Um bom tempo se passa, agora tenho dose anos, muitas coisas na cidade mudaram, ela esta maior, a muitas pessoas novas, isso de certo modo me incomodava, sempre gostei da rotina de ver as mesmas pessoas sempre, isso me trazia uma espécie de alivio, eu era uma pessoa sociável, tinha apenas dois amigos Cristine e Eddie, meu pai me dizia que amigos são diferentes de colegas, colegas são como as pessoas que estudam com você, mais amigos são aqueles que permanecem com você até o fim, Cris e Eddie eram assim, eles sempre estavam comigo e eu com eles não importa o problema, até no dia em que tudo mudou.
Minha mãe agora trabalhava das sete horas ate as vinte e três horas, antes ela trabalhava somente até às dezessete horas, ela me disse que acabou subindo de cargo e começou a atender somente no balcão, eu achei isso incrível porem, ela teria que trabalhar o dobro, eu sempre acreditei na minha mãe, nunca fui à loja onde ela trabalhava, e ela também nunca me levara, eu achava isso um pouco estranho mais sempre deixei isso quieto, eu deveria ter procurado onde ela trabalhava, mais quando eu descobri já era tarde demais.
Estudava no colégio estadual da minha cidade, ele era grande, ás vezes eu me perguntava se a cidade precisava de um colégio grande como aquele, sempre sobrava salas, não tinha alunos suficiente, eu, Eddie e Cris estudavam na mesma sala, sentávamos na mesma fileira, sempre unidos. Cristine era a mais inteligente, Eddie o mais audacioso, eu era apenas eu, era bom em jogos de xadrez, quebra-cabeça ou algo do tipo, gostava de resolver casos, nunca pensei que isso poderia se transformar em minha profissão. Sempre depois da escola nos íamos no lago da cidade, ele era grande, sua agua era cristalina e havia cerca em todo seu contorno além de arvores e pessoas cuidando, sempre que entravamos lá sentávamos no primeiro banco que víamos, e lá nos ficávamos, olhando para suas aguas cristalinas, era uma espécie de calmante pra gente, pois todos nos tínhamos problemas em casa. Cristine lidava com a ausência de seus pais, eles ficavam tempo de mais na farmácia e assim eles davam tudo que Cristine queria para compensar a sua ausência, mais nada ocupava aquele lugar, ela sempre dizia isso pra mim. Eddie lidava com a constante briga de seus pais, ele nunca gostara de sua mãe, ele dizia que ela era como uma espécie de peste e que seu pai tinha que suportar ela todos os dia, isso de uma certa forma me assustava, pois, a única pessoa que me sobrava era minha mãe, e eu lidava sempre com a falta de meu pai, ele nunca voltaria. Todos nos realmente tínhamos problemas.
Minha mãe e Arthur estavam bem próximos agora, isso de certa forma me deixava mal, não que eu fosse assim, mas a presença da aquele homem não me aparentava ser do bem, por mais que ele quisesse passar essa imagem, ou talvez, fosse tudo coisa da minha cabeça e o medo de perder a única pessoa que me restara, isso gritava bem alto dentro de mim, queria ter ouvido mais essa voz, mais já era tarde.
Arthur trabalhava na impressa de flores da cidade, se eu não me engano ele tinha um alto cargo lá, certo dia ele convidara minha mãe para uma expedição por essa impressa, mais minha mãe recusara.
Minha mãe era uma mulher bem ocupada, agora com seu novo cargo no trabalho ela estava mais ainda, ela nem estava chegando bêbada mais em casa e isso me deixara muito feliz, se eu soubesse o que iria acontecer eu iiria preferir, que ele chegasse sempre bêbada em casa.
Era uma sexta feira bem chuvosa, as nuvens estavam com uma tonalidade negra, nunca vira o céu da aquela forma, sentia medo, minha mãe ligo pra casa dizendo que iria trabalhar até mais tarde e por isso eu deveria ir dormir, e guardar a chave em baixo do tapete de lã, na frente da porta, eu fiz o que ela pediu.
