Capítulo 3

1.8K 79 19
                                    

Finalmente meu expediente havia acabado, estava escurecendo, o clima já não era o mesmo, o frio e a neblina tomavam conta da floresta. Passei na tenda principal para receber meu ouro, que como sempre, era muito pouco para manter as despesas, peguei meus pertences e segui para casa.

Passei em frente à casa de Mariah, mas não a chamei, eu ainda estava meio atordoado com toda aquela conversa.

Passei também quase em frente a área real, onde ficava o enorme castelo abandonado, ninguém ousava entrar ou destrui-lo, ele apenas ficava lá, intacto, como se ainda houvessem moradores. Dei de ombros e continuei caminhando até chegar em minha casa, bati de leve na porta.

-Só um instante, ja estou indo. A voz de minha avó ecoou.

Segundos depois, a porta se abriu, minha avó limpou as mãos em seu avental, e estendeu as mesmas em direção ao meu rosto, senti suas mãos geladas tocarem minha bochecha, e logo após dela puxou meu rosto e beijou minha testa.

-Como foi o trabalho querido?. Ela tossia tanto, que mal conseguia falar.

-Foi normal, a mesma coisa de sempre. Vou colocar o pagamento de hoje na sua caixinha.

-Meu bem, você é um doce, mas hoje quero que você use seu pagamento para comprar algo para você.

-Tudo que eu sou, devo a você vovó.

Entramos, e eu logo pensei em fazer uma surpresa a ela, mas antes de sair, me lembrei da foto que encontrei, ela estava guardada em meu bolso, então a peguei e comecei a analisa-la.

Era uma moça, devia ter uns 18 anos, era corada, em sua cabeça havia um enfeite, uma flor rosa, que realçava seus cabelos longos e castanhos, ela usava um vestido longo de manga comprida que aparentava ser muito caro, seu sorriso era lindo, ela era definitivamente a moça mais bela que eu já tinha visto. Eu queria muito saber quem era ela, mas na foto não tinha nenhum nome, data ou endereço.

Logo interrompi meus pensamentos, e me lembrei da surpresa, então peguei meu pagamento, e sai para o mercado.

Chegando no mercado, fui em busca de algo que conseguisse comprar com apenas duas moedas de ouro, andava de uma tenda a outra, olhando o preço das mercadorias, até que finalmente encontrei um colar, combinava perfeitamente com seu tom de pele, era dourado e brilhante, e possuía um lindo pingente em forma de coração. Tirei minhas moedas do bolso.

-Por favor, eu gostaria de comprar este colar.

-Claro meu jovem, são duas moedas.

Entreguei as moedas ao vendedor, ja conseguia até imaginar o quanto ela ficaria feliz, minha avó era uma mulher muito humilde, se satisfazia com qualquer coisa que lhe dessem.

Cheguei em casa e bati na porta novamente, mas ela já estava aberta.

-Vovó, venha aqui, eu tenho uma surp...

Meu coração se acelerou, eu não acreditava no que estava vendo, aquilo não podia ser verdade, meu estômago deu um nó, e instantaneamente meus olhos transbordavam de lágrimas.

Minha avó estava deitada no chão, suas pálpebras e boca estavam roxas, e um risco de sangue escorria de seu nariz, me ajoelhei no chão, e gritei desesperadamente por ajuda, logo apareceu duas moças, uma delas era Mariah, e a outra não pude identificar quem era, por conta de meu nervosismo.

-Henry, o que aconteceu aqui?

-Eu não sei, eu sai por alguns minutos, e quando voltei, a encontrei assim. Afirmei, minha voz falhava, e minhas mãos tremiam.

Mariah colocou seus dois dedos no pescoço da minha avó, para sentir a pulsação de seu coração, mas não havia mais batimentos. Enquanto a outra mulher apenas observava tudo aquilo, sem dizer uma palavra sequer.

Então Mariah se abaixou e colocou sua mão em minhas costas, eu estava imóvel e minha respiração ofegante.

-Eu sinto muito, vamos sair daqui, vou chamar alguém para cuidar disso.

Ela se levantou e estendeu a mão para mim, eu me levantei ainda incrédulo, e as lágrimas desciam em meu rosto sem hesitação, ela segurou minha mão, e nós caminhamos para fora da casa.

Algumas horas depois, eu estava mais calmo, apesar de ainda muito chocado. Mariah se aproximou de mim, e se sentou ao meu lado em silêncio.

-Obrigado por me ajudar naquela hora.

-Não precisa me agradecer, amigos servem pra isso.

-Onde está a outra moça? Quero agradece-la também pela ajuda.

-Moça? Henry, não havia mais ninguém lá, somente eu, você e o corpo de sua avó.

-Eu a vi, ela estava com um vestido azul, e estava nos observando!

-Eu tenho certeza de que entrei sozinha naquela casa, você deve ter visto coisas, já que estava muito nervoso.

Mariah avistou o Sr. Dinel, ele se aproximou de nós e parou na minha frente.

-Sinto muito pela sua perda, pediram que eu lhe avisasse que o velório vai começar.

Ele se afastou, e eu me levantei, novamente senti aquela dor, a mesma de quando vi minha avó morta no chão, as lágrimas eram incontroláveis,

-O que vou fazer agora? Não tenho mais família, sinto como se meu coração fosse arrancado sem piedade. Eu disse com a voz chorosa.

Mariah não sabia o que fazer ou dizer naquele momento, ela poderia apenas ficar em silêncio e prestar seu luto.

-Não se preocupe Henry, as pessoas são como as frutas, as melhores são colhidas primeiro.Tudo vai dar certo.

Eu apenas balancei minha cabeça, e nós fomos até minha casa.

O Segredo RealOnde histórias criam vida. Descubra agora