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Harold e eu caminhamos por mais alguns minutos até chegarmos próximos a um pequeno lago. Ele se sentou em um toco de madeira, pegou um graveto e começou a rabiscar distraidamente o chão de terra. Resolvi fazer o mesmo. Sentei-me ao seu lado e fiquei observando as figuras as quais desenhava. Ele desenhou simploriamente duas pessoas de mãos dadas, um sol sorrindo e um cachorro.

"Essas duas pessoas somos nós, Aza"- ele fez uma pausa enquanto olhava a mim e abria um sorriso que evidenciava sua covinha. - "Acho que uma das melhores coisas que já me aconteceu foi nossos pais serem amigos e terem nos apresentados"- ele limpou a garganta antes de continuar a dizer. – "Lembra quando eu tinha 6 anos e você, 5 e estávamos indo ao aniversário da Molly, e o seu pai falou: Harold, cuide bem da minha filha, hein?"

"Lembro!"- concordo abrindo um largo sorriso.

"Eu respondi para seu pai: pode deixar tio, eu vou cuidar dela, sim!"- soltamos uma risada sentindo um passageiro vento passar por nós, bagunçando nossos cabelos.–"Bom, essa é a promessa que faço agora a você: eu sempre irei te proteger, Aza!"- ouvimos passos.

"Que barulho é esse?" – disse me levantando bruscamente do toco de madeira.

Ouvimos passos, novamente.

"Deve ser a Bella ou o Lucca nos procurando..." – Harold murmurou, buscando-me tranqulizar. Ele bateu suas mãos umas nas outras antes de se pôr em pé e olhar o desenho que tinha feito pela última vez. Eu, entretanto, apenas colocava freneticamente meus fios de cabelo atrás da orelha.

"Ali"- uma voz desconhecida disse em meio aos barulhos externos das aves cantando, do rio correndo e das árvores chacoalhando-se. Meus olhos rapidamente encontraram a figura de dois homens encapuzados a alguns passos de Harry e, a uma distância maior, de mim.

"Aza, corre!" – Harry sussurrou e nós dois começamos a correr por entre as árvores, tentando chegar o mais depressa ao casarão onde estávamos nos hospedando durante aquele verão.

"Corre! Corre!" – os capangas disseram eufóricos e cansados.

Harold e eu continuávamos

a correr

...
a correr

...
a correr

...

Porém, chegou um instante em que comecei a sentir dificuldade de respirar e minhas pernas se tornaram pesadas demais para eu continuar a fugir.

Enquanto corríamos, tirávamos algumas folhas da nossa frente abrindo passagem. Em um dado momento, arrebatei minha mão em um tronco espinhoso de uma planta gerando-me além de dor, uma cicatriz.

"Calma, vai ficar tudo bem! Vamos sair dessa!"- Harold sussurrou cansado com seus cabelos soados e grudados em sua testa, com sua narina dilatada e com os seus lábios entreabertos.

Pela última vez, nossos olhares se encontraram e tudo ao nosso arredor parecia ter se silenciado. Mas apenas parecia. "Tudo vai ficar bem". Porque aquela frase me parecia ser verdade? Mas apenas parecia.

Naquela hora, nossos olhares já não se encontravam mais! Os homens haviam derrubado o frágil e pequeno corpo de Harold no chão e tirado um grito agudo de dor dos seus lábios!

Fiquei horrorizada ao vê-lo sendo abatido, fiquei sem reação! No entanto, ao invés de ajudá-lo a sair das garras daqueles rapazes, continue a correr! Continuei a correr enquanto sentia as lágrimas molharem minhas bochechas e embaçarem minha visão.

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