Capítulo 1

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  - Papai, eu... Eu vou ficar bem?

Essas eram as palavras que martelavam na cabeça do brasileiro, que ecoavam em forma de lembrança.

- Meu anjo as chances de recuperação total do acidente são baixas demais. Eu realmente queria te dizer o contrário

Quem lhe havia dito isso não fora um familiar ou amigo, fora a sua psiquiatra, uma mulher baixa com uma face delicada e sutil, que no momento apresentara uma grande tristeza.

Dois anos antes do momento da lembrança, sua mãe biológica morrera em um acidente de carro e ver uma grande haste de ferro atravessada em sua barriga, deixara Brasil completamente abalado. Durante um ano não falara mais que o necessário e a alegria se esvaíra de seu rosto. Ele havia escutado as ultimas palavras da mãe e elas ecoavam em sua cabeça como um castigo para sempre se lembrar de que não fora capaz de chamar o socorro a tempo

Sua linha de pensamentos foi rompida a partir do momento que ouviu uma voz feminina o chamando nos auto-falantes:

- Senhor Brasil, favor comparecer a diretoria.

"Que merda será que fiz dessa vez?" perguntava a si mesmo.

O fantasma de sua mãe o parou e perguntou:

-O que você andou aprontando?

- Nada que me lembre mãe e você deveria saber disso melhor do ninguém, afinal te conto tudo o que acontece.

Na verdade não havia fantasma algum, ele via o "fantasma" de sua mãe porque era um esquizofrênico e nada daquilo era real. Ele possuía um mundo no qual se refugiava quando ficava muito triste/ansioso ou quando simplesmente não queria conversar.

Chegando na recepção antes da diretoria, Brasil se sentou e observou o lugar e encontrou uma família, composta por dois pais, um garoto que com uma bandeira azul, amarela e branca e um garoto parecido com Canadá, que estava com o rosto vermelho e molhado.

"Eu só queria poder voltar para o dormitório logo e conversar com Valentino" pensou. Quem é Valentino? Deve estar se perguntando. Bem, Valentino é o bem mais precioso de Brasil, sua arara azul.

- Brasil pode entrar! - disse uma mocinha delicada e baixinha.

Ele se levantou e se dirigiu para porta da diretoria a contra gosto. Quando entra, é convidado a se sentar por ONU, o diretor do hospital psiquiátrico, que não disse uma palavra sequer.

- Olá Brasil, como está?

Antes que pudesse responder, ONU o interrompeu:

- Aparentemente se recusa a tomar seus remédios, mas não te chamei para falarmos disso. Te chamei para te apresentar seu novo colega de quarto.

- Eu nunca pedi uma companhia ONU. Já tenho minha mãe e Valentino, não preciso de mais ninguém.

- Brasil - disse ONU pressionando as têmporas - Você precisa de pessoas físicas, as quais você consegue tocar, abraçar, entende? Pessoas que outras pessoas possam ver. Alguém "real".

- Então está insinuando que a minha mãe não é "real"? Que o Valentino não fala comigo, me consola quando estou triste?

- Brasil, você sabe que não foi isso o que eu quis dizer.

Ele fica quieto de novo, todo o processo de tentar convencer ONU de que não precisava de ninguém para cuidar dele tinha ido por água abaixo.

- Voltando ao assunto, o seu colega de quarto vai ser um garoto que acaba de ser internado nesse hospital. O nome dele é Argentino e é um pouco... digamos...

- Louco? - disse o brasileiro

- Não, ele... é um narcisista paranoico.

Ele já tinha dividido o quarto com um narcisista e quase morrera por conta de brincadeiras para quebrar o gelo.

- Não.

- Você não tem opção Brasil. Ele não é como o EUA, ele só acha que tem o dever de ser perfeito. Apenas não o provoque e dará tudo certo.

- Se eu me machucar de novo e não conseguir ver a minha mãe por conta dessas drogas que vocês me dopam, eu vou matar você.

- Você não vai conseguir por mais que tente. -disse com um olhar sombrio com as grandes orbes verdes encarando - Bem vou chamar o Argentino. Espero que você se comporte.

ONU se levanta de sua poltrona e se dirige a porta. Quando abre, o menino com a bandeira azul entra. Seus cabelos eram loiros azuis e brancos e tinha um formato de rosto familiar, olhos dourados como ouro mas frios como o gelo. Usava roupas formais e segurava uma maleta com alguns pertences.

"Esse rosto... Não me é estranho"

- Oi Brasil, se lembra de mim?

- Realmente não lembro de você, apenas sei que vai ser meu colega de quarto e que não estou feliz com isso.

- Nem eu estou feliz em ser considerado um louco, mas fazer o que? Essa é a vida mas muitos a interpretam mal. - disse o argentino olhando com o rabo do olho para seus familiares.

- Bem senhores apresentados, hora de levarmos o Argentino para o novo quarto dele, Não é mesmo Brasil? - disse ONU.

- Claro. - respondeu o brasileiro com uma cara de puro desgosto. - Muito bem senhor perfeição, o caminho é por aqui. - E ambos saíram pela porta.

* * *

Romance entre loucos- um conto um pouco clichê Onde histórias criam vida. Descubra agora