Deus criou tudo que existe! Nada do que há no universo poderia ser formado sem Ele. Com sua sabedoria criou a terra, através da sua inteligência estabeleceu os céus. Pelo seu conhecimento os abismos se rompem, e as nuvens destilam orvalho. Deus fez tudo nos mínimos detalhes, cuidou e amou cada uma de suas obras. Com toda dedicação e entrega fomos criados, Ele jamais faz nada pela metade ou de qualquer jeito. O fôlego de vida do Criador habita dentro da criação, a vida de Deus me tornou um ser vivente. O que há dentro dEle também existe em mim.
Por acaso, Deus erra? Deus errou quando me fez? Algumas vezes essas perguntas inundaram a minha mente. Principalmente, quando todos da escola tiveram conhecimento do diagnóstico de daltonismo.
Desde criança nunca quis que as pessoas fora da minha família e círculo de amigos de infância — no caso, meus primos — soubessem desse distúrbio. Por fora e por dentro era um menino normal como qualquer outro, a única diferença é não conseguir perceber as cores como elas realmente são. O mundo que eu conheço é preto e branco, assim como assistir a um filme antigo em uma televisão sem PAL-M (PAL-M é o sistema de televisão em cores).
Não gostava de receber o olhar das pessoas depois delas terem conhecimento do meu caso. Era como se eu fosse uma aberração, a fisionomia delas mudava, alguns para deboche, outros para curiosidade.
É interessante a forma que o ser humano lida com o diferente, por mais que seja algo simples, por ser diferente a visão humana gera um entendimento de que aquilo é grandioso demais e precisa de atenção extrema, ou para o bem ou para o mal. Eu entendo muito bem disso.
Na escola, quando todos souberam, vinham me questionar para entender melhor como eu enxergava o mundo. A intenção de alguns era apenas sanar a curiosidade corroendo dentro de si, porém, outras em cada resposta soltavam risinhos ou trocavam olhares com pessoas ao redor, debochando. Invés de sentir raiva disso, eu sentia pena, pena porque pessoas vazias não sabem lidar com o que é diferente de forma positiva. Elas só conseguem ser vazias em suas próprias ações, porque dentro delas é oco.
Eu orava para Deus me fazer enxergar como todo mundo. Isso aconteceu até os 11 anos, quando papai conversou comigo dizendo que invés de ficarmos orando para Deus mudar algo que ele permitiu que me diferencia dos demais, eu devia ser grato por enxergar o mundo como Deus enxerga. Deus também enxerga o mundo preto e branco como eu, assim como enxerga colorido como meu pai. E não há problema algum nisso, Deus nos fez segundo a sua essência, caso algum dia Ele quiser me dar o presente de enxergar o céu e visualizar nitidamente o azul pintado em sua dimensão, ele vai fazer.
No entanto, não é algo que eu tenho que me perturbar todos os dias para que aconteça ou só saiba orar por isso.
Naquele dia, papai fez uma oração comigo, agradecendo pela minha vida e pedindo para Deus realizar a vontade dele em mim e através de mim. Depois daquela conversa, isso não me perturbou mais, até o dia que Letícia espalhou para todos a minha condição. Eu conversava com ela, gostava de sua amizade e além de estar apaixonado, confiava que ela não veria nada demais no daltonismo. Estava redondamente enganado. Ao contrário de Lua, ao saber que meu mundo é preto e branco, seus olhos brilharam, ela achou um máximo e isso me assustou profundamente. Isabella, a bocuda, contou à ela, e Lua não veio me fazer interrogações sobre nada, eu esperei, esperei e ela não veio. Isso aconteceu logo que ela chegou da Turquia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Nós e as Estrelas
Teen FictionLivro 3 de Ele Nunca Esqueceu Matheus Gonçalves Beltrão é o sonho de todas as jovens que o conhecem. Um verdadeiro príncipe! Sonho de consumo de Letícia Silva Andrade. O sentimento era recíproco, até o dia em que ela descobriu que Matt "não era tão...