Sans Voix - Sem Voz

Capítulo 2 - "Combo 7"

— Messias, quero te apresentar o Bruno, ele agora faz parte do grupo de colaboradores do colégio — mamãe me diz, percebo que estou um pouco agitado e demoro um instante, mas estendo a mão para cumprimentá-lo.

— Muito prazer — ele diz, retribuindo o aperto de mãos, eu deveria falar o mesmo, mas sei que minha voz corre o risco de falhar, por esse motivo, apenas sorrio com os lábios fechados, nesse momento fico alheio, e sinto que o resto do ambiente deixou de existir, mas logo me obrigo a me recompor, esperando ninguém ter percebido meu lapso de realidade.

— Bruno, este é meu filho Messias, ele estuda aqui, está iniciando o segundo ano — mamãe diz, ele sorri para mim e sinto uma pontada me atingir o estômago. Meu subconsciente grita: "Que diabos está acontecendo aqui? Será que o bolo está me fazendo mal?". Mais uma vez, sou incapaz de dizer algo, e apenas abro um pouco meu sorriso, que ele retribui sem tirar os olhos de mim, suponho que ele deva ter esperado que a próxima coisa que mamãe falaria sobre mim, é que eu era mudo.

— Então, eu vou indo. Devem estar precisando de mim na cantina, foi um prazer e se precisarem, estou às ordens, boa aula Messias — ele disse sorrindo, e mais uma vez me encarando. Balancei a cabeça de cima para baixo como resposta. Me senti aliviado quando ele saiu, tanto que deixei o ar escapar devagar, afim de não deixar transparecer meu nervosismo, aquilo tinha sido um tanto estranho.

Já na sala da diretoria, minha mãe lia alguns e-mails, enquanto eu estava enterrado em uma poltrona, na qual eu amava ficar sentado esperando o sinal tocar. De acordo com o relógio, faltavam apenas alguns minutos para às 07h00. De repente dona Regina gira com sua cadeira em minha direção e me lança um olhar desconfiado. Sei imediatamente o que ela vai falar e já tento me preparar mentalmente.

— Você já conhecia o Bruno de algum lugar, filho? — ela fala, imediatamente me ajeito na poltrona.

— Que Bruno? — finjo.

— Como que Bruno? O novo atendente da cantina que acabei de te apresentar — ela fala, e quando a vejo alongar a coluna, percebo imediatamente que mamãe notou algo, e estava me sondando para descobrir o que quer que fosse.

— Claro que não. Nunca o vi na vida — falei, e ela levantou a sobrancelha esquerda. — O que? Porque está me olhando desse jeito? — apresentei sinais de culpa. Mas que culpa?

— Que olhar Messias Júnior? — ela falou com uma marca de sorriso, de quem estava conseguindo.

— Esse seu olhar de ave de rapina — falei sem pensar. Ela me fuzilou com os olhos.

— Eu poderia te deixar sem celular até o fim do dia pela falta de respeito, mas estou disposta a um acordo, se você me contar o motivo de ter ficado tão... tão sans voix, quando o viu — ela provocou, mas não caí.

— Como assim, fiquei mudo quando o vi? O que a senhora está insinuando? — falei, incrédulo ao ouvir aquilo de mamãe, mas eu sabia que se eu me alterasse, seria motivo para mais conversas como aquela. E eu não tinha motivos para me alterar, não é mesmo?

— Me diz você. Eu te conheço o bastante para saber que o que aconteceu ali — ela apontou para a porta da sala — não é padrão do seu comportamento. Só estou curiosa! Pergunto porque senti que você o conhecia — dona Regina, estava disposta a cavar mais fundo, mas para a minha sorte o sinal tocou e saí imediatamente dali.

Andei rapidamente pelos corredores em direção a sala de aula, aquela conversa mesmo que sem motivo ou pretensões maiores, havia me deixado um tanto tenso, mas os alunos também andavam de um lado para o outro, e ninguém pararia para prestar atenção em como eu estava naquela manhã especifica. Já sabia qual a sala estudaria, então, não precisaria perder tempo procurando. Aos poucos, fui me recompondo e já avistava alguns rostos diferentes por ali. Mas eu não era exatamente o tipo de adolescente que ficava animado com a possibilidade conhecer novos amigos, ou coisa do tipo, na verdade eu acho que sempre fui muito estranho perto dos meus colegas de classe, o fato de ser filho da diretora, podia até me tornar conhecido, mas, jamais popular.