Acordo, me levando e vou em direção ao quarto da minha mãe porem ela não esta. Me pergunto onde ela estaria uma hora dessa, porem deixo passar, me sento no sofá da sala pego o livro que ela tanto gosta e a espero chegar, oito horas, dez, meio dia, e ela não chega começo a me preocupar, então resolvo ligar para o trabalho dela, antes eu nuca fiz isso, por mais que eu sentisse vontade, minha mãe me falo que eu não deveria ligar pois ela estaria em serviço, mais uma hora dessa eu tinha certeza que ela não estaria trabalhando. Então eu ligo.
- Alo ?
- Casa Bar. Em que posso ajudar?
- Ah me desculpe, devo ter discado errado.
- Tudo bem. Diz o atendente.
Resolvo ligar novamente, digito corretamente o numero que minha mãe me ligara ontem à noite.
- Alo?
- Casa Bar. Em que posso ajudar?
Fico confuso nesse momento, olho para o numero, ele esta correto, começo a suar, meu coração esta disparado, ah uma explosão de sentimentos e varias perguntas, porem faço a mais preocupante pra mim naquele momento.
- Bem, Minha mãe esta ai?
- Quem é sua mãe garotinho?
- Me desculpe. Ela se chama Esther. Nesse momento estou com medo, minha mãe pode estar mentindo todo esse tempo pra mim, fico confuso, minha mãe não era assim.
- Só um minuto. Esse minuto pra mim foi como uma eternidade.
- Sim Sim, ela trabalha aqui sim garoto. E foi assim que uma parte de mim começou a ser destruída, pois minha mãe nunca mentira pra mim, não dessa forma, Casa Bar era um lugar onde as piores pessoas estavam desde criminosos ate mesmo pessoas importantes, esse lugar tinha como principal atração às mulheres em cima do palco, tirando a roupa por dinheiro.
- Como que disse?
- Você perguntou da sua mãe, Esther né?
- Sim, mais o senhor deve a ter confundido.
- A descreva então garoto.
- Ela é baixa, com cabelos e olhos tão negros como a noite. Sou interrompido nesse momento.
- Sim é ela mesma.
Fico sem ar, a ansiedade começa.
- Ela esta ai ainda. Pergunto.
- Não, ela saiu ontem mesmo.
Foi nesse momento onde o resto do meu pequeno mundo começou a desmoronar, sempre me pergunto por que coisas horríveis acontecem com pessoas boas, e as boas acontecem com pessoas ruins, por que a vida era assim, me pergunto.
- O que?
- Ela saiu ontem garoto por quê? Esta tudo bem?
- Não, não esta nada bem. Respondo-o.
Deixo o telefone cair, e a voz do atendente continua perguntando, o que esta acontecendo. Naquela manhã, assim que acordei estava sentindo um cheiro ruim, porem não liguei muito, mais como o sol estava lá em cima, e já fazia calor, o cheiro fica mais forte. Esse cheiro vem de fora, vou indo em direção a ele, meu corpo esta cada vez mais arrepiado, se eu pudesse descrever esse momento, eu diria medo.
Quando me aproximo do jardim, vejo os pês da minha mãe em baixo da roseira, então me acalmo.
- Mãe? Que bom que a senhora esta bem, fiquei com medo.
- Mãe, se isso for uma piada. Eu queria que fosse, queria que quando eu chegasse mais perto ela pulasse dentre as rosas e gritasse BUUUU. Me aproximo mais um pouco, o cheiro piora muito, puxo os pês da minha mãe, ela era leve, tinha cerca de 60 quilos, eu a puxo, o cheiro de sangue me sobe as narinas, e quando olho para seu rosto, não a reconheço.
Seu pescoço esta roxo, alguém a tinha sufocado, e a rosas, não apenas pétalas mais sim botões de rosa inteiros em sua boca, seus olhos estavam avermelhados e virados para cima, e o outro olho não tinha mais, seu cabelo estava cobrindo metade da sua face, sua calça e blusa estavam rasgados, seu ombro estava deslocado, seus pês quebrados, o resto já nem me lembro mais. Porem a sensação faz parte de mim até hoje, e os eventos a seguir também.