Entre Panelas e Vestidos

Capítulo 8 - Final

- Eu fui fechada no meu próprio armário e roubada por esta inconsequente. Acreditam que ela roubou até um conjunto de talheres? Para quê meu Deus? Ainda se fossem de prata. – O quê? Não são de prata? Fui enganada. A minha vontade é de esganar a Dona Marta.

- Posso confirmar. Encontrei-a fechada no seu armário quase inconsciente e ainda tem gravações de uma câmera oculta mostrando a senhora Claudia roubando alguns objetos da casa. – O gostosão do namorado da Dona Marta explica. Câmera oculta? De onde surgiu isso?

- Foi só o conjunto de talheres fajuto e uma estátua de mau gosto. Alguém te ouve falando assim, pensa que roubei a casa inteira. – Falei alterada. Quem o gostosão pensa que é para acusar-me assim?

- Não te esqueças do vestido. – Fala a Dona Marta

-Oh! Confissões aparecendo. – O carequinha passou a mão no seu queixo fitando-me com cara de gozo. Ele deveria ir fazer um transplante capilar isso sim. Que homem irritante.

- A minha namorada foi agredida e eu perseguido durante dias por esta demente. Ah...ela roubou a minha escova de dentes. Tenho testemunhas. – Wilinho dedo duro. Não sei como fiquei apaixonada tanto tempo por ele.

- My God. E eu, roubado por uma linda crioula. Pode isso?

- O que é isso grisalho? Até você? Não roubei o teu gato não mentiroso. Foi só uma carteirinha com nenhum dinheiro, Aff!

- E o meu relógio girl? Eu não preocupo-me com o dinheiro mas sim com o relógio. Ele é uma peça sentimental. Está na família faz séculos.

– E ainda chama-me de grilo. Não sou um grilo grisalho. Mais respeito por favor. Só estava ajudando o senhor. Aqui está o seu relógio – Caracóis! Estes homens precisam de um manual para aprender a falar com uma mulher. – Se não fosse eu, o senhor já teria perdido uma relíquia de família. Estás a ver?

- Parece que desta vez roubaste bem cabeça de vento. – Diz Dona Marta, analisando as suas unhas com cara de pepino ressequido.

- Não roubei nada Dona Marta. Apenas estava guardando os pertences.

- Guardando na tua bolsa? – A Dona Marta fita-me com cara de deboche.

- Ué... Sim. Não existe lugar mais seguro.

- Senhora Claudia! Aguardarás julgamento em regime fechado, pois revelas-te ser um perigo para a sociedade.

- Não, por favor. Estou arrependida por tudo que fiz. Desculpa-me Dona Marta, desculpa-me grisalho. Até você Wilinho e a sua amante sem sal. Sabem que eu não bato bem da cabeça. Cai na sanita quando eu nasci. A minha mãe fechou-me num poço por cinco anos. O meu pai fugiu de casa por maus tratos domésticos. – Ajoelhei na frente deles implorando por clemência

- Isso é mentira Claudia. Porque nunca disseste-me isso? – A Dona Marta pergunta com cara de desconfiada. – Trabalhas para mim há cinco anos e nunca mencionaste isso.

- É verdade Dona Marta. Passei fome e frio durante aqueles cinco anos. Só não fiquei com sede porque estava fechado num poço, óbvio. Fui tirada dali pelos meus vizinhos só porque a minha mãe morreu de diarreia e no seu leito da morte pediu para que soltassem-me.

- Nossa. Que tragédia menina. – O grisalho veio abraçar-me, emocionado com a minha história.

- Espera. Como sobreviveste fechada dentro de um poço por cinco anos? Isso parece muito estranho. – O carequinha pergunta. Que homem mais chato.

- Quieto Valdo. Não vês que a senhora está a sofrer? – O delegado reprende-o. Valdo? Então este é o nome do carequinha?

- Fui morar debaixo de um duto, comendo ratos e baratas. Até que finalmente encontrei a Dona Marta. A única alma boa na minha vida. Foi como uma mãe para mim.

- Já chega! Não aguento mais ouvir isto. – A essa hora, a Dona Marta chorava ajoelhada junto comigo. – Ninguém merece viver assim. Olha, vou tirar todas as acusações que eu fiz. Podes ficar com os objetos que furtaste. – Ela secou as minhas lágrimas, depositando um beijo na minha testa.

- Obrigada Dona Marta. A senhora é um anjo.

- E eu só tenho motivos para agradecer-te my sweety. E oferecer-te-ei um apartamento. Não é muito, mas pelo menos terás onde morar. – O grisalho disse, já tirando o seu talão de cheques.

- E não precisas preocupar-te com os meus arranhões. Afinal, todos temos um dia ruim não é mesmo? Eu e o Wiliam também retiraremos as nossas queixas. Não é Wiliam?

- Ah...sim, claro. Mas com a condição de ficares longe das nossas vidas. E podes ficar com a escova de dentes pelo amor de Deus! – O Wiliam é o único que não abraça-me, fazendo questão de ficar longe.

- Muito obrigada minha gente. Afinal, ao que parece todos são uns anjos que apareceram na minha triste vida. Não sei como agradecer-vos.

- Não tens de quê minha menina. O teu emprego está garantido também. – A dona Marta afaga os meus caracóis e eu sinto uma grande paz interior.

- Ao que parece, estas livre. Todas as acusações foram retiradas.

- Injustamente. – O carequinha resmunga do outro lado da sala.

- Cala a boca Valdo!!! – Todos gritaram ao mesmo tempo.

- Muito obrigada minha gente. Acho que irei para casa de uma amiga minha. Preciso descansar. O dia foi cheio.

- Posso mandar uma viatura levar-te até a sua amiga. Já anoiteceu e é perigoso uma moça andar sozinha.

- Não leve-me a mal seu delegado, mas prefiro não chegar lá numa viatura da polícia. Os vizinhos são fofoqueiros.

- Eu posso pagar-te um táxi. – Ofereceu-se a amante sem sal do Wiliam.

- Claro querida. Muito obrigada. – Peguei o dinheiro, minha bolsa e sai da delegacia, não antes sem despedir de todos com grandes abraços e beijinhos calorosos.

Já no táxi, tirei o meu telemóvel e disquei para um número já conhecido.

-Alô? Mãe? A senhora nem vai acreditar no que aconteceu-me hoje. Enganei quatro otários e ainda recebi um apartamento de presente.

Fim

Palavras: 987
Total: 4990

Glossário

My God - Meu Deus (em inglês)

girl - rapariga (em inglês)

my sweety - meu docinho (em inglês)

telemóvel - aparelho de comunicação móvel (celular)

Eba! O final chegou. Gostaram? Se não gostaram, digam-me como gostariam que fosse o final da Claudia.

Foi um prazer escrever este conto e principalmente ter-vos como leitores.

Beijinhos de chocolate quente neste calor. Kkkkk
😘😘😘💕💕💕