Capítulo 4 🌹

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Naquela noite, Jackson, envolto em suas próprias ilusões, se encontrava em uma vasta sacada de um prédio que, pela estranha ocorrência, assemelhava-se a uma edificação escolar. O frio percorria seu corpo, arrepiando-lhe a pele e fazendo suas mãos tremerem, enquanto ele se perguntava onde estaria, nesse momento singular e inquietante para ele. Olhando a vista da cidade de Recife, ouviam-se os berros de uma voz conhecida, seguidos por um choro que ele facilmente identificava.

Com um empurrão abrupto, a porta daquela sacada se abriu, revelando um jovem Jackson em prantos, não apenas abalado, mas profundamente decepcionado. Em seu semblante, via-se a perda de confiança. Aquele Jackson, diferente do que observava a cena, sentia-se vazio, desprovido de esperança, próximo o suficiente das grades de proteção, enquanto seus pensamentos o destruíam lentamente, corroendo cada fibra de seu ser.

Atrás dele, avistava-se Cecília, correndo em busca de perdão, em busca de compreensão para sua versão da história, ainda mal contada.

— Jackson, não faça uma loucura! — bradava ela, vestida com um traje azul-marinho adornado por detalhes floridos nas mangas.

— Ninguém se importa. Por que eu não deveria fazer isso? Não farei falta a ninguém — respondia Jackson, entre lágrimas.

— Eu me importo, não faça isso! — Agora, era Cecília quem se desfazia em lágrimas.

— Eu tomo tanto cuidado para não magoar as pessoas e, no final, são elas que me magoam, inclusive você! A pessoa que eu menos esperava que me traísse. Como pôde fazer isso comigo? Eu pensei que você me amasse. Você disse que nunca iria me abandonar, e aqui estamos nós! — Aquele Jackson, descontrolado, gritava com Cecília, logo em seguida soltando uma risada amarga. — É hilário, as promessas feitas a mim, tudo não passou de uma grande mentira. Meu pai estava certo, sou realmente um fracassado. — Ele se afastava até alcançar a barra de proteção, no terraço do alto edifício. — E é por isso que devo partir. — Encostando-se na barra, deixou-se cair de costas.

— Jackson... — gritou Cecília, correndo até o local onde aquele Jackson cheio de rancor e ódio se encontrava. O coração do Jackson que observava a cena se despedaçou ao ver algo que parecia tão real, a ponto de afetar até mesmo seu físico.

Jackson deu um pulo de sua cama, suando em profusão, com a cabeça latejando e o coração acelerado, sem momento para parar. Tentou acalmar-se, respirando fundo e devagar. Afinal, para ele, fora apenas um sonho. Em sua mente, sonhos não são reais, são apenas tormentas destinadas a corroer seu juízo.

Levantando-se, dirigiu-se ao banheiro, despiu-se e tomou um longo e reflexivo banho. O sonho ainda perpassava seus pensamentos, inescapável, tão vívido quanto um relato jamais experimentado. Seu coração, embora acalmado, ainda sentia a pressão do susto.

Após completar sua higiene, Jackson dirigiu-se à cozinha, decidido a assaltar a geladeira. Olhando o relógio sobre o eletrodoméstico, viu que marcava 14:57. O rapaz ficou impressionado, havia dormido todo esse tempo, sem sequer almoçar, deixando seu estômago em uma guerra voraz, roncando como um animal faminto. Sem demora, abriu a geladeira e viu o que havia para comer. Havia muitas frutas e um enorme pote de Nutella, para sua satisfação, desejando algo doce, ainda que não tivesse almoçado. "Por que não?", perguntou a si mesmo. Seu estômago roncava em busca de alimento, afinal, apenas o desjejum preenchera suas entranhas.

O jovem pegou algumas frutas e a Nutella. Com uma pequena tigela, cortou as frutas e as cobriu com o creme de avelã. Contemplando sua guloseima apetitosa, dirigiu-se ao sofá, lançando-se sobre ele e ligando a TV para assistir algo de seu agrado.

Entre tantos filmes, escolheu um desenho, mas não qualquer desenho, e sim Madagascar. O rapaz adorava o filme, fascinado pelos personagens, todos animais, diferentes entre si, mas ainda assim amigos. E, especialmente, pelo romance entre Melman e Glória, que ele achava surreal, porém encantador e cativante.

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