Natal preto e branco
Joice Lourenço
O sol me acordou naquela manhã. Os raios fortes me fizeram levantar da cama, resmungando. Aquele seria um dia normal, se não fosse o tão famoso natal, esperado por todos. Bufei ao constatar isso. Teria que ser forte, dar os meus falsos sorrisos de alegria com cada presente e a felicidade estampada no rosto de cada familiar. Não me pergunte por que sou assim, apenas sou e ponto final.
Após uma rápida ducha para tentar espantar o calor de dezembro, coloquei uma roupa qualquer e desci as escadas, já me preparando psicologicamente para a cena que veria. Entretanto, algo estava estranho. Olhei ao redor da sala e percebi que a árvore toda produzida com os enfeites de natal, não estava mais ali. Escutei um barulho vindo da cozinha e fui ver o que estava acontecendo. Meus pais estavam tomando o café da manhã como de costume, jornal na mão, café na outra e um pão com manteiga.
— Bom dia, filha! Estou atrasada para o trabalho. Coloca a roupa na máquina de lavar antes de ir ao trabalho?
Estreitei as sobrancelhas — mãe, você não trabalha hoje. É dia de natal, lembra?
Ela olhou com o semblante totalmente confuso — Natal? Do que você está falando, filha? – meu pai também encarava-me, aguardando pela minha resposta.
— Natal, o famoso nascimento de Jesus, árvores enfeitadas, todo mundo feliz, jantar especial. Qual é mãe?!
Meus pais continuaram a me olhar, mas dessa vez, preocupados — Acho que você andou tendo algum sonho, minha filha. Não sei o que é esse natal de que você está falando e muito menos Jesus. É nome de algum conhecido seu?
— Pai, é o nome do filho de Deus, está escrito na Bíblia! – respondi seriamente.
Meu pai olhou-me zangado e mamãe desaprovou o meu comentário — Filha, nunca mais diga uma coisa dessas, ouviu? Até hoje esperamos pela vinda do filho de Deus. O que está acontecendo com você hoje?
Agora era a minha vez de olhá-los preocupados. O que minha mãe estava dizendo? Como não sabem o que é Natal e principalmente, quem era Jesus? Qual é? O que estava acontecendo? Meus pais rapidamente se mexeram para ir trabalhar, mas antes de mamãe fechar a porta da frente, olhou-me com ternura e disse.
— Qualquer coisa, leia o Livro da lei. Só para tirar suas dúvidas.
Assim que ela fechou a porta, fiquei vários minutos parada, tentando entender o que estava acontecendo. Já sei, estavam querendo pregar uma peça em mim, já que sabem que não sou muito chegada no natal. Coloquei a roupa na máquina de lavar e escutei o meu celular tocar. Olhei o visor, achando estranho, era do trabalho.
— Monique? Você pode chegar um pouco mais cedo no trabalho, a Leila teve uma indisposição e teve que faltar.
— Mas, senhor. Hoje não é dia de folga?
— Folga na quarta-feira?
— Folga do dia de natal, senhor.
— Natal? Monique, do que está falando? Hoje é um dia normal como todos os outros.
Fiquei em silêncio por alguns instantes e escutei a respiração pesada do meu chefe. Decidi não contrariá-lo e apenas disse que estava a caminho. Não queria discutir com ele por telefone. Vai que todos decidiram pregar uma peça em mim? Entretanto, assim que saí de casa, senti algo estranho no ar: ou todos decidiram fazer um complô contra a minha pessoa, ou realmente o natal havia sumido da face da terra. Será que estava exagerando? Caminhei, observando tudo ao meu redor, as lojas estavam normais, sem nenhum enfeite ou dizeres de natal. A árvore gigante que ficava na praça da cidade não estava lá. Entrei no shopping e também tudo havia sumido, a decoração extraordinariamente chamativa, tinha desaparecido. Peguei meu celular e verifiquei o dia: 24 de dezembro!
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Eu, Você e o Natal - Contos inesquecíveis
Cerita PendekUma coletânea de 8 contos de amor com a magia do natal!