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— O que foi?Não gostou do vestido?—Kaya perguntou com um tom preocupado na voz.

Eu tinha me esquecido de a responder de tão perdida que estava em  pensamentos.

— Não,é lindo,obrigada.— falei com o maior entusiasmo que consegui e forcei um sorriso.

— Pode se virar?— Pedi e Kaya assentiu com a cabeça enquanto se virou para parede. Imaginei que tinha que me livrar do meu sutiã antes que ela vesse e começasse a fazer perguntas que eu não queria responder,então o coloquei em baixo do travesseiro.

— Pronto.— Disse por fim, e ela se virou e pegou o espartilho e delicadamente o colocou sobre o meu corpo e começou o ajustar. Pelo menos eu sabia que uma pessoa não consegue se vestir sozinha nesse século, seja lá qual ele for, a propósito isso estava na lista da próxima coisa que eu tinha que fazer.

— Que dia é hoje?— perguntei fingindo normalidade enquanto ela regulava o espartilho apertando e puxando as cordas e dando laços.

— 5 de janeiro.— Respondeu ela simplesmente. Fazia sentido, eu e Ethan comemoravamos um ano de namoro em 4 de janeiro, o que era pra ser ontem quando saímos e fomos assaltados.

— De que ano?— perguntei com um pouco de receio. A cada aperto ficava mais difícil de se respirar.

— 1560. Você está bem Vivian?— perguntou ela e parou de apertar o que fazia parecer que ela havia terminado,eu percebi que havia tom de preocupação em sua voz.

Além da falta de ar eu estava me sentindo tonta, como se estivesse tudo virando e minha vista começou a escurecer. Acho que estou desmaiando. Sempre sofri de pressão baixa, achei incrível que ela só tenha se manifestado agora.

— Não muito, estou com fome.— Confesso por fim e caio para trás me sentando na cama vendo apenas trechos tomados por uma imensa escuridão.

— Espere aí.— Respondeu ela e pude ouvir o eco de seus passos apressados andando por um tempo.

Como se eu pudesse ir para algum outro lugar.

Esperei Kaya o máximo que pude, mas levantei para terminar de vestir o vestido, minha visão não estava exatamente normal,mas dava pro gasto. Coloquei o que julgava ser uma saia para dar volume, e o vestido por cima. Deixei de fora uma ou duas peças que não sabia como usar,mas não fazia muita diferença.

Dei um suspiro de alívio quando Kaya entrou para dentro do quarto com uma bandeja de uvas, pão e água.

— Desculpe -me a demora, é domingo então não temos nenhum empregado.
— Ela me disse como se devesse alguma explicação, eu peguei a bandeja e a agradeci.

Me sentei novamente na ponta da cama e comecei a morder o pão, bem mais amargo nessa época, enquanto isso Kaya continuava a falar.

— Por ser domingo meu pai não encontrou nenhum médico ainda, então se você não se lembrou de nada pode ficar aqui até resolvermos isso.— Ela falava gentilmente enquanto eu comia igual a um cão faminto.

Bebi um pouco de água para me acalmar. Estava mais fácil respirar agora.

— Viv?— Perguntou ela ainda me olhando com aqueles olhos azuis cintilantes. Achei que ela estava esperando uma resposta.

— Ah sim, obrigada por me deixar ficar aqui.— Respondi não sabendo ao certo se era isso,confesso que fiquei meia desatenta assim que vi a comida. De qualquer forma,para onde eu iria?

Kaya sorriu e começou a andar para fora do quarto,achei que iria embora mas na porta ela se virou parecendo se recordar de algo.

— Tem mais uma coisa...— Ela disse virando-se e me encarando de novo com aqueles olhares penetrantes. Nunca quis tanto ter um olho azul.

— Sim?— perguntei colocando a bandeja ao lado,tinha acabado a última fatia.

— Quando meu pai saiu para procurar um médico disse que havia um homem perto do local onde você foi encontrada, parecia do mesmo jeito que você, desnorteado e disse que foi assaltado. Você acha que pode ter alguma relação?— Ela perguntou esperançosa.

Meu coração parou assim que ela começou a falar. Um homem, perto de onde eu fui encontrada, assaltado, era Ethan, tinha que ser.

De volta ao passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora