Crônicas Ardentes - Rainha Flamejante

Aniversário

Adam corria em direção a igreja, passando por outros moradores do vilarejo que o cumprimentavam e o parabenizavam de longe.

Ao abrir a porta dos fundos, a da cozinha e de onde havia saído, ele se deparou com os demais órfãos sentados sobre a mesa, sobre ela havia um pequeno bolo meio deformado de cor roxa que mal dava para duas pessoas.

Senhorita Helena se assustou com a chegada repentina do garoto, ela logo tratou de tapar-lhe os olhos com as mãos.

- Você voltou cedo demais. - Disse ela.

Helena o levou até o quarto de cima e o fez sentar sobre uma das camas ainda tampando seus olhos.

- Senhorita Helena, o que está acontecendo? - Pergunta o garoto.

- Não se faça de bobo. - Respondeu. - Você já deve imaginar o que estamos preparando aqui, então trate de fazer ao menos uma cara de surpresa quando eu lhe chamar.

Adam apenas acenou com a cabeça enquanto a mulher se virava e descia as escadas rapidamente. Ela usava um avental sujo de glacê, ele imaginou que talvez ela mesmo tenha feito o bolo que ele vira antes.

Adam pôs o embrulho com os presentes que havia ganhado sobre a cama, ansiosamente ele corroía as unhas e balançava as pernas de um lado para o outro. Ele estava bem agitado, afinal, mesmo tendo comido pouquíssimas vezes, Adam amava bolos, principalmente os que feitos com os frutos que cresciam no inverno.

Logo após senhorita Helena descer, Adam escuta a porta da cozinha abrir, era o Padre Giovanni, que pouco depois de chegar subiu as escadas.

Padre Giovanni era um senhor bem pequeno de afeição muito familiar, não tinha grandes características além de seus olhos costumeiramente entreabertos, nariz grande e sobrancelhas grossas. Ele sempre vestia roupas amarronzadas de segunda mão muito velhas, diversas vezes até mesmo um pouco sujas.

Ao redor dele sempre havia uma presença que parecia deixar o ambiente mais aconchegante, ele exalava uma aura acolhedora.

- Veja se não é o jovem Adam! - Diz o homem com sua voz rouca.

Adam se levanta e o Padre lhe dá um quente e apertado abraço desejando feliz aniversário ao garoto.

- Não o vi pela manhã, o senhor saiu cedo hoje. - Comenta Adam.

- Tinha assuntos a tratar na cidade vizinha. - Ele responde. - Assuntos que não seriam bons de serem comentados agora.

O homem olha para o embrulho deixado sobre a cama.

- Esse ano ganhei alguns presentes dos vizinhos. - Adam tira os presentes do embrulho e os mostra ao padre.

- Presentes maravilhosos, eu diria.

- Sim, fiquei muito feliz.

O homem se assenta na cama e toma a adaga em mãos, logo a coloca de lado e dá uma boa olhada na bússola. Ele vê o símbolo na parte de trás da bússola e dá dois toques com a ponta do dedo.

- Pretendo explorar os arredores de Ornes com esses dois.

- Imagino que sim. - Padre Giovanni dá um singelo sorriso.

- Vou pedir ao velho Tony que me dê algumas aulas de combate, Luiz disse que o velho já foi um aventureiro.

- Sente-se, meu jovem. - Diz o Padre dando leves tapas na cama.

Adam se assenta ao lado do Padre. Eles costumeiramente conversavam, mas as conversas se restringiam as histórias do Padre ou as peripécias dos outros órfãos.