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Andreah

Lily ergueu uma sobrancelha quando voltei para casa no domingo, mas não disse nada. Acho que, como cheguei em casa inteira, ela não faria comentários. Havia me dito uma vez que eu era idiota e, para ela, fora alerta suficiente. E Lily tinha outras coisas para ocupar seu tempo: Nigel lhe telefonou à noite para convidá-la à festa beneficente de gala.

Ela aceitou e eles conversaram todo dia desde então. Naquela mesma noite de domingo, enquanto Lily conversava com Nigel, eu estive ocupada. Sentei na cama com o notebook na mão e entrei em meu histórico de navegação. Precisava ver a foto da antecessora novamente. Tinha de saber se ela estava com a minha coleira. Tamborilei os dedos no queixo enquanto esperava.

A minha coleira. Poderia ser realmente minha, se outras incontáveis mulheres a haviam usado? A página carregou. Lá estava Miranda, mas meus olhos não foram atraídos a ela, só a sua acompanhante.

Soltei um suspiro de alívio quando vi que ela não estava com a gargantilha de diamantes.

Em vez disso, usava um colar de pérolas. Tombei a cabeça para o lado. Será que Miranda lhe dera uma coleira de pérolas? Frustrada, desliguei o notebook e fui para o banho.

De segunda a sexta-feira, fui trabalhar como sempre em uma das bibliotecas públicas de Nova Iorque, cercada de livros e de pessoas que os adoravam. Os livros costumavam me acalmar. Costumavam é a palavra-chave. Pois dois dias na semana, eu dava aulas particulares de inglês e literatura a adolescentes.

Gostava de ajuda-los, ver a luz em seus olhos enquanto trabalhavam em um problema mais complicado ou descobriam uma nova habilidade. Na quarta-feira, porém, um de meus alunos me pegou passando o dedo por minha coleira. Bastou um simples "Bonito colar, Senhorita Sachs" para me deixar toda agitada. Miranda me proibira de tirá-la. Tentei não pensar no que os pais do garoto diriam se soubesse o que fiz no último fim de semana. O que pretendia fazer neste fim de semana.

Não é da conta de ninguém. Meu tempo é só meu, pensei, assentindo, depois me ocorreu: Meu tempo nos fins de semana não era mais meu. Era de Miranda Priestly.

A semana foi longa até sexta-feira. Tecnicamente, não se passou nem uma semana desde que a vi, apenas cinco dias. Mas pareceram dez.

Miranda esperava por mim quando parei em sua casa de campo naquela noite às seis em ponto. Tinha servido pratos de capelinni com molho de mexilhões.

— Como foi sua semana? – perguntou ela quando engoli a primeira garfada.

— Longa. – Sorri de canto. Não precisava mentir sobre isso. – Como foi a sua?

Ela deu de ombros. É claro que ela não admitiria que ansiava pelo fim de semana. Mas, mesmo que não dissesse, de maneira nenhuma teria tantas palpitações no estômago como eu. O que vamos fazer esta noite? Ela vai me tocar? Lembrei-me de como suas mãos tinham percorrido meu corpo no domingo e estremeci.

— Patrícia matou um esquilo.

Apenas assenti. Era loucura, nós duas sentadas e jantando como se fossemos um casal normal. Como se fosse uma noite normal de sexta-feira. Como se ela não tivesse me acorrentado nua há menos de uma semana e me açoitado com o chicote.

Como se eu não tivesse gostado daquilo.

Remexi-me na cadeira.

— Minha amiga, Eliza, trabalha em um ateliê e trouxe um vestido mais cedo. Ela está ansiosa para conhece-la.

Minha cabeça se virou de repente.

— Suas amigas? Todo mundo sabe sobre nós?

Ela torceu uma porção de macarrão no garfo e levou à boca. Aquela boca. Aqueles lábios.

50 tons de Mirandy [ADAPTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora