Ornes

81 20 72
                                    


    Sobre as planícies gélidas do reino dos homens haviam ladrões, assassinos, monstros e feras que até mesmo os deuses temiam. Mesmo assim, quem diria que no mais hostil dos lugares hostis haveria um vilarejo tão alegre.

    Ornes ficava entre os Pântanos do Sul e a Borda do Mundo, ao sul era cercado por penhascos sufocantes e rochedos que destruiriam o mais forte dos navios. Ao norte uma densa floresta aguardava quem quer que fosse andar sozinho por lá.

    Era um lugar esquecido pelo mundo, mesmo que a poucos minutos do vilarejo na ponta do mais alto penhasco estivesse aquilo que um dia foram os temidos Portões de Helheim, já faziam eras que ninguém realmente ouvira alguma lenda ou história vinda daquelas bandas.

    Ornes foi fundada por guerreiros que queriam proteger o reino das criaturas que saíam de Helheim, a herança disso foi o antes majestoso Palácio de Allend, um palácio negro que hoje jaz abandonado e assombrado ao leste do vilarejo.

    Desde que o último dragão saiu de Helheim, ninguém nunca mais ouviu o nome Ornes ou as lendas heroicas sobre o vilarejo que antes era tão deslumbrante. A cidade que há quinhentos anos era o símbolo de proteção do Reino dos Homens, hoje é um vilarejo pobre, com casas arruinadas pelas fortes chuvas e monstros que comumente atacam o local.

    Para os poucos que conhecem ou ouviram falar daquele lugar, todas as histórias contadas eram apenas folclore, contos de fadas ou delírios de pessoas que foram abraçadas pelos gritos de berradores, comuns na região.

    Mesmo sendo o que era, haviam muitas pessoas felizes em Ornes, talvez fosse o lugar mais feliz de todo o reino, pois, mesmo que pobres e sem nenhuma assistência do rei, eles faziam aquilo que sabiam fazer melhor, festejavam.

    Não há em toda a Midgard um lugar com festas mais animadas que as de Ornes. Como banquete haviam moluscos e alguns frutos marinhos fáceis de encontrar em meio aos rochedos, para beber havia água quente com ervas e frutas comuns naquela região, tudo muito simples, mas muito aconchegante.

    Adam, um órfão de cabelos negros, talvez fosse o mais feliz dentre os moradores do mais feliz vilarejo do Reino dos Homens. Ele era um garoto excepcional, muito educado e feliz, mesmo não sabendo quem eram seus pais biológicos, muitas pessoas naquela cidade o consideravam como um filho.

    Desde que completou seus sete anos Adam sempre no mesmo horário ia até a borda do mundo, nos Portões de Helheim. Ele acreditava em todas as lendas e histórias contadas sobre sua cidade e sobre aqueles portões, por isso, pela manhã ele tomava coragem, estufava o peito e ia conferir se nada de mal estava mais uma vez saindo de lá.

    Certo dia, quando ainda tinha seus oito anos, o garoto correu pelas ruas de Ornes gritando que teria ouvido algo saindo dos portões. Quando o povo foi verificar, descobriram que o motivo do mal entendido era um diabrete que tentou assustá-lo para tirar algumas gargalhadas, decerto foi o maior acontecimento em Ornes em muito tempo.

Crônicas Ardentes  - Rainha FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora