Capítulo Único.

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Eu não sei ao certo quando começou, somente me vi andando pelos corredores daquela escola infantil, numa tarde qualquer. Era recreio, e você estava no canto do pátio, encolhido e sozinho.

Lembro que me aproximei tranquilo e você não ficou temeroso como achei que ficaria, na verdade, discutiu comigo quando te chamei de "pirralho magricela" depois de descobrir minha idade, porque por algum motivo você gostava de ressaltar:

"— eu sou o hyung."

E nesse momento viramos amigos, porque, estranhamente você se sentia confortável comigo, e eu me sentia com você mesmo que não entendesse ainda o meu propósito.

Naquele mesmo dia eu te contei que não tinha pais, família e nem sabia como tinha parado ali, depois de você me contar que morava com o circo, que sua "mamãe verdadeira" o tinha deixado brincando lá, quando era mais novo.

"— Ei! Onde está seus pais?"

"— Temos que o levar na polícia."

"— O que disseram?

— O pai foi morto há algumas semanas e a mãe sumiu no mapa. Acho que ela quem o deixou.

— Ele tem outros familiares?

— Não o querem.

— Vamos ficar com ele.

— Por Deus, Sunghee, você ficou louca?! Não podemos ficar com ele, não é assim que as coisas funcionam.

— Você sabe que eu nunca poderei ter filhos e se o Senhor colocou esta criança no meu caminho, eu irei cuidar. — os olhos eram firmes tanto quanto sua voz.

O homem respirou fundo e olhou nos olhos de sua mulher, agora esperançosos. Ela era estéril e seu sonho sempre foi ter crianças. — Como é seu nome e quantos anos tem, pequeno? — olhou para o menino.

— Taehyung, Kim Taehyung. Tenho 8. — a voz infantil respondeu, encolhido no sofá.

— Nós vamos cuidar de você, criança."

No final da aula você me perguntou onde eu morava, e eu não tinha uma resposta porque morava em lugar algum. Como qualquer criança com ideias malucas você me arrastou pelo braço até o circo e me apresentou sua mãe. Explicou que eu não tinha pais e que morava em "Lugar Algum" e perguntou se eu podia ficar com eles.

Eu vi sua mãe franzir o cenho, mas Sunghee não tardou a entender, então só disse:

Bem vindo à família, Jungkook.

E nisso eu comecei a entender meu propósito.

Os dias foram passando e nós ficamos mais amigos e você me apresentou a cada pessoa do circo.

"Oi, tio, esse aqui é o Jungkook!"

"Oi, tia, esse é o Jungkook e ele mora com a gente agora."

Ninguém julgaria uma criança, então não davam muita moral e outros até que sorriam e entravam na brincadeira. Era um lugar feliz. Você cresceria bem ali e eu logo iria embora.

Era o que eu achava.

Mas você não me deixou ir. E pra falar a verdade, eu também não queria, então somente aguardava até o dia em que não precisasse mais de mim.

x

Nos meus aniversários você sempre pedia - ou enchia o saco dela, depende de que lado for ver - para sua mãe me fazer um bolo. Eu sempre dizia que não precisava. Nunca quis incomodar.

imaginary circus. | taekook.Onde histórias criam vida. Descubra agora