The Crow Between the Crowns

03

— Sente-se, por favor, príncipe Lee.— Jooheon encarou o lugar que lhe fora indicado e engoliu em seco ao ver a mesa farta; o estômago que estava há horas sem comer se revirou em fome. — Vamos, não se acanhe. — Encarou os olhos do rei com a mandíbula travada. A pele bronzeada do homem, típica dos moradores litorâneos, contrastava com seus fios grisalhos.

Litoral. Ah, como Jooheon odiava aquele lugar. Não pensava em aceitar aquela comida, não por medo de estar envenenada ou algo do tipo, seu orgulho não deixava. Raposas tendem a isso, não se submetem ou querem aparentar estar precisando de ajuda, ainda mais de um inimigo jurado de morte.

A guerra entre os reinos não era de hoje, por séculos já se arrastava impiedosa, decepando membros, cobrindo o chão de sangue e os sobreviventes de dor. O príncipe não acreditava que havia sido mandado para a morte, Kihyun era seu amigo, certo?

— Lee Jooheon... — Ouviu passos se aproximando, aquele que o trouxera inconsciente e um homem alto, que não conhecia, mas que pelas roupas aparentava ser alguém importante. — Muitos acreditavam que você era uma fantasma, eu acreditava, até que Jimin aparecesse aqui com você amarrado. — Soltou um risinho que fora compartilhado por Jimin e ambos receberam uma cara tediosa em resposta por parte do forasteiro.

— Quem me dera ser um fantasma. — Revirou os olhos pegando um pêssego da grande fruteira em meio ao tampo de acácia da mesa.

— Então, a que devemos sua ilustre presença ó principe nortenho? — Os recém chegados se sentaram na grande mesa, o alto na cadeira mais próxima da que estava o rei. Naquele momento, como a boa raposa que era, Heon entendeu que aquele era o príncipe Namjoon, um dos poucos que não tinha um dobutso normal. Sorrir ladino foi inevitável, a cabeça já estava a milhão, pensando em tudo que poderia fazer. — Por que sorri? Achou algo engraçado? — O olhar do Lee se voltou ao dono da voz, um baixinho de cabelos negros sentado ao lado do príncipe sulista, cerrou os olhos intrigado e passou a língua pelos lábios lentamente.

— Me desculpe, mas eu volto a insistir no "e quem seria você?" de antes. — Nem mordeu o pêssego, mas o deixou de lado, sentando-se finalmente na cadeira mais longínqua da dos outros e cruzando os braços.

—Este, príncipe Jooheon, é Park Jimin; conde das Colônias, enviado pela própria raínha para aprender esgrima com meu filho. — Sorriu o homem, já de idade, totalmente orgulhoso apoiando a mão direita no ombro do herdeiro e por um segundo a inveja relampeou nos olhos do Lee.

—E tem aprendido muito bem, Jimin é muito habilidoso. — Redirecionou o sorriso que dava ao pai para o ruivo ao seu lado, que esboçou um olhar mais do que amigável e aquela foi o estopim para a risada do portador da raposa estourar no ambiente. Ele tentava segurar o máximo que podia, mas era inevitável. Era cômico demais.

— Percebi, ele deve segurar muito habilidosamente no cabo... — Quase riu novamente, os dedos tentando esconder a risada que queria escapulir pelo lábios, ele não se lembrava que o mundo era tão divertido assim.