Honra do Vale, Adam Braden 47 anos, 2010...

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A janela dessa vez permite a passagem de raios de luz devido a uma parte de vidro quebrada, vindo de um amanhecer caloroso e ensolarado, no chão do quarto, Adam Braden, jogado em meio a garrafas de vidro vazias do querido Uísque escocês, e também a cigarros apagados com rastros das suas cinzas. Ao abrir os olhos, sua cabeça parece pesar 70 quilos, em meio a dificuldade de se levantar e toda aquela sujeira ele consegue se apoiar e sentar na cama.

Sua visão ainda parece rodar, rapidamente coloca a mão no rosto, e nota a sua barba de um tamanho que revela descuido, e também um aspecto oleoso e pegajoso. Ao conseguir enxergar melhor, nota que está apenas de cueca e com uma camisa social branca, que não é mais dessa cor. Aos poucos o som do despertador vai chegando aos seus ouvidos, olhando para o visor do relógio digital na cabeceira da cama nota que é 09:00 da manhã, mais um dia de trabalho na farmácia, ele então se levanta com muito esforço e vai até o banheiro.

Ao chegar no banheiro, e se olha no espelho, que mal consegue refletir devido a sujeira, é possível enxergar um homem descuidado e Adam não procura se preocupar muito com isso, ele apenas se espanta ao ver um corte em uma das maçãs do seu rosto bem próximo a sua barba, porém a origem daquilo não vem na sua cabeça, ao forçar para se lembrar, a sua dor de cabeça piora:

- Merda! – Ele então resolve tomar um banho para começar mais um dia de trabalho na sua farmácia.

Com um curativo no rosto, ele então abre farmácia, e coloca a placa mostrando a mensagem, "aberta", ao fazer isso, ele nota a passagem das pessoas e o quanto o sol parece cegá-lo com a sua claridão, ele então volta para dentro e fica sentado atrás do balcão da farmácia.

Ao esperar a primeira pessoa a passar pela porta, Adam começa a pensar em várias situações diferentes, como pessoas passando correndo na frente da farmácia anunciando o fim do mundo, ou que policiais vão entrar na farmácia e levá-lo preso pelo motivo que ele levou o corte no rosto, ou até alienígenas desintegrando pessoas na rua:

- Esses pensamentos de novo não...

Até que ele toma um susto quando o telefone da farmácia toca e ele volta para a realidade novamente.

Ele então pega o telefone e coloca no ouvido:

- Alô?

- Ah olá Adam, cara hoje não vou poder trabalhar, tive que ajudar minha esposa na mudança para nossa nova casa aqui em Honra do Vale, amanhã se tudo tiver certo apareço aí ok?

- Ah, Ok... – Adam confirma meio disperso ao notar um senhor de idade entrar na farmácia.

- Está tudo bem cara? Tudo certo com o remédio?

- Ah, sim, tenho que desligar, um cliente chegou na loja.

Para sua surpresa, não foi nenhuma das suas hipóteses anteriores, apenas um senhor que aparentemente, veio a farmácia com um avental sujo de tinta, com belos cabelos brancos e um sotaque meio estranho. Ele olha para Adam o encarando por alguns segundos e lhe mostra uma lista de remédios:

- Tem todos eles aí? Remédios de rotina – Diz o senhor com seu sotaque estranho e com um olhar esquisito.

Adam lhe mostra os remédios e põe dentro de um saco, o senhor dá o dinheiro que tira da sua farda suja, pega a sacola e sai pela porta. Ainda observando, Adam fica à espera de outro cliente.

Até que outra pessoa abre a porta, dessa vez um homem um tanto meio estranho, de camiseta verde, calça jeans e um gorro preto na cabeça, ao entrar na farmácia ele olha para todas as prateleiras, como se tivesse procurando algo com pressa e não encontrava, naquele momento uma sensação de Déjà vu veio até a cabeça de Adam, fazendo-o ficar meio reflexivo, até que o homem estranho chega até ele e diz:

- Você é o farmacêutico dono daqui? – Indagou o homem estranho.

-E teria outro? – Diz Adam totalmente perplexo, parecia algo que ela já havia pensado antes.

-Bom, tem como me conseguir o "Sangue de Deus"? agora! – Diz o homem estranho ao se aproximar mais ainda do balcão.

- Eu não sei do que você está falando – Adam então tira suas mãos de cima da bancada e coloca debaixo dela.

O homem estranho então anda um pouco para frente da loja, olhando para todos os lados, passa a mão no rosto e começa a chorar, lágrimas rolam sobre seu rosto indeciso e sem saber o que fazer, ele passa novamente a mão sobre o rosto, dessa vez para enxugar as lágrimas e se aproxima de Adam mais uma vez e aponta uma pistola de cano curto automática:

-Farmacêutico, me dá logo a droga desse remédio – Ao dizer isso o homem estranho chora mais ainda.

-Calma cara, o que sabe sobre o Sangue de Deus? – Adam diz isso ao se aproximar ainda mais do balcão.

Debaixo do balcão Adam guarda uma arma, uma pistola de cano longo, e é dela que ele está pensando ao se aproximar do balcão:

- Fica aonde está farmacêutico, senão eu vou ter que te matar, acho que seria até melhor eu te matar logo – o homem estranho começa a ficar cada vez mais irritado.

- Você quer ou não quer o remédio? – Adam então ao dizer isso faz um movimento rápido e pega a arma debaixo do balcão e aponta para o homem, e os dois atiram ao mesmo tempo.

Ambos então são jogados para trás, o tiro do homem estranho passa de raspão no ouvido de Adam, enquanto o tiro de Adam agarrou no peito do homem estranho. As pessoas que passavam pela frente a farmácia correm assustadas ao ouvir os sons do disparo. Com o homem no chão demonstrando dor, Adam passa a mão na sua orelha que agora está sangrando e levanta com a arma na mão apontando para o homem do outro lado do balcão.

Em cima do balcão Adam abre um Uísque, e vira um belo gole, ainda apontando sua arma, no chão ele percebe que o homem está chorando de dor e dizendo:

- Minha filha, meu Deus minha filha está muito doente ... – O homem diz isso com a mão sobre o peito, tossindo sangue e fecha os olhos.

Adam rapidamente, deixa a garrafa sobre o balcão abre uma gaveta e pega um pequeno frasco escrito "Sangue de Deus" com um liquido vermelho, coloca a arma na gaveta e vai até o homem. Chegando nele já desacordado, ele derrama o remédio sobre a boca do homem, pega a arma dele e o arrasta para a sala dentro da sua casa.

Adam volta para farmácia coloca rapidamente a placa de fechado na porta e a tranca, e logo volta para dentro de casa. Ao ver que o sangramento começa a cessar, Adam abre um armário embaixo da TV e pega um kit de primeiros socorros, e em alguns minutos ele retira a bala do peito e costura o ferimento do rapaz, fazendo também um curativo para seu ouvido machucado.

Ao fazer isso, ele pega o corpo do homem e o arrastando coloca próximo a porta dos fundos, logo pega alguns produtos de limpeza em um dos armários da cozinha e vai até a farmácia limpar todo o sangue que toda aquela situação causou.

Momentos depois, o homem acorda, e a primeira coisa que ele vê é Adam apontando uma arma para ele:

-Nem adianta procurar a sua arma, ela está comigo – Adam levanta a sua camisa e mostra a arma do homem na cintura – Está vendo isso aqui, é um dos frascos do Sangue de Deus, leva para sua filha, e não aparece na minha farmácia nunca mais.

Adam ainda apontando a arma para o homem, ele lhe dá uma dose do remédio, abre a porta e o homem corre com a mão no peito olhando para trás. Ao fechar a porta:

- Menos dois frascos, pelo menos o sangue de Deus foi capaz de trazer um homem à beira da morte, quem me dera tivesse sido assim com a minha mãe, mas como esse homem sabia sobre o meu remédio? – Diz a voz dentro da cabeça de Adam que volta para a farmácia para continuar seu trabalho.

Bendito AntídotoOnde histórias criam vida. Descubra agora