Acidentalmente Detentos

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"Numa ou noutra curva, o amor, aquele de verdade, encontrará você. No momento da sua maior distração, no segundo em que estiver com os olhos fechados, ao piscar."

Lavínia Lins

- Vocês terão que escrever uma redação de no mínimo sessenta linhas sobre a importância do esporte na vida das pessoas e terão que me entregar até o fim do dia. - Avisa o professor Tim Russ, encarando-nos daquele jeito ranzinza que me intimidava. Ele dá um soco no quadro, demonstrando que ainda estava furioso e eu acabo me encolhendo, assustada. - Somente assim vocês entenderam o mal que vocês causaram para o time de futebol americano.

- Mas sr. Russ, nós não... - Dallas tenta se justificar, mas é interrompido mais uma vez pelo professor de espanhol da escola.

- ¡Ya basta! - Grita o homem, batendo novamente na lousa. Chloe, uma das minhas colegas da aula de espanhol, havia me alertado de que o professor mais amargurado da escola sempre falava em sua língua materna quando estava furioso e a situação fica tão cômica que é difícil controlar o riso. E sinceramente, eu estava começando a entender o que ela quis dizer com isso. - ¡No quiero oír más excusas! 

- Mas professor, o que houve foi um mal-entendido. Nós... - Tento melhorar a situação, mas sou interrompida também.

¡Causaste el mayor desastre que pudo haber ocurrido! - Dramatiza o espanhol, andando de um lado para o outro. Dallas e eu nos encaramos e noto, que assim como eu, ele também segurava o riso. - ¡Oye! Presta atención a lo que estoy diciendo.

- Desculpa, sr. Russ. - Lamenta Dallas, engolindo em seco para não permitir que o riso escapasse de seus lábios.

- Estou de olho em vocês dois. - Resmunga o homem, fazendo o gesto com as mãos, enquanto seus olhos exibem toda a sua desconfiança. - Eu acho bom vocês fazerem essa redação e ficarem silêncio, porque se eu ouvir vocês falando pelo menos um "a" eu juro que vocês ficaram de detenção até o fim de suas vidas escolares ou eu não me chamo Timóteo Hernandez Guerrero Mendoza Russ.  

E novamente a vontade de rir se intensifica quando o professor se vira para pegar as folhas que usaríamos para fazer as redações e Dallas leva as mãos em direção ao rosto e mexe os indicadores, simulando o bigode ultrapassado com as pontas curvadas do espanhol. Levo a mão a boca e prendo a respiração para não acabar externando a minha risada.

Desconfiado, o professor se vira para nós novamente e rapidamente, Dallas leva as mãos a carteira, fingindo que não havia feito nada. O sr. Russ nos entrega as folhas e encara seu relógio de pulso e ao conferir as horas, aproxima-se da janela da sala, provavelmente tentando ver o campo de futebol da escola. Ele bufa, frustrado, e segue para a porta da sala.

- Eu vou assistir ao treino dos Bulldogs. Não ousem sair dessa sala sem me entregar a redação. E nada de conversas ou celulares!  - Avisa o professor, fazendo novamente o sinal de que estaria de olho em nós antes de sair.

Assim que ele fecha a porta, finalmente permito que o riso escape de meus lábios. Aquele professor era hilário. Ele não tinha mais do que um e cinquenta de altura, usava uma camisa social marrom estampada com flores na cor bege, calça social quadriculada também marrom, cinto e sapatos sociais pretos. O bigode curvado e os cabelos partido de lado para esconder os poucos cabelos do meio completavam o visual brega do professor, que descobri no primeiro dia de aula que é filho de uma espanhola e um americano, então tinha o nome semelhante a um texto. Sua personalidade estourada e o forte sotaque o tornava semelhante um pinscher. 

- Você é um idiota, Dallas! Eu quase ri na frente do professor. - Resmungo, limpando as lágrimas no canto dos meus olhos, depois de muitos minutos rindo.

Acidentalmente ApaixonadosOnde histórias criam vida. Descubra agora