quando o senhor que está ao meu lado finge que nada está acontecendo e não me dá espaço.

— Finalmente — falo sozinha comigo ao consegui sair de meu assento.

Vou em direção ao banheiro que fica no final do avião, quando tropeço em alguma coisa e me espatifo no chão. Não é possível, alguém está de brincadeira com a minha cara, deve ser o santo do meu colega de assento.

Quando volto para meu lugar, percebo que ele havia dormido, resolvo então assistir um filme na pequena tela que estava em minha frente. O filme em questão é lindo e trágico ao mesmo tempo, uma maluca que usa meias amarelas e pretas resolve cuidar de um homem que está em uma cadeira de rodas. Que final triste, estou aos prantos quando o filme acaba e fico pensando o quão egoísta ele foi em fazer aqui, não vou julgar, cada um sabe a dor que carrega dentro de si. Olho mais uma vez para o relógio, quase 9 horas de viagem, está quase.

Lembro da caixa que meu pai e meu irmão haviam me entregado, estava tão eufórica que esqueci completamente dela. Começo a desembrulhar o laço vermelho e quando termino de abri-la por completo um sorriso invade meu rosto, lá dentro tinha uma caneca escrito que eu era a melhor "Teacher" do mundo com uma foto minha junto de meus alunos. Esse foi o melhor presente que eu ganhei em toda a minha vida. Abraço a caneca e imagino que estou abraçando todos eles.

Nem imaginava o quanto minha vida mudaria a partir dessa decisão.

Nem imaginava o quanto minha vida mudaria a partir dessa decisão

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⏰ Última atualização: Jun 04, 2020 ⏰

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Só Queria Escutar as Batidas de Seu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora