EPÍLOGO

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Cinco anos depois

Mika observava os raios de luz despontarem no horizonte. A fumaça ainda cobria a maior parte, mas agora era possível diferenciar o dia e a noite e confirmar que a ampulheta sempre esteve errada. Grande parte da neve já havia derretido e agora o gelo tocava apenas em seus calcanhares.

— Desculpe, Mika! A Cho acordou cedo demais, tive que trazê-la para não acordar sua mama.

— Não tem problema. Vem com a tia!

Mika abriu um largo sorriso e a pequena Cho esticou os bracinhos para ser carregada.

Há cinco anos, guiados pelos lobos guardiões de Kemono, Takeo e Mika voltaram à tribo, num caminho milagrosamente seguro, de ar e temperatura agradáveis e sem qualquer arranhão no corpo. A tribo acreditou neles, Takeo não era um bruxo e finalmente recebeu comida.

— Conseguiram colher batatas com a tecnologia que tinha lá na base dos trinta guerreiros — Takeo comemorou. — Vamos tentar plantar uns legumes compridos de cor laranja, chamam de cenoura.

— Que bom! Cho, fala parabéns pro seu papa! — A garota balançava Cho no alto e a bebê correspondia sorrindo. — O Sol brilha cada vez mais! As orações ao Rei Sol estão dando certo, ele voltou a ganhar força. Acho que vamos ao Kemono antes do meu casamento, para rezar pelos emissários e pelos Reis. Lá, as orações são mais fortes e o Rei Sol se recuperará mais rápido.

— Está nervosa pro casamento? — Takeo perguntou.

— Não tanto quanto você que chorou durante toda a cerimônia. — Ela começou a gargalhar.

Ali ficaram observando o horizonte, como faziam desde que o Sol despontar pela primeira vez. Sempre encontravam-se ao amanhecer, às vezes acompanhados de seus cônjugês, mas na maior parte das vezes eram apenas os dois. Sentiam-se protegidos um ao lado do outro, eram irmãos que o Rei Sol e a Rainha Lua juntaram depois de arrancarem tanto de ambos.

— Como vão contar essa história? — Takeo perguntou. — Quer dizer, vão dizer que fomos guiados pelos lobos até Kemono e que descemos montados neles, ou que na subida aprendemos a voar e descemos nadando no meio da lava?

Eles riram e Cho os acompanhou.

— Talvez digam que éramos irmãos de verdade — Mika começou —, que nosso papa era o guerreiro e nossa mama a emissária. Talvez nos tornem casados, talvez eu vire a Cho e quem sabe você vire um lobo! — Ela fingiu atacar a bebê em seu colo e a pequena gargalhou. — Provavelmente, em algum momento, vão se esquecer outra vez da Rainha Lua e do Rei Sol. Não dá pra controlar, Takeo...

— O futuro e nosso passado pertencem aos nossos sucessores.

— A história é contada de acordo com o que interessa para quem fica. — Ela suspirou e segurou forte a mão de Takeo. — Mas tem algo que será mantido, independente de quem conte, da crença ou da época... Mesmo sendo impossível, a tribo conseguiu atravessar o frio e trouxeram o calor de volta à tribo.

A TRAVESSIAOnde histórias criam vida. Descubra agora