Cidade Honra do Vale, 1988 ...

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Neste conto, você vai começar a aprender uma coisa, nunca alimente uma esperança que não possa se tornar uma realidade.


Em uma janela qualquer pode-se perceber as gotas e mais gotas que a chuva faz ao rebater nas suas lombadas de vidro e madeira, é noite na cidade, e para surpreender, uma noite calma, pelo menos na rua 13 aonde fica a farmácia, a janela vem do quarto aonde um jovem aparentemente de 25 anos que está totalmente concentrado, olhando para um pequeno laboratório mal formulado mas ainda sim funcional.

A janela também faz parte da farmácia, e sim, ambos são o mesmo lugar, o jovem ali sentado e usando o lápis miseravelmente em um papel que recebe rapidamente suas anotações, se chama Adam, mais precisamente, Adam Braden, o filho da dona da farmácia. Ao deixar o lápis ele pega um frasco com algum tipo de líquido e coloca em outro recipiente, ao fazer essa mistura, algo o deixa contente, parece ter sido a resposta depois de várias tentativas fracassadas, o seu semblante demonstra por segundos, alívio, até que alguém bate na porta do seu quarto:

- Adam? – Uma voz suave e áspera ao mesmo tempo rouba a sua atenção.

Adam então tira alguns lençóis de cima de um presente, um pouco mal embalado, mas com um papel meio chamativo de cor vermelha, passa a mão sobre o cabelo, conserta seus óculos e abre a porta:

- Feliz aniversário mãe! – A frase sai automaticamente da sua boca.

- Olha só, não esqueceu do meu aniversário, fico surpresa – Diz sua mãe ao beber um gole da sua garrafa de Uísque escocês, daqueles que nunca se tira da estante, e dá um abraço em Adam que logo retribui.

- Cuidado com o açúcar Senhora Braden – Adam diz ainda abraçado, com a boca perto dos seus ouvidos.

- É escocês Dam, e hoje é meu aniversário, mereço um pouco de álcool, depois de um longo dia na farmácia – Ela pega o presente com uma mão e com a outra dá um gole do Uísque.

Ao abrir a porta do quarto, da diretamente na cozinha, é, no fundo da farmácia, uma música viciante aponta nos ouvidos de Adam assim que ele se dar conta:

- É claro, Sweet Child O' Mine, de Guns N' Roses – A favorita dela.

Para uma senhora de 68 anos, a sua mãe dançava até muito bem ao som de Guns 'N Roses e ainda conseguia não derramar uma gota de seu Uísque, com certeza ela estava curtindo muito o seu momento, depois de muito tempo, a morte do pai foi bem triste para os dois por anos. Adam ao ver sua mãe dançando lembra dos tempos tristes que agora deixaram para trás:

- Ei mãe, vou fazer um espaguete com almôndegas – O prato favorito dela.

A música estava mais alta que a voz dele, Adam então dá um sorriso de lado e vai ao fogão colocar a água para esquentar, e preparar o tempero. Ao terminar a música, sua mãe para um pouco, o suor no seu rosto declara sua animação que não via a muito tempo:

-Espaguete? – ela pergunta.

-Eu te disse a 2 minutos atrás – Adam responde ao cortar o tomate.

- Isso! faz o melhor espaguete filho – A animação na sua voz é de se confundir pelo efeito do álcool.

Ela então olha para o presente que havia deixado em cima da mesa, e resolve abrir, ansiosa ela não polpa esforços ao rasga-lo, que logo revela um livro chamado "O poder da mente humana", ela fica surpresa mais uma vez ao olhar aquele livro, Adam tinha certeza que havia acertado no presente:

- Meus Deus, aonde conseguiu esse livro? Estava louca para ler ele, a obra prima de Kob Folem, obrigado filho! – E mais uma vez ela dá um abraço em Adam.

- Você não sabe o sacrifício que foi.

- Ele é ótimo, Kob sempre diz nos seus livros que, "Tudo sempre está ao seu alcance, cabe você plantar o bem mesmo no caos", costumo pensar assim, e você também deveria.

- É incrível mãe – diz Adam ao olhar rapidamente para sua mãe.

Em algumas poucas horas, o espaguete está pronto, e os pratos estão sobre a mesa de madeira um tanto rústicas, ao comerem, cada um percebem o rosto do outro simbolizando a qualidade e gosto do prato:

- Está muito bom filho – Dona Braden diz ao mastigar.

- Come primeiro mãe, depois fala – Adam diz de forma irônica.

O prato dos dois logo vão ficando vazios, o silêncio estava transitando por ali, podendo ouvir apenas o barulho do garfo ao bater no prato para pegar um pouco mais do macarrão, e a chuva caindo no telhado. Ao comer Dona Braden olha para Adam e fala:

- Obrigada filho, de verdade, a tempos que não me distraia assim.

- Ah, que nada mãe, estávamos precisando disso, e você mais ainda – Logo os dois param um pouco de comer.

- Logo você vai tomar conta da nossa farmácia, estou um pouco velha – Ela diz colocando a mão na coluna e dando uma risada.

- Você está maravilhosa mãe, nós vamos juntos tomar conta dessa farmácia assim que me livrar da faculdade – Adam diz e leva mais macarrão a sua boca.

- Sim, logo nós ... – Dona Braden para um pouco, coloca as mãos sobre a cabeça, e cai da cadeira.

-Mãe? – Adam rapidamente vai até o seu encontro.

- Acho que é a diabete de novo, não tomei a insulina hoje – Adam fica meio que sem saber o que fazer, mas logo pensa rápido, ele encosta a sua mãe sobre o armário da cozinha deixando-a sentada e vai a farmácia correndo.

Ao abrir a porta, ele vai até a prateleira do balcão aonde geralmente fica a insulina, seus olhos e mãos passam por todos os tipos de remédios possíveis:

- Droga não está aqui! – Adam não consegue encontrar, a insulina havia acabado, ainda nervoso ele pensa rapidamente e lembra do que estava fazendo em seu quarto, poderia ser a única saída.

Ainda correndo, Adam passa pela cozinha e vê sua mãe ainda piscando os olhos, abre a porta do quarto e encara aquele frasco com um liquido vermelho por alguns segundos, não demora muito, e pega um tubo de ensaio e coloca um pouco daquela substância que havia trabalhado por muito tempo. Ao chegar na cozinha, ele se aproxima de sua mãe colocando-a sobre ele, e na sua boca, ele derrama aquele suposto remédio.

Em segundos, sua mãe pisca o olho novamente, e dá um suspiro, ela abre os olhos normalmente e dá um pequeno sorriso, ao passar a mão no rosto do seu filho, diz:

- Filho, eu tenho orgulho de você...

- Mãe, não faz isso mãe, você vai ficar bem. – diz Adam chorando e olhando no fundo dos olhos de sua mãe.

- Eu me sinto bem filho... – Ela então tenta se levantar se apoiando na pia da cozinha, Adam levanta junto com ela, mais logo ela bate a mão na garrafa de Uísque que cai e se quebra no chão, e junto com a garrafa ela desaba também, rapidamente Adam a segura.

Com tosses fortes, sua boca começa a sair sangue, Adam novamente se senta no chão com ela e ao ver aquela reação ele se espanta, e desconformado a única coisa que ele faz é abraçar a sua mãe, que aos poucos fecha os olhos:

- Eu te amo filho... – ela sussurra sobre o seu ouvido e morre.

- Eu não sei, posso ter matado minha mãe naquele dia, o bendito antídoto, não estava pronto, era muito novo para saber que estava muito, muito longe dele ficar pronto, esse com certeza foi o dia mais triste da minha vida.


Bendito AntídotoOnde histórias criam vida. Descubra agora