cap 9 - In My Blood

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Help me

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Ainda não me caio a ficha que vim até aqui. Essa sala branca com prateleiras cheias de livros e portas retratos e uma pequena planta no canto. A luz do sol iluminado todo o cômodo e quando  estou na cadeira inclinada tenho a  visão de da rua lá fora, todos os carros e pessoas que andam sob ela. De alguma forma isso me acalma.

Poder ver tudo que está acontecendo é tão relaxante, me sinto no controle. Até lembrar que vim aqui para aprender a me controlar.

— Me fale um pouco sobre você – sua voz calma e suave me desperta dos meus  pensamentos. Paro e penso sobre o seu pedido, algo tão simples mas extremamente difícil de se falar.

— Eu moro com minha melhor amiga desde que minha mãe morreu. Tenho dezenove anos... – não consigo pensar em nada, nada sobre mim que valha a pena ser dito para ela. Sua postura correta e roupas alinhadas combinando com o sapato e o cabelo, seus óculos redondos,sua sombrancelha perfeita... tudo nela combina com essa sala, como se fosse um perfeito quebrar cabeça. Por um momento me sinto deslocada.

— A quanto tempo sua mãe morreu? – Não me sinto confortável em falar sobre isso, ainda mais para uma pessoa que acabei de conhecer, mas mesmo assim respondo.

— 7 meses.

— Como ela era? – seus olhos analisam meu rosto e todas as minha expressões, como eu faço com as pessoas. Isso me incomoda, não gosto de ser observada, gosto de observar.

— Não vejo motivos para falar dela – Não quero voltar a isso, passo meses evitando esse assunto. Eu sei os meus limites e esse é um deles.

Depois de um tempo com o seus olhos percorrendo meu rosto ela finalmente para.

— Tá bom, então me fale o que trouxe você aqui – estranho que ela tenha desistido tão fácil mas agradeço mentalmente por não insiste no assunto.

— Minha irmã está preocupada comigo –  ela já sabe disso, só precisa que eu fale. Ela quer que eu entenda isso, que eu admita, mas eu nunca neguei.

— Ela tem motivos para se preocupar?

— Talvez sim – vejo que ela espera que eu fale mais mas não farei isso. Quero ver se ela consegue desenvolver seu trabalho sem que eu lhe dei todas as cartas.

– Ela me disse que você tem pesadelos, que acorda gritando, tem crises de ansiedade, tem medo do escuro, pessoalmente acho que não é só do escuro – seus olhos voltam a percorre o meu rosto – ela também me disse que você não se sente confortável com outras pessoas. Só de olhar para você posso percebe que você se esforça para não incomoda ninguém. Mas tem uma coisa em tudo isso que me deixou intrigada.

Assim que sua voz calma se cala me pego pergunta a mim mesma  se é normal se senti diminuída? Ela é tão segura de si, demostra ser confiante e corajosa, ela nem me conhece mas já sabe de coisas que eu escondo. Estou tentando ser a pessoa que eu sou com tudo mundo, mas ao sentar aqui e olhar para essa mulher completamente estável, sinto raiva, raiva porque provavelmente ela não acorda chorando, não tem medo de está sozinha, não se sente um peso na vida das outras pessoas e principalmente, sinto raiva  por não ser igual a ela. Ela simplesmente desmoronou todas as barreiras que luto para ergue, como se não fosse nada. Agora ela está no controle, eu sou apenas mais uma pessoa na calçada e ela é a mulher que me observa aqui de cima.

Quero voltar ao controle, eu quero dar as cartas.

— É o que seria isso?– apoio meus braços no joelho e cruzo meus dedos.

The Fake Girlfriend (S.M)Onde histórias criam vida. Descubra agora