As correntes rangeram com a pressão de um grupo de homens tentando abrir caminho pela cerca improvisada. Antes que os manifestantes alcançassem a escada, Lena e Roger estavam no helicóptero decolando. Lena se recostou e suspirou, aliviada. Sua mão procurou o bolso da calça, se certificando de que a caixa de veludo com o anel de noivado de Megan ainda estava lá. Megan era uma morena alegre, tão otimista, que talvez conseguisse fazer com que esquecesse sua derrota. Tentou se lembrar de sua imagem. Mas novamente viu Susane, sua ex-esposa, e Sophia, sua preciosa filha.
- Vocês estão bem? - perguntou Leon.
Mal dava para se ouvir a suave e elegante voz do Conde Leopoldo acima do ruído do helicóptero decolando.
- Que tal um passeio pela Galleria degli Uffizi?
O bom Leon, sempre companheiro desde o tempo em que dividiam o quarto em Harvard. Lena assentiu resignadamente. A Galleria degli Uffizi era um dos maiores museus renascentistas do mundo. Susane jamais fora a Florença sem visitá-lo...
Lena se virou para admirar sua criação pela janela. À luz do entardecer, ela de fato se parecia com um enorme caranguejo. O museu era seu primeiro projeto desde o incêndio de sua casa em San Francisco, a casa que ela projetara especialmente para Susane e que tinha causado tanto entusiasmo, lhe dando notoriedade em todo o planeta. Estava na Europa, supervisionando a reforma das instalações da ilha particular de Leon, quando chegou a notícia de que o fogo devorara sua casa, levando tudo que importava para ela.
O barulho do helicóptero encobriu os gritos da multidão. As pessoas ficaram pequenas como formigas na rua lá embaixo. Enquanto sobrevoavam a Cidade Velha, viu as telhas vermelhas, as avenidas, as praças e o rio Arno, famoso e imprevisível, que avançara sobre a cidade em mais de uma ocasião, deixando atrás de si um rastro de destruição. Florença sobrevivera a desastres bem piores do que um prédio pretensioso. Leon perguntou se estava tudo bem com ela.
Lena lançou um olhar furtivo para Leon.
- Tinha esquecido como era divertido ser a mais odiada arquiteta 'pop' do planeta.
- Arquiteta polêmica. - corrigiu Roger. - Caramba, é uma maravilha. Amanhã você estará na primeira página de todos os jornais da Europa.
- Como você pode ser tão otimista, quando o povo quer me matar?
- Os italianos, principalmente os florentinos, são uns idiotas passionais. - disse Leon. - Esqueça. Hoje nós odiamos você, mas daqui a quatrocentos anos vamos endeusá-la.
- Que pena que quando isso acontecer só restarão minhas cinzas - disse Lena.
- Ela teme boas novas porque acha que para compensar sempre aparecem más noticias. - falou Roger com seu jeito irônico para Leon. - Tudo bem, Lena, eu lhe dou as más notícias. Perdemos a concorrência de Nova York.
Lena pôs as mãos na cabeça e sentiu a familiar sensação do desespero criativo. Passou suas mãos pela espessa cabeleira negra. A maioria das pessoas não sentia compaixão por ela; mesmo depois da morte de Susane, diziam que ela ainda tinha muito que aproveitar na vida.
- Você tem seu talento, seu nome, sua juventude... - diziam.
Ela sabia, porém, que na verdade estavam falando do seu dinheiro. Se uma pessoa era rica, tinha que ser feliz. Não sabiam de nada. Dinheiro, o tipo de fortuna que ela possuía, a afastava de quase todo mundo, de alguma forma tirando sua humanidade, a afastando da realidade. Vivia entre quatro paredes, algumas vezes em total isolamento. Por isso mergulhava no trabalho. Mas a angústia era real e ela sofria como qualquer outra pessoa.
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Heart Tamer - SuperCorp
FanfictionLena não esperava viver uma tórrida paixão. Mas para Kara pode ser o início de um pesadelo. Cansada da solidão, Lena Luthor decidiu pedir em casamento a filha de um dos seus sócios. Ela seria a esposa perfeita, e Lena, com o tempo, aprenderia a am...