1. Breach of expectation

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 Exatamente como em todas as outras vezes em todos outros os meses, cá estou. Sentada na sala de espera quase vazia desse mesmo consultório psiquiátrico de sempre, com o cheiro de álcool pelo ar. Balançando minhas pernas que não alcançam o chão. Uma vez que eu nasci ligeiramente desprovida de altura. 

 Hospital psiquiátrico. Eu deveria estar acostumada, ou pelo menos familiarizada com isso desde os meus 14 anos, mas ainda assim, sempre que eu penso que frequento um hospital psiquiátrico todo mês me vem um peso. Parece que esse termo caí como um fardo pesado sobre minhas costas.

Mas é, de fato. 

 Um fardo exaustivo que eu carrego desde o começo da adolescência, quando notaram que eu era diferente das demais meninas da minha idade. Um pouco calada e "fria" demais para uma garota de 14 anos.

 "Ela devia estar pensando em garotos", eles disseram.

 Eu devia? Pois eu não estava. Passava meu tempo pensando em como eu era um saco e como eu odiava viver em sociedade. 

E esse era só o começo, só os gatilhos iniciais para os turbilhões que viriam a seguir. Uma adolescência completa preenchida por crises de ansiedade, crises existênciais, e crises inexplicáveis de choro e tristeza profunda. Sofrendo uma pressão ridícula para ser "normal" e falhando lindamente.

 Bem chato, porém não havia nada que eu pudesse fazer. Não estava no meu controle, eu simplesmente não podia decidir que não estava mais na hora de chorar. Eu apenas não entendia o porquê de estar triste e nem como fazer para não estar. 

 Desde cedo, enfrentando uma burocracia insuportável para lidar com tudo. Talvez seja por isso que além de desprovida de altura, eu era desprovida de paciência também.

Rosaline Lucy Lancaster.

 Antes que eu pudesse terminar de ler a página do livro aberto nas minhas mãos. Meu nome ecoou por todo consultório, na voz grave do médico que me chamava para finalmente adentrar sua sala, e escutar ele proferir o mesmo diagnóstico de sempre.  

Não posso culpá-lo. Eu também sempre digo as mesmas coisas. É como ter uma sensação de dejá-vu, toda vez que eu estou aqui.

Seguro a maçaneta e a pressiono para baixo, abrindo a porta e encontrando Dr. Taylor Collins sentado atrás da mesa, com seus óculos quadrados parados na ponta de seu nariz. Os olhos concentrados no monitor do computador, e a mão deslizando o mouse rapidamente. A sala está limpa e organizada como sempre, e a cadeira frente a mesa está vaga, a minha espera. 

— Licença. - digo, entrando no cômodo e fechando a porta atrás de mim.

— Sente-se, Rose. Só estou procurando sua ficha no sistema. 

O homem não me olha, mantém-se focado a tela porém faço como ele pede, e me sento em silêncio. 

— Pronto, encontrei! - Ele murmura com um pequeno sorriso vitorioso. - Podemos começar, como a senhorita está? 

Como estou? É uma pergunta retórica. 

Com depressão crônica talvez?

Não sei, estou exatamente como estava ontem e anteontem e em todas as vezes que estive aqui.

— Normal, eu acho… Igual estava na outra vez. - Ofereço um sorriso sem graça. 

— Você disse isso na outra vez também, Senhorita Lancaster. - Ele crispa os lábios. - Como você realmente está? Tem tomado os remédios? Depois que nós mudamos as doses, notou diferença? 

Pondero por um segundo tentando lembrar se alguma coisa mudou com a medicação nova, e sinceramente não encontro nada significativo. Somente notei que nos últimos dias estou fazendo piadas irônicas muito melhores, mas isso é porque eu pratico muito e acabo me aperfeiçoando nessa arte. 

I promise | Tom Holland | HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora