— Levanta, Gay. Bora trabalhar. — Escuto subitamente após ser acordado com a chacoalhada forte que Lucas me deu. E eu apenas resmungo um pouco, me recusando a tirar a cara do meu material. — Vamo, cara. A prova é em uns minutos, que fossa é essa? Fica assim só depois da nota.
— Eu 'tô ferrado.
— Você não 'tá ferrado, Mark. Você vem estudando que nem um filho da puta condenado há uma semana, se você está ferrado, não há deus nesse mundo que me salve, então. — Ele diz enquanto me puxa da cadeira.
— Estou com sono... — Choramingo e o vejo revirar os olhos. Credo, amigo tóxico.
— Vem, eu compro um café para você. Mas me diz, foi o Hyuck? Ele ficou tocando guitarra de madrugada de novo? — Questiona, e eu me lembro porque me atolei de tanto estudar essa semana.
Porque eu não estava satisfeito, nada me agradava. Nada me fez sentir bem o suficiente. Eu simplesmente não conseguia ficar satisfeito com absolutamente nada. Então eu aproveitei essa semana de provas para me atolar nos livros e esquecer que eu tenho uma vida.
Porque eu perdoei um menino que ainda está todo assolado por causa de um último relacionamento, enquanto eu ainda estava assolado por ele. Mas o entendi e o dei tempo para pensar e se acalmar, assim me dando esse mesmo tempo. Também deixei claro sobre minhas provas, o que coincidiu bem e ele me prometeu não fazer barulho de madrugada para não me atrapalhar.
Mas não, eu não estou ok com isso. Não achei que teria que admitir isso tão rápido, mas são os fatos. Pensei que estudar até meu corpo pedir por socorro ia me tirar dessa situação, ia ajudar meu coração a lidar com isso sem mim, mas aparentemente não é assim que corações funcionam.
E explicar para o chinês o porquê de eu não parecer contente com o silêncio de meu vizinho, é tão difícil quanto. Porque não quero dizer com todas as letras que não poder ouvi-lo, assim como quase não o ver, está me consumindo por dentro. Porque eu quero estar com ele, eu quero abraçá-lo e ter certeza que as feridas em seu coração, por mais que ainda doendo, não estão mais sangrando. E se ainda tiverem, gostaria de estar ali ajudando ele a costurar aquele machucado profundo que fizeram quando ele se entregou 'pra alguém.
E eu não estou satisfeito porque sei que ele vem se corroendo com meu sumiço. Afinal, as vezes nos trombamos no elevador, no corredor, em nossas portas. E suas olheiras falam palavras que ele provavelmente não conta para ninguém, seu semblante abalado fala ainda mais palavras que, talvez, nem eu seja capaz de ouvir sem me despedaçar junto a ele. E eu sinto sua falta.
Falta daquele ser desgraçadamente barulhento, daquela praga que sempre me atiçava dos piores — melhores — jeitos, e me fazia perder completamente a linha. E aquele jovem sedutor, com toda aquela pose de comedor de gostosas, aquele com um semblante de músico famoso que flerta com as fãs no pós-show, agora, parece apenas com uma criança chorosa que fica sozinha no pátio do colégio enquanto todas as outras correm e se divertem. E eu queria poder ir lá, entregar um doce para aquela criança e vê-la sorrir pelo menos uma vezinha.
Mas tudo que eu faço é aceitar o café de Lucas com um sorriso meia boca, que ele vai fingir que acreditou ser um sorriso verdadeiro, e seguir para minha prova de Mecânica dos Sólidos II. E eu tento ao máximo me manter concentrado naquela droga de prova, porque minha mente segue me atraindo para pensamentos que eu sei que não estou pronto para ter, porque eu ainda preciso cuidar da minha faculdade, com, ou, sem Donghyuck, porque é isso que importa agora e eu preciso dar um jeito de me focar no que realmente é importante.
E mesmo assim, parece impossível tirar ele da cabeça, então, apenas caminho enquanto escolho uma música para ocupar a mente. E então, tocou You Give Love a Bad Name, do Bon Jovi, o que automaticamente me lembrou da voz do rapaz cantando essa música de madrugada. Pulei. Sweet Child O' Mine começa e eu suspiro alto, porque, novamente, a voz dele ecoou em minha mente. Não sei nem desde quando eu tenho tanto rock no meu celular, não me lembro de ouvir com tanta frequência. Mas eu a passo e, mesmo assim, o aleatório me faz lembrar da voz alheia ao começar Highway to Hell, e foi exatamente por isso que eu desisti de ouvir música. Apenas tento chegar logo ao meu apartamento para voltar a estudar, mesmo que as provas já tenham acabado.
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Guitar Player ✧ Markhyuck
FanfictionSinceramente, Mark era apenas um universitário ferrado que só queria dormir em paz nas noites em seu novo apartamento. Mas o coitado é constantemente impedido pelo som estrondozo da guitarra de seu vizinho maldito a qual declarou ódio eterno. Ou na...