[02] Mudanças e Rotinas Injustas

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" тαℓѵεƶ α ɱเɳɦα ερเƒαɳเα "
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Papai tinha transtorno de colecionador compulsivo na época em que conheceu minha mãe, não como doença mas, apenas uma paixão enorme por bonecos esculpidos, de todo tipo de material. Normalmente, são personagens de bravura, ele teve o prazer de ler durante sua juventude a jornada de cada um de seus heróis japonêses favoritos. Temos no sótão pilhas e pilhas de caixas, com os bonecos embrulhados em plástico bolha, esponja amortecedoras para caso de queda, e de bônus, aroma irritante de chiclete de morango.

Mamãe por outro lado, é a realística portadora da doença T.O.C, Transtorno Obsessivo Compulsivo. Nunca tocamos no assunto mas, sabemos que há algo de errado com ela, talvez seu nível obsessivo seja estável, da mesma forma, prejudica quem está a sua volta.

Há oito anos atrás ela cansou de limpar cada bonequinho e seus espaços inalcançáveis então ordenou que papai os trancasse no sótão, ele fez isso como de pronta ordem. Durante estes oito anos, até hoje, fingimos que não notamos que ela sobe no sótão, abre todas as caixas e higieniza os bonecos de forma compulsiva discretamente. Ela faz terapia, não houve uma vez em que, chegasse muito mais estressada do que depois de uma sessão, ela frequenta mais por obrigação.

Hoje de manhã, ela gritou, seu rosto estava colorado em vermelho, seu corpo quente e com as unhas arranhava a costa de sua mão, naquele momento eu estava no quarto tentando encher o minha aparência de base facial. Papai correu para ver do que se tratava, consegui formar a imagem dele apertando os olhos e suspirando, ele fazia sempre. O motivo de seu ataque foi o móvel de entalhe estar meramente arrastado para trás, ela estava borbulhando com a linha torta que formou o espaço entre a parede e o móvel, aquilo em sua cabeça deveria ser como uma coisa absurda. Aquilo lhe deixou descontrolada por uns longos minutos, papai não permaneceu ali para ajudar, ele era o que não sabia lidar tão bem quando acontecia, ele sempre fugia, parecia que tinha medo.

Eles andavam brigando com a porta trancada, discussões eram facilmente iniciadas sem motivo algum, as coisas caminhavam um tanto frustrantes. Não sei dizer quando começou, apenas que foi piorando a cada dia, não me recordo a última vez em que papai sentou com mamãe frente a tv para assistir algum anime japonês como antes de custume faziam. Era estranho ver papai tão distante quando era o mesmo que deixava a casa animada e barulhenta.

Nesta manhã em que mamãe teve seu pequeno ataque, eu me senti mal, frustada pelo oque vinha acontecendo, por não fazer idéia de como ajudar.

- Você está bem? - Lhe passei um copo preenchido de água, ela pegou depois de uns segundos, ainda tremia.

- Estou ótima, Sharon.

- Se precisar posso faltar a escola hoje e lhe fazer companhia.

- Eu não tenho problemas algum em ficar sozinha, já disse à vocês que não estou doente, pode dar meia volta e passar esta camiseta direito pois parece que a tirou do cesto de roupas sujas.

- Tem certeza?

- Poderá entrar no segundo horário, vamos, vamos, se apresse, Sharon!

Ela entregava desculpas assim, como se não quisesse admitir, por mais que alguém tentasse o quanto de vezes quebrar a barreira, ela era esquiva, receosa. Fitei-a beber a água enquanto com a mão balançava em direção ao andar de cima, ensinuando para que eu subisse.

Aquela manhã foi tão estressante que ao menos lembrei da noite que desejei por meses, eu pensava nela no caminho para a escola, agora seriam duas coisas para me preocupar. Meus pais estarem brigando frequentemente e a garota em que visitava-me toda noite, talvez apartir daquele dia não fosse mais acontecer.

Talvez A Minha Epifania - MICHAENGOnde histórias criam vida. Descubra agora