Acidentalmente Competitivos

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ACIDENTALMENTE COMPETITIVOS

"O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem."

Antoine de Saint-Exupéry

Algumas coisas na vida acontecem sem que a gente tenha o controle. Pegar uma chuva intensa em um dia que estava programado para não chover, a menstruação descer antes do dia previsto, as fofocas que se espalham rapidamente por uma cidade pequena ou se tornar líder de torcida sem nem mesmo ter feito teste ou ter cogitado a ideia de se tornar uma.

Tudo bem. Esse não é exatamente o tipo de situação que acontece sem o nosso controle. Talvez eu pudesse ter me imposto melhor e evitado ter me envolvido com a equipe de líderes de torcida. No entanto, tudo aconteceu tão rápido que eu acabei me deixando levar. Eu ainda estava tentando me acostumar com o fato de que agora eu dou piruetas, canto gritos de guerra e balanço pompons como se isso não fosse ridículo.

Ainda que fosse uma simples competição entre Dallas e o idiota do Arnie Jasper, a capitã das líderes de torcida, Harper Roosevelt, acreditava que essa era uma boa oportunidade de treinar nossas habilidades. Por isso, com a minissaia azul escuro com uma lista branca na ponta, blusa regata na mesma cor com a sigla SEHS branca estampada, tênis branco, cabelos presos em um rabo de cavalo alto e pompons azul e branco em mãos, enquanto assistíamos o desenrolar do jogo, nós assumimos nossas posições ao lado do campo e iniciamos nossos gritos de guerra, incentivando-os a jogar.

Eu estava nervosa. Mesmo com o frio que fazia em Miami naquele momento, eu não parava de sentir minhas mãos suando. Ainda que eu não entendesse de futebol americano – na verdade, eu estava bem longe de descobrir como funciona esse esporte confuso -, eu não era idiota para não ver que Jasper estava com a vantagem e tinha escolhido os jogadores mais experientes para compor seu time.

Não que eu não confiasse nas habilidades de Dallas. Mesmo sem nunca o ter visto jogar, eu sabia que ele era bom. O sr. Russ jamais teria insistindo tanto que Dallas entrasse para o time se não tivesse certeza de que ele poderia ser a salvação dos Bulldogs. No entanto, apenas Dallas jogando bem não seria o bastante para vencer o time de Jasper.

- Cassidy? – O chamado de Kimi me faz desviar o olhar do campo de futebol para encarar a garota. – Está tudo bem?

- Sim. Eu só... – Ouço os gritos da torcida na arquibancada. Sempre havia pessoas para acompanhar os treinos dos Bulldogs, mas quando a notícia de que haveria uma partida apostada entre Dallas e Jasper, a maior parte da escola apareceu para assistir. Noto Dallas no chão, tentando se levantar, provavelmente vítima de alguma jogada brutal de Jasper, que se afastava aos risos. – Droga! Vai Dallas! Eu sei que você consegue!

Suspiro, apertando os punhos em aflição. Assisto Dallas voltar a correr pelo campo, orientando seu time com maestria. Em algum momento, Chuck Neville, que estava no time de Dallas, consegue pegar a bola e sai correndo pelo campo até passar para o capitão, que desvia de cinco jogadores de Jasper até chegar até a endzone marcando um touchdown.

- Isso! – Grito, animada. Viro-me para Kimi, abraçando-a, completamente envolvida pelo momento de felicidade. – Ele marcou, Kimi!

- Sim. Ele marcou. – Concorda a garota, rindo de minha reação exagerada. Nesse momento, noto que eu estava animada demais e que estava balançando Kimi com demasiada força.

- Desculpa, Kimi. – Lamento, soltando a presidente do grêmio estudantil da escola. Kimi ri discreta mais uma vez e voltamos a encarar o campo de futebol. – Eu só estou um pouco nervosa.

- Está tudo bem, Cassidy. – Garante Kimi, dando um doce sorriso.

Assinto e voltamos a ficar em silêncio, enquanto as outras líderes de torcida gritavam acompanhadas dos alunos que assistiam eufóricos a partida acirrada. Sinto o olhar observador de Kimi sobre mim. Eu podia ver que ela queria me perguntar alguma coisa, mas estava hesitante.

Acidentalmente ApaixonadosOnde histórias criam vida. Descubra agora