Capítulo 5

1.5K 65 29
                                    

Voltei para casa caminhando vagarosamente, não queria ter que encarar tudo aquilo de novo, o chão ainda estava molhado, e o ar, frio. Minha mente estava dividida, uma parte não esquecia a cena de encontrar minha avó morta, e a outra, não esquecia do rosto de Serena, e de saber que eu não poderia vê-la novamente, eu não gostava destas sensações, na verdade, eu nunca havia sentido nenhuma delas antes, mas apenas não gostava.

Cheguei até a varanda da minha casa, respirei fundo, e entrei, a mesma se encontrava vazia, mas não só vazia fisicamente, ela estava vazia de sentimentos, assim como eu.

***

Um mês havia se passado, minha rotina continuava a mesma, porém agora, com a ausência de minha avó. Eu continuava a pensar por onde Serena estaria agora, e as vezes me pegava relembrando o dia em que passamos a tarde juntos. Eu queria muito reencontra-la.

-Heeeeenry, sabe que dia é amanhã?.Mariah chegou falando extremamente alto.

-Dia 5 de Janeiro. E fale baixo por favor. Eu respondi grosseiramente.

-Não seja chato, amanhã é o seu aniversário, e eu vou preparar uma festa para você. Ela disse batendo palmas.

-Ah não, festa não, não suporto festas,e não há necessidade de gastar seu dinheiro com isso.

-Ora, eu não te questionei se você quer ou não, eu afirmei que irei fazer uma festa para você, e em relação ao dinheiro, não se preocupe com isso. Ela riu.

-Bom, então vai ser uma festa, sem o aniversariante. Eu ri de volta.

-Você não ousaria faltar, a não ser que queria ser arrastado para fora de casa pelas orelhas. Ela me lançou um olhar maligno.

-Ou ou, tudo bem, eu vou, não precisa usar a violência. Peguei uma mecha de seus cabelos e joguei em seu rosto.

-Esteja lá, assim que o sol se pôr.

-Sim senhora, a vossa majestade deseja algo mais?

-Não seja bobo. Ela caiu na gargalhada. -Estou feliz por você estar bem, com todas as coisas que aconteceram.

-Estou me esforçando. Dei um sorrisinho forçado.

***

No dia seguinte, levantei cedo, pois agora era eu quem fazia o meu café, vesti minhas roupas, e fui trabalhar. Meu dia foi como os outros, a única diferença, era que as pessoas estavam me parabenizando pelos meus 20 anos.

A noite já estava quase chegando, fui para casa me arrumar, não poderia chegar na festa, ou melhor, minha festa, cheirando à um grande suíno.

Tomei um banho demorado, era tranquilizante sentir a água escorrer sob meu corpo, sai do banheiro e me enrolei em uma toalha para procurar a roupa que eu usaria naquela noite. Resolvi então, vestir uma blusa verde escura de manga comprida, uma calça preta e um par de botas bege. Passei a toalha para tirar o excesso de água que estava no meu cabelo, apenas passei a mão, sem pentea-lo e sai.

Quando coloquei meu pé para fora de casa, Mariah me surpreendeu com um abraço, e me arrastou até a casa dela.

-Vamos logo, ja está todo mundo te esperando.

A casa era enorme, quadros e porta- retratos decoravam as paredes escuras, os móveis eram muito bem feitos de madeira, uma lareira aquecia e iluminava o local, juntamente com alguns castiçais, no centro da sala, uma mesa estava posta, com vários tipos de comidas e bebidas, haviam várias pessoas naquele local, todas muito bem vestidas, elas me saudavam, e eu ia ficando cada vez mais acanhado. Mariah sempre olhava para mim, e fazia gestos para que eu sorrisse.

-Mariah, vou lá fora um pouco para tomar um ar.

-Está tudo bem?

-Claro, só preciso de um pouco de ar.

-Está bem, se precisar de algo, estarei aqui dentro.

Eu abri a porta e andei em direção ao campo, a noite já havia chegado, e o frio também. Me sentei na grama, fechei os olhos, e apenas curti o momento, o som das folhas balançando, os grilos e sapos, o assobio do vento, tudo aquilo me proporcionava paz e tranquilidade.

-Serena, onde você está? . Sussurrei.

-Estou bem aqui.

Resolvi abrir meus olhos, e levei um enorme susto, Serena estava parada em pé, inclinada com seu rosto bem perto do meu, desta vez, ela usava um vestido comprido branco com detalhes dourados e um capuz vermelho, seus cabelos e seu vestido voavam no balanço do vento, como se estivessem em uma dança, eu não havia percebido como seus olhos eram incrivelmente verdes e lindos.

-Olá Sr. Zangado. Ela disse sorrindo.

-Serena! Por onde você andou? Achei que nunca mais a veria.

-Bom, nós não poderíamos estar nos vendo novamente, mas Cath me deu uma ajudinha de novo, e eu pude vir aqui vê-lo pela última vez, já que o... hum, deixa pra lá.

-Cath? É sua irmã? Você não me contou nada sobre você, tem tantas coisas que eu gostaria de sab...

-Não posso lhe contar, lamento.

-Eu pensei que nós poderíamos ser, er, amigos.

-Mas não podemos.

-Heeeeenry. Ouvi Mariah gritando meu nome e vindo em minha direção.

-Desculpe Henry, eu gostaria mesmo de te explicar tudo, mas não posso.

-Explicar o que?

-Adeus Henry. Serena se levantou, mas antes que ela pudesse correr e sumir, eu a segurei, sua pele era fria como uma pedra de gelo.

-Não vou deixar você partir assim, já basta aquele dia na floresta.

Mas Serena foi mais esperta, percebendo que eu não estava a segurando com força, puxou seu braço, e saiu correndo.

Logo eu corri atrás dela, sem que ela pudesse perceber.
-Ela me deu uma segunda chance, não vou desperdiça-la. Eu sussurrei para mim mesmo.

O Segredo RealOnde histórias criam vida. Descubra agora