O mundo não cansa de nos castigar. Mas, nós merecemos isso. Fizemos tudo que podíamos para matá-lo e conseguimos.
5:39 pm
Harper me deu a notícia que eu menos esperava. Não poder sair da colônia por tantos meses me desagradou e afetou meu psicológico, já fraco. Eu odeio estar aqui em baixo. Me sinto presa, como um caixão a sete palmos do chão. Mesmo que tenha tudo que preciso, não me sinto feliz aqui e talvez, nunca seja.
As pessoas do subsolo podem não ser tão agressivas quanto as da superfícies, mas são tóxicas. Sempre falam de você, mas não julgo, afinal é só o que podemos fazer aqui. Tudo que acontece, percorre por toda a colônia em poucos minutos. Todos sabem de tudo que fazemos, nada é segredo. Mesmo que você tente.
Quando Dylan e eu começamos a namorar, não tínhamos a intenção de espalhar a notícia. Afinal, ninguém precisava saber sobre a nossa vida. Mas, todos ficaram sabendo tão depressa que a Harper ficou chateada comigo por não ter contado a ela primeiro. Porém, essa era a grande questão, eu não tinha contado para ninguém. Talvez, alguém tivesse escutado quando Dylan me pediu em namoro no corredor dos nossos quartos. Mas, podíamos jurar que ninguém estava nele no momento.
Nessa altura do campeonato, todos já deviam saber no que eu tinha me metido, de novo. Provavelmente, estariam me julgando como sempre fazem. Mas, eu tento não ligar para isso enquanto estou na prisão. Com certeza, será pior quando voltar para o meu dormitório. Talvez, Victória queira mudar de quarto e não ficaria surpresa. Dormir do lado de alguém que tentou matar uma pessoa asfixiada com um travesseiro não deve ser agradável. Apesar de não controlar isso, entendo que ela sinta medo.
Antes de minha mãe ir embora, me ensinou uma coisa e me amaldiçoou com outra. Helena Sawyer, a louca. Era como chamavam a minha mãe, enquanto ela morava na colônia. Ela era linda, com seus olhos escuros, cabelos castanhos e sua pele que contrastava com as suas outras cores. Tão linda por fora, como por dentro. Mas, as pessoas conseguiram condená-la por seu único defeito.
Helena era um doce e ao mesmo tempo, uma bomba. A qualquer momento ela podia ter um surto de raiva e brigar com você. Um anjo que possuía TEI - Transtorno Explosivo Intermitente. Toda vez que tinha uma crise, se sentia extremamente culpada, afinal, ela não controlava isso. Mas, a culpa que carregava e o julgamento das pessoas, fizeram com que ela nos deixasse, indo embora há alguns anos, no mesmo dia em que tive minha primeira crise e quase matei uma pessoa que também preferiu ir embora do ao ficar na mesma colônia que eu.
Ficar sozinha comigo mesma será pior do que imagino. Meus pensamentos nunca me trazem momentos em que fiz algo certo ou boas lembranças. Sempre vejo o pior de mim em todos os momentos e as marcas no meu braço fazendo com que lembre das pessoas que me machucaram, talvez não fosse uma boa ideia, pois deveria ter uma marca sobre mim também.
Estar presa não altera nada em mim, pois sempre me senti assim. Ficar nessa cela, pequena, fria e escura por uma semana não é muito diferente de viver na colônia por anos.
UMA SEMANA DEPOIS
Harper veio me visitar todos os dias em que estive aqui. Stewart era chato, mas gostava dela. Ela me manteve ciente de tudo que estava acontecendo com todos, como Dylan, Thomas, Ryan, Allie, Ethel e meu pai, que não me visitou nenhuma vez. Não o julgo, ele deveria estar ocupado fazendo com que o conselho não quisesse a minha expulsão e preocupado por estar me tornando a minha mãe. Ele poderia estar certo, mesmo que eu possua apenas alguns traços de TEI, herdados pela Helena e não a síndrome em si.
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COLONY 339
Science FictionBlake Sawyer contou com a sorte de ser uma criança na época em que as colônias foram abertas para moradia. Com tantas catástrofes naturais e os mortos-vivos, ela precisa manter a colônia de seu pai segura ou fugir, enquanto conhece o misterioso Thom...