Como não conseguir um emprego

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Depois de toda essa vergonha, cheguei em casa pronto para dormir e passar na linda da entrevista de emprego, já que uma grana própria é sempre bem vinda quando se é um estudante universitário, principalmente quando se vive muito longe de seus pais.
Acordei da minha hibernação quase atrasado para meu compromisso (mais um dia de desespero, e choca 0 pessoas). Mas chego a tempo na escola de música para crianças, onde se tudo der certo, darei aulas. Enquanto espero minha vez observo as turmas se organizando para a prática, e meu Deus, como são tão pequenas fofinhas e já tocam tão certinho? É o emprego dos meus sonhos, vou morrer de fofura em uma semana.
Percebam que estou aqui boiolando pelo emprego que ainda não tenho, enquanto a recepcionista está me chamando para entrar na sala do dono da escola, responsável pela entrevista (-1 ponto pela distração, parabéns Mark Lee). E como se o universo realmente estivesse rindo da minha cara, adivinhem quem está me esperando na famigerada sala? O presidente da República? O Papa? Não. Quem me aguarda nada mais é que o cara que eu beijei no avião, enquanto surtava por medo de morrer e nem perguntei o nome. E aqui acabam minhas chances de ser contratado. A não ser que ele tenha amnésia e não lembre do doido que agarrou ele ontem.
Mas em todo caso me faço de demente (nada de novo sob o sol por aqui), entro e me apresento com toda a educação do mundo.
- Bom dia, eu sou o Mark Lee, candidato a vaga de estagiário.
- Bom dia Mark, eu sou Nakamoto Yuta, professor titular, e responsável por conduzir sua entrevista.
Parabéns Mark por fingir demência e não ter sido expulso daqui sem nem falar nada. E muito obrigado a seja lá quem que está colaborando nem que seja por 5 minutos para que eu não passe mais uma vergonha, já que o moço do avião, que agora sei que chama Yuta, e espera um pouquinho. Ele é japonês? Será que ele só não entendeu uma palavra do meu surto em inglês ou está fingindo demência como eu? Baseado na minha sorte e nos fatos ele está fazendo a egípcia também, já que mesmo sem entender uma palavra do que eu disse, ainda assim eu gritei como ele, e o beijei do nada, e até onde eu sei esse não é o melhor método para parecer a pessoa mais sensata do mundo. Parabéns novamente Mark, se conseguir esse emprego é por um milagre. Mas enquanto estou divagando sobre os acontecimentos no mínimo peculiares da minha vida, Yuta está me perguntando alguma coisa sobre meu currículo que eu não ouvi. Ótimo, menos 2 pontos.
- Como tem sido seu desenho acadêmico Mark?
- Que? Ah, desempenho, ok. Minhas notas são boas, tenho levado a vida acadêmico com tranquilidade. - Falei bonito pelo menos.
- Pode dizer o por que deveríamos contratá-lo? - Beleza, alerta vermelho, quais motivos ele teria para me escolher? Se não fosse a maldita turbulência de ontem estaria tudo tranquilo, poderia ter no máximo falado oi para ele no avião e ter fingido jamais ter medo de morrer numa viagem aérea. Mas agora ele perguntar por que deveria me contratar parece quase uma pergunta retórica cuja resposta seria: tu é doido garoto, não importa o que fale agora não vou te contratar, mas estou cumprindo a formalidade de fazer a pergunta. Sou muito confiante, vejam só. Mas ninguém precisa saber disso agora, então vou falar o óbvio.
- Sou muito dedicado aos estudos, amo o que faço, e seria um sonho realizado poder levar o conhecimento sobre música as crianças, além de ter paciência para lidar com os pequenos. - Falando assim nem parece que surtei no avião com ele. Será que ele acreditaria que eu tenho um irmão gêmeo surtado, e que eu sou o calmo, tranquilo e certinho entre os dois?
- Mark, você tem irmãos?
- Não, sou filho único. - Aí, maldita seja minha falta de freio na língua, acabei de matar minha última chance de enterrar a história do avião.
- É que ontem eu estava voltando para Seul, depois de visitar alguns amigos de Busan, e alguém muito parecido com você quase me jogou pela janela do avião depois de entrar em pânico por conta de uma turbulência. Não consegui perguntar o nome dele para quem sabe entrar em contato mais tarde e saber se ele estava bem. - poxa olha como ele é fofo meu Deus, eu achando q ele ia me esganar, e na verdade ele estava preocupado com o doido, que agora ele vai ter certeza que sou eu porque sou uma manteiga derretida que não vai mais conseguir enganar o moço.
- Na verdade esse cara era eu sim, eu tenho muito medo de aviões, mas sendo o modo mais rápido de chegar aqui acabei achando que ficaria tudo bem por ser um percurso relativamente curto, mas me desculpe pelo grande inconveniente - adicione um risinho de nervoso aqui, ou pode chamar de gay panic - não só por ter te acordado e gritado no meio do voo mas por ter te beijado do nada, eu não sou um pervertido, só tenho medo de altura - nossa Mark, ninguém reparou ainda que você tem cagaço até de subir escada.
Mas Yuta me surpreende pelo que deve ser a décima vez desde que o vi pela primeira vez ontem, e ri comigo, além de não chamar a polícia, ou sei lá, uma ambulância para me levarem a força para uma sessão de terapia.
- Está tudo bem Mark, só queria ter certeza que era você e não deixá-lo com vergonha do que houve, e pode ficar tranquilo sobre o medo de altura e aviões, eu teria a mesma reação se uma barata aparecesse voando aqui agora. - Agora estou mais do que chocado, então quer dizer que ele não gritou comigo ontem nem nada simplesmente porque também tem uma fobia aleatória e entendeu que eu estava com medo o suficiente, e que alguém se estressando comigo pioraria o problema?? Se eu abraçar ele aqui perco de vez minha chance de ser conseguir o emprego? Porque meu Deus, esse moço é um anjo, só pode.
- Então você não está bravo pelo que aconteceu ontem? Tenho chance de trabalhar aqui? - lá vai a ansiedade falando alto.
- Não só tem, como pode vir trabalhar amanhã, você foi de longe o candidato mais sincero sobre querer de fato trabalhar aqui, e parece realmente que tem habilidade para lidar com crianças. - Imaginem minha cara de choque agora. Multipliquem por 10. Ainda estará longe de como estou me sentindo agora. Estava pronto para ser escurraçado e voltar para casa para chorar ouvindo todas as músicas do Chen (vamos combinar, eu ouviria a discografia daquele homem num looping infinito por toda a minha vida), mas aqui estou eu com cara de pastel para o cara que acabou de me contratar quando eu menos esperava, esse que por sinal é com toda a certeza um anjo, por que uma pessoa normal não pode ser tão fofa assim. Me segurem que eu vou abraçar ele.
- Muito obrigado, muito obrigado mesmo, eu nem tinha mais expectativas de ser contratado depois do que aconteceu ontem, e tudo o mais, você é muito um anjo, vai ser uma honra trabalhar contigo Yuta. - E depois desde discurso emocionado, não aguentei e abracei ele. Impulsividade 1x0 sensatez. - Desculpa por isso mas eu precisava mesmo te dar um abraço.
- Tudo bem, é bom que estamos nos dando bem já que vamos trabalhar juntos a partir de agora.
- De novo muito obrigado pela oportunidade, prometo não decepcionar.

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