VINTE ANOS ATRÁS
Sempre era escuro, não existia dia ou noite. O tempo era definido por uma ampulheta preenchida de areia a cada uma hora, o problema era que nem sempre lembravam-se de virá-la ao contrário. A hora de dormir era determinada pelo sono da maioria, que abrigava-se dentro do saco de dormir no grande salão ao pé do vulcão. O único calor que conheciam era do fogo e do que o vulcão conseguia lhes entregar. Não havia tanta comida, as roupas eram remendadas e repassadas quando não serviam mais, nenhum corpo era forte e saudável o suficiente, ninguém vivia muito tempo.
Hana cresceu observando o gelo e a neve, comendo peixes ou carcaças de animais que encontravam, remendando as roupas da tribo — a única tribo que existia — e ouvindo as histórias dos mais velhos até todos falecerem.
Ela devia ter vinte anos, já havia passado da época de casar e deveria ter filhos logo se desejava vê-los adultos, mas não poderia ter muitos, dois já parecia arriscado demais pela falta de alimentação e vestimentas. Ela observava o horizonte. "Ele caminhava à minha frente e seguia apenas em linha reta. Parecia tão seguro e quente lá fora." Hana lembrava-se de seu sonho quando seu noivo Kai lhe beijou o ombro, ela adorava aquilo.
— É uma túnica? — Kai perguntou.
— Encontraram um gato corredor morto, pegaram os pelos dele.
Ele sentou-se ao seu lado, e a jovem encolheu-se.
— Não gosta daqui, né?
— Não importa, é a única coisa que temos.
— É a única coisa que existe...
— Não, Kai! Os antigos sempre contaram. Quando o Rei Sol nos protegia, existiam grandes tribos e muitas tribos e todas todas com muita comida! Eles não lembram bem como tudo aconteceu, eram crianças quando o Rei Sol nos abandonou, mas eles lembram de caixas metálicas que levavam eles por longas distancias. Tinha coisas verdes e vivas que nasciam do chão e eram comestíveis! Alguns animais flutuavam no céu! E até algumas caixas de metal flutuavam!
— E como seriam essas caixas de metal? Facas e panelas?
— Bem, imagino que eram várias facas, umas ao lado das outras! — Começaram a rir. — Mas é sério! Acredito no que falavam.
— Hana, mesmo se for verdade, é passado. O Rei Sol se irritou com nossos antepassados, então a Rainha Lua o deteve.
— É o que falam, mas como tudo realmente aconteceu? — Ela olhou fundo em seus olhos. — Todos os antigos que viveram naquela época já morreram, mas tem que ter alguma coisa por aí.
Kai acariciou seus ombros e ajoelhou-se à sua frente.
— Vai pensando em como podemos sobreviver no frio, vou reunir todo mundo que acredita nos antigos e vamos partir.
Ela tentou dizer algo, mas ele a interrompeu.
— Vamos casar quando encontrarmos alguma depois da neve
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A TRAVESSIA
FantasiO mundo foi imerso em escuridão. O Sol não existe mais. É impossível atravessar o frio. Os poucos sobreviventes vivem ao redor dos vulcões e rezam para a Rainha Lua não os abandonarem. Com os tremores de terra Cho acredita que o vulcão em que vivem...