Parte 1

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Enquanto avançava pelos corredores, Karsten não pôde deixar de notar que o castelo era bem diferente do que imaginava. Ouvira histórias de que suas paredes eram feitas de alabastro, suas portas de ouro puro e que o Conde, seu dono, vestia um manto de rubi e safiras. No entanto, tudo no castelo parecia relativamente simples. Talvez até um tanto mal cuidado, a julgar pela poeira que permeava o ar.

- Eu não tocaria em nada se fosse você – disse o secretário do Conde, vendo que Karsten examinava um vaso de cerâmica rosada. Envergonhado, ele o colocou novamente sobre a escrivaninha – E ande depressa. O Conde não gosta que seus convidados o deixem esperando.

Karsten acelerou o passo, percebendo que sua armadura de metal esmaltado e a espada recém afiada talvez não fossem adequadas para uma entrevista com o Conde.

- Hm, o que exatamente ele quer comigo? – Perguntou ao secretário, mas este se limitou a fazer uma careta.

- Aconselho o senhor a tratá-lo por "Conde" ou "meu lorde". E o motivo da sua convocação é assunto seu e do Conde, senhor.

Depois disto, Karsten se calou. O secretário o levou até uma antecâmara com paredes de um verde claustrofóbico, e pediu que aguardasse enquanto anunciava a sua chegada. Quando finalmente ficou sozinho, Karsten finalmente entendeu o motivo de sua convocação, e essa conclusão lhe causou calafrios. O velho Evans o havia denunciado, tinha certeza disso. Karsten soube, desde o início, que fugir da forja onde trabalhava de aprendiz era uma má ideia. Mas ter roubado a armadura e a espada na fuga, essa foi a pior idiotice que já fizera. Afinal, uma armadura e uma espada roubadas não fariam ninguém acreditar que ele era um cavaleiro.

O secretário voltou, e anunciou em tom entediado:

- Meu senhor, o Conde de Elsinor, está pronto para recebê-lo agora.

Karsten levantou-se meio sem jeito, e adentrou o que parecia ser o escritório do Conde. Era um grande salão com carpete vermelho e cortinas de seda, e um belo piano de cauda juntando poeira em um dos cantos. No canto oposto se encontrava o Conde, sentado em uma poltrona desbotada. Ele indicou com o queixo o sofá puído à sua frente e disse:

- Sente-se, por favor.

Karsten obedeceu sem responder, esquecendo totalmente seus modos ao encarar fixamente a figura do Conde. Ele era um pouco menor do que Karsten imaginava, e um tanto mais velho também. Seu bigode branco lhe lembrava uma lua minguante, com as pontas viradas para cima, e ele balançava um pé no ar de modo quase involuntário.

- Bom, deve estar se perguntando por que o convoquei aqui, senhor... – Karsten demorou alguns segundos para entender que devia dizer o seu nome.

- Karsten. John Karsten, hm... Meu lorde.

O Conde de Elsinor juntou as mãos sobre os joelhos e, durante um tempo que pareceu longo demais, examinou Karsten de cima a baixo. Depois, com certo ar de expectativa, ele disse:

- Senhor Karsten, desculpe perguntar de forma tão direta, mas... Bem, um de meus mensageiros viu o senhor adentrando o nosso condado... Como vê, é uma região tão pequena que a chegada de um estrangeiro é algo que nunca passa despercebido. Bem esse mensageiro veio dizer-me – e olhando o senhor até acredito o porquê de ter presumido isso – que chegava um cavaleiro à nossa vila, e isso é algo que não posso ignorar. Portanto, pergunto-lhe: seria o senhor um cavaleiro?

"Conte a verdade, John", pensou Karsten, engolindo em seco. "Conte a maldita verdade e acabe logo com isso".

- Sim, meu lorde. Eu sou um cavaleiro andante – mentiu, e o velho Conde pareceu prestes a explodir de alegria.

- Ora, mas isso é esplêndido! Sabe, há tempos tenho esperado por alguém assim como o senhor, mas parece que os bons cavaleiros andam evitando meu pequeno condado – ele tossiu um pouco e aprumou-se, como que para manter a compostura – Enfim, meu jovem cavaleiro, tenho uma oferta a lhe fazer, caso queira aceitar. Uma missão, pela qual estou disposto pagar uma bela recompensa.

As Flores de JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora