PRÓLOGO

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Enquanto eu andava pela estrada deserta e somente iluminada pela luz da lua e por algumas janelas acesas de poucas casas, fiquei pensando em como tudo aquilo parecia uma grande e bizarra piada.

Sair para transar? Até algumas semanas isso pra mim era a realidade de pessoas diferentes. Talvez pessoas que não ligassem para o risco de morte e arriscassem suas vidas somente para gozarem e serem gozadas. Okay, isso é uma piada, mas uma piada na qual eu me insiro naquele momento. E tudo bem ser uma piada. Em um futuro próximo eu com certeza iria rir dessa situação. Se eu saísse vivo, claro.

– Estou quase chegando. – Falei com o celular próximo a boca. Soltei o dedo da tela e deixei a mensagem de áudio ser enviada.

Olhei ao redor, cobrindo as mãos no bolso, tentando disfarçar meu nervosismo que se manifestava na forma de tremedeira. Eu não iria morrer naquele dia. Não, isso seria incrivelmente trágico. O garoto judeu que saiu escondido no meio da noite para encontrar um desconhecido que iria tirar a sua virgindade. É, isso seria péssimo.

– Cadê você? – mandei mais um áudio, começando a ficar assustado e guardando meu o celular no bolso de trás da calça. Como se a minha ficha tivesse caído. Como se eu começasse a entender que aquilo era uma grande loucura. Que andar de madrugada em uma rua escura, desconhecida e deserta era uma coisa que pessoas loucas fariam. E pior, encontrar um desconhecido que eu nunca havia visto nem o rosto. Um desconhecido que eu achei por acaso em um aplicativo que eu nem deveria ter baixado.

Mas era tarde demais. E mesmo se eu tivesse coragem o suficiente para desistir e voltar por todo o caminho, a minha chance acabou no momento em que eu escutei uma voz vinda do portão de uma das casas.

– Caleb? Estou aqui.

Parei e me virei para a voz, grossa e rouca, sentindo as minhas pernas tremerem e todo o meu corpo começando a gelar.

– Senhor João Carlos? – perguntei, mesmo sabendo que aquele realmente era o homem certo. Um homem grande e corpulento, que vestia um suéter azul com uma calça cáqui marrom e sapatênis cinzas, que combinavam com o seu cabelo grisalho e barba perfeitamente aparada.

– Vamos entrar. – o homem apontou para a porta de ferro a sua frente.

Acenei com a cabeça e andei em sua direção. Senti seu perfume forte quando o abracei, pensando em como eu tiraria o cheiro das minhas roupas antes da minha mãe sentí-lo quando fosse lavar aquelas roupas e ocasionalmente descobrindo sobre a minha grande piada.

– Está com fome? – o homem perguntou quando entrei pela porta e me vi em uma enorme e luxuosa sala de estar, feita completamente de madeira e com o calor da lareira crepitante tomando conta do local.

– Não, senhor. – O respondi tirando os sapatos na entrada.

– Certo. Vamos subir. – O homem segurou meu ombro e começou a me puxar em direção a uma escadaria de madeira.

Assim que terminamos de subir, João Carlos puxou o meu corpo para um beijo. Um beijo estranhamente bom.

– Fique a vontade para usar o banheiro ou começar a tirar a roupa. – Ele falou acariciando minha mão.

– Vou ao banheiro – o respondi.

Ele apontou para um corredor no lado direito e eu entrei por ele. A primeira porta a esquerda estava aberta e revelava um banheiro grande, com seu interior formado majoritariamente por azulejo e mármore branco. Supus que aquele era o banheiro que eu poderia usar e entrei por ele, encantado pela hidromassagem que se localizava em um dos cantos do cômodo. Usei a privada e depois fui até a pia de mármore branco lavar as mãos.

Os Demônios de CalebOnde histórias criam vida. Descubra agora