Capítulo 1 - "comodismo"

15 1 0
                                    

O barulho do meu despertador consegue finalmente obter êxito em me acordar, fico sentado na cama por longos segundos observando meu quarto escuro, levanto e saio cambaleando em direção ao banheiro, assim que ouço o som conhecido do salto de mamãe passando apressadamente em frente ao meu quarto.

­— Messias, acorda, não podemos nos atrasar – disse ela.
Preguiçosamente me desfaço da minha samba-canção e me ponho de baixo do chuveiro com água fervendo. Aos poucos a preguiça vai me deixando, e meia hora depois já estou pronto para encarar o primeiro dia de aula do ano.

Sempre tive dificuldade para acordar cedo, tenho o sono muito pesado, principalmente em dias frios como hoje, o que se torna um problema, já que em minha cidade faz frio pela manhã, praticamente todos os dias do ano. Não me considero um garoto preguiçoso, mas não contem comigo para atividade matinais antes das seis.

Desço apressadamente as escadas e vou em direção a cozinha, meus pais não abrem mão de tomarmos café juntos todos os dias. Meu pai raramente almoça conosco, antão aproveitamos o momento para ficarmos juntos e conversar, mesmo que ele esteja sempre dividindo a atenção entre seu jornal, eu, minha mãe e a Rosa, nossa secretaria do lar que se junta a nós para tomar café todos os dias da semana. Quando entro, eles já têm iniciado a refeição, dou um beijo nos meus pais e já sento me servindo uma fatia de bolo de laranja, amo bolos, especialmente os de Rosa.

— Marcela ligou e perguntou por você, falei que você estava terminando de se arrumar, ela pediu para avisar que vai conosco ao colégio — disse minha mãe, dando um gole em seu café com leite, não havia notado o quanto ela estava linda naquela manhã, seus cabelos castanhos estavam presos em um coque, e usava um blazer marsala e uma blusa social branca por baixo, minha mãe era simplesmente a mulher mais linda que eu já visto na vida, aos seus trinta e oito anos, todos ficavam surpresos ao saberem que ela já era mãe de um adolescente.

— Tudo bem, muito me estranha ela ainda não ter aparecido aqui dando seus chiliques me chamando de preguiçoso — falo, pegando algumas torradas e colocando em meu prato, nesse momento meu pai me olha rindo por cima de seu jornal.

— Messias, não fale assim da sua namorada — minha mãe me repreende, mas conheço aquele risinho quase imperceptível nas linhas ao redor de sua boca. Dou com os ombros.

— Muito me estranha, vocês continuarem namorando até hoje mesmo sendo tão diferentes — solta Rosa, se arrependendo em seguida, mas não a tempo de ser repreendida com um olhar de mamãe. Meu pai segue controlando seu riso atrás de suas páginas de notícias.

— Isso se chama comodismo, Rosinha — digo, rindo e devorando meu pedaço de bolo como se fosse a coisa mais deliciosa do mundo, e talvez fosse.

— Você está falando sério meu filho? — questiona mamãe parecendo intrigada.

— Ih, o assunto ficou sério agora meninão — diz meu pai bebericando seu café.

— Brincadeira mamãe, eu gosto da Marcela, não me vejo namorando outra pessoa que não seja ela — digo, e arranco um sorriso de minha mãe, ela ama quando falo assim, sempre diz que serei um homem adulto, um romântico, um lorde, não me enxergo dessa forma, mas não à contrario.

­— Pois eu acho que ela ainda não é o amor da sua vida, digo, penso que você deveria estar solteiro. Onde já se viu um rapaz tão novo e tão bonito se amarrar dessa forma, você deveria estar por aí, saindo com os jovens da sua idade e conhecendo novas pessoas — disparou Rosa, não sei o motivo, mas aquilo soou bem aos ouvidos. Dei um sorriso para ela. Rosa estava conosco desde que eu tinha quatro anos, ela cuidava muito bem de nós, e era nossa grande amiga e além da casa, administrava ser confidente do pai, da mamãe e futuramente de mim também.

Sans Voix - Sem VozOnde histórias criam vida. Descubra agora