Capítulo 1

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O sol estava se pondo. O céu brilhava com diversos tons, do rosa ao azul. A parte mais distante da cidade de Hlesey já estava na escuridão. Nada lá era seguro e o comércio clandestino estava em seu ápice. Não que isso fizesse diferença para os habitantes da cidade. Esse era o segredo para se ter uma sociedade pacífica, ignorar os problemas.

As crianças do orfanato central da cidade já haviam retornado para o prédio onde viviam. Esse era o único lugar onde crianças sem suas famílias podiam sobreviver em uma cidade como essa.

Apenas metade do grupo de crianças estava nas ruas, sendo acompanhadas por duas mulheres que os supervisionavam após uma tarde em que foram visitar o grande museu de história da cidade.

Entre essas crianças estava Andréa. Uma garota cuja idade era de 16 anos. Seus pais morreram em um tsunami quando ela tinha 4 anos. Eles eram tudo o que ela tinha.

Desde então ela vive no orfanato central. Lá raramente uma criança era adotada, por causa da burocracia, do nojo e pela falta de vontade. As pessoas valorizam mais os que são de seu próprio sangue.
Andréa ia ser transferida para o orfanato da periferia na próxima semana, pois lá aceitavam crianças mais velhas, ao contrário da maneira em que o outro orfanato funcionava.

Ao andar nas ruas, ela percebeu olhares de desgosto em sua direção. Não era novidade que sua pele escura e cabelos crespos chamavam atenção na cidade. Afinal era uma cidade dominada por brancos de classe média com seus olhares de asco e nariz empinado. Em uma outra época eles se juntariam ao nazismo, se é que já não estão relacionados a isso.

Os cabelos de Andréa eram tratados clandestinamente, por cabelereiros que viam o estado bagunçado e mau cuidado do seu cabelo, por causa de shampoos baratos que eram usados nos orfanatos e tinham pena da pobre garota. Afinal de contas, às vezes as pessoas podem ser boas.

Ela poderia sonhar com as possibilidades para seu novo lar. Poderia passar horas devaneando sobre seu futuro incerto. Mas isso acabaria em uma ilusão impalpável de felicidade ou de isso acabar sendo algo além da sujeira em que todos pisam. Ela perdeu a esperança de ter algo melhor anos atrás.

Talvez tenha sido o pôr do sol, ou talvez as risadas distantes vindas de bares. Ou pode ter sido essa nova oportunidade de um recomeço, mas dentro dela uma ponta de esperança começava a ganhar forma. Não a levaria a nada. Não tem salvação para crianças velhas de orfanatos.

Você vive a vida inteira em um prédio onde mal te alimentam e definitivamente não te dão todo o carinho que um ser humano precisa, e após tudo o que passaram juntos você é largado na rua. Sem dinheiro, sem família, sem casa, sem nada além das roupas do corpo.
Mas isso não é problema, visto que ninguém se importa com os órfãos. Só servem para comer a comida que cai da mesa. São as pessoas que dependem da generosidade escassa dos outros. Vivem à custa de piadas e julgamentos.

Não se sabe ao certo como funcionam os orfanatos em outros países, mas em Thrudhein as coisas são assim. Sempre foi assim, e talvez seja assim para sempre.
Mas é como dizem, nada é eterno. Tudo tem seu fim. Talvez até o desespero e a desesperança. No final das contas é disso o que somos feitos. Somos uma massa vazia, mas cheia. Cheia de desespero, ansiando por algo que nem se sabe se existe. Nem se sabe o que se procura.

Thrudhein é um país com influência da cultura nórdica. É localizado na Europa entre a Noruega e a Suécia. É um país pequeno.

Há dois anos Andréa foi recrutada por agentes do governo para um experimento. Ela não sabia nada do que se tratava. Mas foi dito a todos que estavam na cela junto com ela que isso seria sua salvação. Foi dito que aquilo era uma passagem de ida para um lugar melhor. Para sair da miséria de sua vida.

Perdidos De CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora