all my days are filled with tears

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TEXAS — Universidade Batista de Wayland, 2016. Anfiteatro. 20:04

Deanna Winchester

Se Sammy estivesse dentro daquela sala, Jesus, eu teria dados empíricos de que ele era um nerd em absoluto. O amplo anfiteatro era limpo e refrigerado, e eu tinha certeza de que aquele era o lugar onde Sam deveria estar.

Não eu.

Olhei para o relógio no meu celular. Naquele momento, Alce deveria estar orando com Mary e John na mesa de jantar, tentando horrivelmente se esquivar de fazer uma prece para poder comer em paz. Ironicamente, eu desejava que Deus tivesse piedade do meu irmão naquele último ano escolar e pedia para que ele passasse na faculdade de Direito mais distante possível dos nossos pais.

Na boa, pensei comigo, Mary e John merecem tratamento psicológico. E então revirei os olhos, sorrindo debochada para ninguém especificamente, Mas, como sempre, o jogo se volta contra mim e cá estou, me sentindo uma pré—adolescente ansiosa tentando me livrar de mais uma sessão de terapia.

Não que não ajudasse, já que todas as divindades existentes sabiam o quanto eu havia evoluído com aquele papo motivacional e técnicas de respiração... mas saber que eu precisava estar ali, isso sim era um peso gigante.

Escutei um estrondo atrás de mim e, quando me virei, pude vislumbrar Dr. Shurley acompanhando outros integrantes do grupo de apoio que a universidade oferecia para dentro do anfiteatro gelado: — Meu nome é Chuck Shurley e vocês estão no Disney Channel!

— Está mais pra SyFy! — alguém berrou do outro lado da sala, e eu comecei a me levantar para ir até o palco onde sempre nos reuníamos para formar uma roda. Ri baixinho.

— Muito engraçado, Charlie — Dr. Shurley retrucou, uma onda de risadas reverberando pelo enorme ambiente — Vamos, crianças, formem uma roda para que o tio Chuck consiga ver todos vocês.

— Talvez você precise de novos óculos — aproximei—me do homem baixinho e ele revirou os olhos, mas sorriu logo depois: — Winchester, como sempre tão engraçada! Por que você não vai se sentar enquanto eu faço a contagem básica? Você sabe como eu posso me embaralhar se vocês estiverem se movendo.

Ri pelo nariz, sentando—me ao lado de uma garota chamada Cassie. Ela tinha entre os dedos uma caneta rosa com um diamante de plástico roxo completamente horroroso na ponta, esfregando furiosamente em seu pequeno caderno de gatinhos algumas linhas que eu não conseguia distinguir.

Não posso dizer que eu não a achava um pouco estranha, mas se todos nós não fossemos... não haveria necessidade de estarmos lá. Fiquei observando—a, por mais assustador que parecesse, enquanto arrumava minha mochila sobre minhas pernas cruzadas, minhas botas cutucando a parte inferior das minhas coxas. Ela estava concentrada, com os cabelos ondulados caindo nas laterais do rosto, a boca entreaberta e com olhos que eu incrivelmente ainda não havia memorizado...

— É um pássaro.

Caralh— ai, Jesus Cristo, não me leve agora. Meu coração! — pousei uma mão sobre meu peito, não ligando para a estupefação que o ato trazia ao rosto de Cassie — Você me matou de susto, menina!

— Desculpe, eu fui um pouco idiota em falar assim com você — seus olhos encontraram os meus rapidamente, cor de céu limpo no Inverno.

Muito, mas muito mesmo, azuis.

Balancei minha cabeça: — Não se ofenda dessa maneira. Não foi nada demais — não parecia ser "nada demais" pro meu coração acelerado, mas ela não precisava saber disso.

changes ❄ fem!destielOnde histórias criam vida. Descubra agora