Capítulo 2.

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As pás faziam um barulho irritante em contato com a terra. Era um barulho que Christopher aguardava ansiosamente, por mais que seu rosto não demonstrasse. O Oráculo continuava imóvel, no meio do único cemitério do Distrito, esperando que seus empregados terminassem de cavar aquele túmulo.

O barulho ruidoso veio da pá de Jeongin. O Dragão engoliu em seco. Por mais que não fosse um garoto que fala muito ou expressa muito, por dentro, ele se perguntava até que nível os serviços chegariam. Ele trabalhava a sua vida inteira para o Oráculo em troca de proteção, mas as coisas ficavam cada vez mais bizarras.

Donghyuck paralisou. Encarou o dragão branco de frente, mas nada disse. Os dois tiraram as pás juntos dali. Donghyuck estava se sentindo nauseado. Era pior para ele. Queria parecer um homem corajoso, mas estava se sentindo culpado por desenterrar alguém. Aquilo era totalmente ilegal e tudo que Donghyuck queria era viver uma vida mais normal o possível naquele Distrito.

— Tirem daí. — Christopher disse, sem muita emoção.

Donghyuck e Jeongin trocaram olhares. Christopher notava que os dois estavam morrendo de medo, mas não comentou sobre o assunto. Eram apenas crianças.

Jeongin foi o primeiro a se abaixar. Donghyuck engoliu o gosto amargo na época e torceu para não vomitar. Assim, os dois puxaram um grande caixão de madeira chique para fora do buraco. Era pesado, mas o dragão branco tinha força de sobra.

Do lado de fora, os dois encararam o caixão com medo da próxima ordem. Não foi necessário que Oráculo falasse mais nada. O caixão se abriu sozinho. Hwang Hyunjin, um humano, se sentou, procurando por ar. Olhou em volta, profundamente assustado.

Depois tossiu. Havia um gosto amargo em sua boca. Um gosto parecido com terra. Talvez, fosse terra mesmo. Usava um terno. Ele nunca usava ternos, então aquilo lhe causou um arrepio. Aos poucos, as memórias começaram a atropelar o humano de cabelos negros compridos e olhos assustados.

— Eu morri. — Foi a única constatação que Hyunjin conseguiu fazer.

— É o que parece, rapaz. — Christopher concordou, sem se mexer.

Hyunjin olhou para o lado. Aquela figura horripilante do Oráculo, os cabelos prateados em um topete, os olhos igualmente brancos de quem não vê um palmo em sua frente. O tecido do terno mais caro, do melhor alfaiate do Distrito. Mas, Hyunjin focou justamente na bengala. Havia uma caveira de prata ali em que as mãos de Christopher se fixavam.

— O que está acontecendo? — Hyunjin perguntou, agitado.

— Vai entender com o tempo. — Christopher lhe garantiu e fez um sinal.

Hyunjin, o humano - ou quase humano - saiu do caixão em um pulo. Havia se esquecido de onde estava. Olhou em pânico, ainda tentando processar cada ideia. Alargou a gravata. Apertava, quase sufocava.

Donghyuck e Jeongin respiraram fundo e voltaram a fechar o caixão. Depositaram exatamente no mesmo lugar e tamparam com terra. Nenhum dos dois faria perguntas, mas ali já estava a resposta, não era? Hyunjin devia ser alguma criatura para que Christopher se incomodasse de sair da Milkshake, em meio à noite de lucro, para vir até o cemitério da cidade.

Hyunjin seria um deles. No fundo, Donghyuck estava aliviado, porque o humano parecia forte. Talvez, ele ficasse com os piores serviços e o fauno finalmente tivesse alguma paz.

~*~

— Por que estou sentindo um gosto tão doce? — Jisung perguntou, ainda zonzo, enquanto se agarrava no pescoço do Tritão. Felix trancou a respiração, para não sentir o bafo de seu amigo, e se torceu para apertar o botão no elevador.

Distrito Nove • STRAY KIDSOnde histórias criam vida. Descubra agora