Tina olha, nervosa, para o telefone. Surpreende-se várias vezes roendo as unhas. Irrita-se. Odeia roer as unhas. Tem medo de que a mãe perceba seu nervosismo e comece novamente com as inevitáveis perguntas, perguntas que ela não quer e nem sabe como responder. A sensação de cansaço é opressiva e parece que vai apenas aumentando à medida que ela liga e ninguém atende ao telefone. Esta ainda mais apavorada depois que soube na escola que Mauro ia mudar, que o pai de Mauro arranjara um emprego em Curitiba (ou seria Rio de Janeiro?). Bem, pouco importava. O significado de qualquer mudança para longe de São Paulo seria sempre que Mauro iria embora e a deixaria sozinha. Mauro, que jurara jamais se separariam, que seguraram qualquer barra, o mesmo Mauro que a evitava há vários dias e que não o via na escola havia mais de uma semana. Teve um mau pressentimento.
Não ia mais procurá-lo. Não queria mais enfrentar mais os olhares da mãe e das irmãs de Mauro. Elas conseguiam fazê-la sentir tão mal, mas tão mal, que, com o tempo, passou a temê-las.
Elas não gostavam de Tina e pelo menos eram sinceras o bastante para deixar isso bem claro. Nunca gostaram. Jamais gostariam. Nem elas nem o pai de Mauro.
Mas Mauro dissera que nada importava, que eles não iriam separá-los. Somente o amor dos dois importava.
É, ele dissera isso e muitas outras coisas. Mas foi há muito tempo.
Há muito tempo.
Tina olha mais uma vez para o telefone e se sente cansada.
Só.
Só.
Só.
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Anjos no Aquário - Julio Emilo Braz
Romance"Filho? Tenho medo que meus pais saibam que estou esperando um filho do Mauro, mas o que eles diriam que soubesse que fiz um aborto? Estou num mato sem cachorro. O relógio anda mais depressa. Tem horas que sinto algo se movendo dentro de mim. Vida...