PRISIONEIRO

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A tribo de Mika não sabia como agir com prisioneiros, nunca tiveram um; assim foi fácil para a garota visitar o rapaz, já que ninguém o vigiava. Ela se aproximou na ponta dos pés até quase poder tocá-lo.

— Trouxe comida?

Ele perguntou ainda de olhos fechados e Mika levou a mão à boca para conter o grito

— Droga... Não trouxe nada — resmungou ao abrir os olhos.

— Você atravessou mesmo o frio? — Ela se ajoelhou à sua frente.

— Já me viu aqu...

Os olhos do rapaz se arregalaram e, ao encará-la, ele paralisou. Incomodada, a garota recuou um pouco, mas ao notar que o rapaz não voltava a si, decidiu despertá-lo estalando os dedos na sua frente.

— Claro que atravessei! — ele respodeu rapidamente.

— Mas é impossível... Como fez isso?

— Se quando cheguei tivessem me dado comida, água e algum cobertor ao invés de me amarrarem, já estariam sabendo.

— Disseram que você é um bruxo.

— Quem dera fosse, eu me soltaria e iria atrás de comida.

— Você é, por isso conseguiu atravessar! Você fez um pacto com as bestas e veio destruir nossa tribo? — Ela aproximou-se.

Ele começou a gargalhar. A garota entortou os lábios e desviou o olhar.

— Você não acredita nisso, caso contrário não estaria com o rosto tão colado ao meu. — Mika afastou-se com as bochechas vermelhas. — Por que quer saber como atravessei o frio?

Mika coçou as mãos, mesmo receoso lhe contou:

— Minha amiga acreditava que era possível atravessar o frio, tentamos fazer isso, mas ela morreu. Logo em seguida, você chegou.

— Lógico que ela morreu, vocês não as roupas certas pra isso.

— Não, as bestas nos atacaram.

— Um animal atacou vocês — ele a corrigiu. — E por que tentaram atravessar o frio?

— Ela achava que o fogo do nosso vulcão ia sair, queria levar todos em segurança para o Kemono — ela apontou —E eu... Sonhei com alguém pedindo para que eu atravessasse o frio.

O garoto abaixou a cabeça e se recostou na parede. Mika enfureceu-se, foi idiotice ter contado algo tão íntimo para um desconhecido. Ela se levantou, mas nem ao menos chegou a dar o primeiro passo quando o jovem a chamou.

— Além do traje que eu usava, trouxe outros dois iguais, se me der comida e pegá-los, partimos ainda hoje — disse encarando o chão. — Trouxe mais trajes pensando que poderiam se importar com os que partiram há vinte anos, mas foi tolice minha... — Mostrou as mãos amarradas.

— Vinte anos atrás... Você fala sobre os trinta guereiros, mas você é jovem demais para ser um deles.

— Não sou um dos guerrreiros, sou descendente deles. — Ele levantou o olhar. — Sou Takeo, filho de Hana e Kai.

A TRAVESSIAOnde histórias criam vida. Descubra agora